domingo, 20 de dezembro de 2009

Férias enfim!!!

Uma semana depois de todo mundo, os músicos da Jazz Ensemble finalmente tiveram suas férias! A "culpa" foi da turnê tardia que fizemos essa semana. A JE foi selecionada pra tocar na Midwest Clinic, um dos maiores congressos em educação musical relacionada a bandas e grupos musicais de universidades e escolas. Nesse meio o professor Carter é semideus, então pra ele foi realmente um "big deal".

Pra mim essa turnê teve altos e baixos. Na terça, quando fomos fazer uma clínica e tocar numa big band, eu estava bem doente. Eu havia tomado a vacina contra a gripe suína no dia anterior e tive uma reação colateral muito forte. Fiquei enjoadíssimo o dia todo, com dor de barriga, febre e dor no corpo. No fim, me perguntei se a gripe suína seria pior do que o estava passando. Duvido. Quando chegamos de volta ainda tive que andar uns quarteirões até minha casa e realmente não recomendo caminhar por aí com febre a uma temperatura de -15C.

Quarta também foi dia de "baixos". Achei o congresso todo uma chatice e não entendi bem por que estava ali, já que só tocaríamos na quinta. A parte boa foi que ficamos hospedados num ótimo hotel em Chicago, o Hyatt, bem no centro da cidade. Foi um plus muito bem vindo ganhar essa hospedagem, coisa que não seria provável, já que Dekalb não fica muito longe. A idéia por trás foi justamente nos disponibilizar um acesso full time ao evento. Na quarta nós tocamos no Jazz Showcase, que é uma das casas de jazz mais importantes em Chicago. De novo um "baixo". Ron Carter interpretou mal algo que eu disse e o clima ficou bem pesado. Quando se toca na ferida dele, ou melhor quando ele sente a sua autoridade desafiada, sai de baixo... Como eu disse, fui mal interpretado, mas com ele é melhor ficar quieto pra não piorar as coisas. Isso fez com eu tocasse a segunda parte sem o menor entusiasmo.

O "alto" foi a Big Band da "Warren Township High School" que abriu pra gente. A big band, que também foi selecionada pra tocar no congresso, quebrou tudo. Dinâmica, swing, linguagem, tudo perfeito. Dois dos saxofonistas são muito bons e um deles botou o Jazz Showcase abaixo. O moleque é impressionante e todo mundo saiu falando que ele toca melhor que os saxofonistas da JE. Chegamos no hotel quase meia-noite e ainda saímos andando pelas ruas da cidade pra achar algo pra comer. Achamos um lugar ainda aberto na Wabash Ave. que nos serviu comida ótima e relativamente barata pra Chicago (em torno de U$10.oo). Não, não é perigoso andar pelas ruas do centro de Chicago de madrugada.

Quinta foi nosso grande dia no congresso. Fomos lá de manhã pra assistir a um outro show e eu tive que voltar pra comprar uma camisa branca, já que não fui avisado que esse seria o uniforme pro show. Fiquei meio puto, mas no fim foi ótimo porque acabei passeando mais uma vez pelo centro de Chicago e descobri um restaurante maravilhoso chamado Italian Village. Eu vi o nome de longe e algo me disse que tinha que almoçar lá. Chegando lá um cartaz dizia "o primeiro restaurante italiano de Chicago". O lugar, uma espécie de cantina, tem de fato um glamour incrível e passa a sensação de tradição mesmo. Tinha fila de espera mas consegui um lugar espremido no balcão. O garçom, um velhinho muito simpático, que, suponho eu, trabalha lá já há muitos anos, chamava vários clientes pelo nome. Pedi uma lasanha e sem resistir ao astral do lugar, acabei tomando uma taça de vinho.

Mas o dever me chamava e corri pra pegar o fretado de volta para o McCormick Center. Tudo lá foi extremamente organizado e o som estava perfeito. O salão que devia ter lugar pra umas 1.000 pessoas ou mais, estava lotado e tivemos a honra de ter como ouvinte, bem na primeira fila, Ellis Marsalis, grande músico e educador, além de portador de um DNA privilegiado, que gerou quatro extraordinários músicos, entre eles Branford e Winton Marsalis. Fizemos talvez o nosso melhor show. A banda fez juz a fama "swingar forte", mesmo sem ter uma grande seção de saxofones. O clima ruim do dia anterior se dissipou por completo e no fim fomos embora com a sensação de que todo o nosso esforço não tinha sido em vão.

A JE ficaria em Chicago até o dia seguinte mas eu precisei voltar mais cedo por causa das minhas aulas em Oaklawn. Não foi sem tristeza que vim embora. O tempo em Chicago estava até bom e não vi neve em lugar nenhum. Em Dekalb - já vazia por causa das férias - a neve acumula e o cenário que encontraria aqui não me animava a voltar.

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Escrevo meu último post do ano em quarto novo. Allison se mudou e eu vim pro quarto dela, que é um pouco maior e tem vista pra rua. De lambuja ainda fiquei com alguns móveis dela e agora tenho um quarto bem mais aconchegante. Jamie, Erik, Ramon e Tera também se mudaram. Coincidentemente o único que ficou da panela foi o Lewis, que ao menos sorri pra mim. Confesso que estou aliviado. De uma maneira geral, esse inverno não chegou pra mim sombrio como o ano passado. Agora minha vida aqui é bem diferente. Tenho carro, estou trabalhando, tocando e dando aula e aos poucos começo a ter meus amigos também.

Agora vou fechar pra balanço. Daqui algumas horas minha noiva Daniela está chegando por aqui. As saudades são muitas pra matar. Tem muitas coisas e lugares que quero mostrar pra ela.

Agradeço a todos que vem acompanhado minhas histórias. É bom ter os amigos por perto, ainda que de maneira virtual. Desejo a todos um ótimo Natal e um excelente 2010!



Com o grande Ellis Marsalis depois do show

sábado, 12 de dezembro de 2009

Multas ao sabor da Brahma!!!




To aqui em Dekalb, acredite se quiser, saboreando uma Brahma. Já tomei umas par delas enquanto conversava com meu velho amigo de infância, Rafaelo Galvão, que também mora nos EUA. Não nos vemos há muitos anos e ficamos muito tempo sem nos falar, mas como costuma ser com verdadeiros amigos, parece que foi semana passada que nos vimos.

Quanto à Brahma, estou um dia numa liquor store a procura de uma cerveja diferente - e uma coisa legal aqui é que a variedade de cervejas é enorme e algumas lojas mesmo tem as cervejas agrupadas por países - bom, mas de repente me deparo com um 6-pack da Brahma! Foi uma surpresa porque nunca tinha visto cerveja brasileira aqui. Acabei não comprando no dia, mas hoje me deu saudades do Brasil e vontade de beber e mesmo achando que as 6 long necks da Brahma não valem U$7.99, acabei comprando assim mesmo.

O que me motivou a escrever foi a multa que quase tomei. Pela vigésima sétima vez fui parado pela polícia (pull over, como se diz aqui), que como já disse uma vez, não tem muito o que fazer por aqui, então acaba enchendo o saco da gente. Eles chegam muito educados pra gente "boa noite senhor, você sabe porque estou te parando?". Não sabia, quer dizer, achei que era por causa do celular, o que é permitido em algumas cidades mas em outras não (tinha ido tocar num subúrbio de Chicago), mas foi porque "o senhor estava a 66 milhas/hora, é o limite e 55". Cara, juro por Deus, tinha um monte de neguinho dirigindo mais rápido que eu. Bom, ai joguei aquela conversinha, "olha senhor, eu sou músico, estava trabalhando, não conheço bem essa região, achei que o limite fosse 65, etc. Ai ele disse: você é músico? estuda na NIU? sim. Toca na Jazz Ensemble com Ron Carter? Sim! Dai ele disse: "Eu também fui pra NIU, e tocava bateria na Jazz Ensemble". O quê????!!! Bom, o final da história você já sabe, conversa vai, conversa vem, e por algum milagre do destino me livrei de mais uma multa. Olha, outra dessas só daqui a 100 anos.

Aqui nos EUA tem uma coisa interessante para os bebuns que é a seguinte, você só pode ser parado pela polícia se tiver cometido alguma infração. Eles não podem escolher aleatoriamente como fazem no Brasil. Claro que qualquer coisa é motivo. O sinal dePARE aqui é pare mesmo, 100%, não vale aquela migueladinha que a gente dá no Brasil. Eu já fui seguido por polícia várias vezes, geralmente saindo de bar (mas nem sempre) eles te seguem esperando você dar um vacilo pra que eles possam te parar e fazer o bafômetro. Todos os policiais aqui tem um computador de bordo no carro, onde eles podem acessar as informações dos carros e bafômetro, pra pegar estudante bêbado. Não que nem em Campinas, tipo 2 bafômetros pra cidade inteira!

Eu estou falando de multa porque disso eu entendo tá!!!! Minha primeira multa aqui foi, claro, em Dekalb, por excesso de velocidade, ($75.00). 40 milhas (64km) onde o limite era 30 (58km). Em carro com câmbio automático, numa pista que o trânsito está andando, 30 não é nada e 40 chega fácil, fácil. O guarda foi tão educado que quase falei "obrigado moço!".

A segunda foi em Chicago "furando o sinal vermelho" (U$100.00). Aqui você pode furar o sinal vermelho pra converter à direita, EXCETO quando tem uma placa dizendo que ali não pode! Puta sacanagem, 1:30h da manhã, vindo embora de Chicago, quem é que vê placa gente??? Mas o pior estava por vir. Estou eu vindo cansando do Wisconsin, onde dou aula, tendo que dirigir quase 1:30h pra chegar em casa, brasileiro como sou, nunca dei muita atenção para os aviso de WORK ZONE, FINES DOUBLE IN WORK ZONE, $375 MINIMUM. Pois, me f*$#&¨@*(&#. Na work zone, que é o trecho em obras, o limite é 45 milhas por hora (72km), quando o normal é 65 (105). Não teve choro nem vela. O camarada, checou meu histórico em alguns minutos, apreendeu minha carta e me mandou pro juiz. Sim, o idiota aqui foi pra corte.

A corte foi marcada, ironia do destino, para o mesmo dia da minha viagem ao Brasil, em junho. Consegui antecipá-la para dois dias antes. Fala sério, euzinho da silva aqui indo pro tribunal???? O paisinho lazarento! Bom, lá você imagina né, um monte de mexicano e um povo super esquisito. Tem até intérprete pra espanhol! Antes de me dirigir ao juíz o promotor me chamou e disse: "olha, nós vamos te oferecer 'court supervision' + $675 de multa". Quanto????? 675?? Tá louco??? O mínimo não é $375??? "É meu jovem, mas o máximo é 1000!!"

Seguindo o conselho do advogado da NIU, pedi o adiamento pra quando eu voltasse do Brasil. Mas não teve escapatória. Chegando aqui de volta, apelei para a sensibilidade feminina de uma juíza que estava lá e de lambuja levei $100 de desconto, tendo ainda que pagar $575. Mas tudo bem, porque eles parcelam em 10x sem juros. Tá óooootimo. E tudo mês lá vai um chequinho de $50 para o Detran de Rockfork. Oh raiva!!! Jurei pra mim mesmo que nunca mais tomaria multas aqui nesse país maldito. Mas minha promessa foi quebrada em uma semana...

Dia desses fui pra Chicago fazer uma gigizinha de $65.00. Faz as contas: 15 de gás e pedágio + 10 de cerveja + 10 de rang0 + 100 de multa = -70. Pô, ser músico dá prejuízo! Essa multa é engraçada, vocês podem vê-la no vídeo da prefeitura de Chicago. Bom, eu nem sei se posso divulgar isso mas aí vai, entre no site:

http://egov.cityofchicago.org/revenue/

Clique no quadrado vermelho à direita que diz "View your red-light violation video".

Depois que entrar lá preencha:

Citation number: 7002187011
License plate number: A550183

O tonto aqui é o terceiro carro que passa, logo atrás de uma camionete. Dá até pra ver o flash da foto.

Aprendi que nesse país a lei é pra valer. Por mais que tenha ficado puto com as multas que tomei e acho de certa forma há um certo exagero e mesmo um "indústria de multas" também, por outro também noto como são menos frequentes aqui os acidentes de trânsito. Nas minhas idas ao Wisconsin, nunca vi um acidente grave sequer. Parece que a lei acaba surtindo efeito. Percebo claramente isso nos meus amigos aqui que realmente evitam a todo custo dirigir e beber. Aqui DUI (driving under influence) é coisa muito sério mesmo, e ninguém quer isso no currículo.

Peace!




A garrafa é mais engraçadinha

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Liberace na mansão do governador




A Liberace é o principal combo da NIU. Os integrantes são em geral os melhores músicos da universidade e recebem uma assistantship da fundação Liberace, que até hoje não descobri o que é. Eu estava na expectativa se faria parte do grupo ou não porque professor Carter já havia me dito que a fundação havia cortado boa parte dos fundos devido a essa crise na economia, e que ainda não tinham a verba para me colocar no grupo. Mas na primeira semana de aula, ele cruzou comigo no corredor da universidade e disse que havia conseguiu a verba pra eu fazer parte do grupo.

O único remanescente da formação anterior é o trombonista Shawn Bell, uma espécie de braço direito de Carter. Ele é o tipo de cara que tem tudo pra ser chato, todo certinho, daqueles que nunca atrasam, tira 10 em todas as matérias e SEMPRE faz o que lhe é atribuído da melhor maneira possível e dentro do prazo. Mas Shawn não tem nada de chato, é super gente fina e ainda toca muito, além de ser um grande arranjador.

Dois músicos vieram da Michigan State University, que tem um programa de jazz conceituadíssimo, o baixista Nathan Brown e o trompetista e pianista Ross Margitza. Nate tem um som de baixo gigantesco que faz jus ao seu professor na MSU, o renomado Rodney Whitaker. Ele é o tipo de figura que só aqui nos EUA mesmo: sem malícia nenhuma, leva ao tudo ao pé da letra, leva meia hora pra falar qualquer coisa e fala tudo nos mínimos detalhes. Um adolescentezão. É como eu achei que seria o Shawn!! Eu cheguei mesmo a duvidar do seu QI, mas nas horas em que fomos conversando na nossa viagem pra Springfield, Nate se revelou bastante inteligente e informado.

Ross é um daqueles caras que a gente fica pensando, "só pode ser um gênio". Ele tem 21 um anos mas parece bem mais velho, fisicamente falando e também devido à sua maturidade, musical e pessoal. Quando ele chegou aqui e pegou no trumpete na primeira canja tudo mundo ficou de boca aberta com a sua musicalidade e seus solos belíssimos, cheios de melodia, blues e swing. Como se não bastasse, na segunda música ele sentou no piano e repetiu o feito. Difícil acreditar.

O grupo fecha com o saxofonista Brian Fritz, o único estudante de graduação do grupo e o baterista que veio da Carolina do Sul, Xavier Breaker. Xavier, que aqui se pronuncia Ex-Zeivier (afff..), é o único afro-americano do grupo e outro que deixa todo mundo de boca aberta. O menino, que é também um doce de pessoa, esbanja musicalidade e pela primeira vez na vida eu consegui ouvir num solo de bateria não só melodia, mas também harmonia! Eu sei que parece absurdo, mas é exatamente o que eu ouço quando ele toca.

A Liberace tem entre as suas atribuições dois ensaios semanais de duas horas supervisionados pelo professor Carter e a administração dos demais combos da universidade, lecionando e organizando tudo. Além disso participamos de muitos eventos aqui na universidade, acompanhando os artistas visitantes e tocando aqui e ali. Boa parte das gigs são pagas, como foi essa última, uma performance na mansão do governador de Illinois em Springfield, 3 horas sul de Dekalb.

Como eles queriam um trio, fomos só eu Nathan e Xavier. Em eventos desse tipo a universidade cede uma van (sem motorista!) e cobre as despesas da viagem. Além de disso recebemos um ótimo cachê (meu melhor até agora!). Não entendi muito bem o que foi o evento, mas foi tipo um cocktail oferecido pela NIU para alguns de seus colaboradores. E não, o governador não estava lá! Que desfeita!! Aliás o governador atual, Pat Quinn assumiu após o impeachment do anterior, Rod Blagojevich, que é a cara do Nista, da banda Som Especial!! Na época do escândalo, mais ou menos há um ano atrás, aparecia a foto do bendito todo dia no jornal, e cada dia que passava eu achava os dois ainda mais parecidos!! O Nista, manda uma foto ai vai!

Springfield, pelo pouco que consegui ver, parece um brinco de cidade. Tudo bonitinho, organizado, limpinho, etc. Não sei como é para os americanos, mas pra mim é um troço tão diferente do que se tem no Brasil que não deixo de ficar meio deslumbrado. Acho que eles sentem o mesmo quando se deparam com a "bagunça" despojada da América Latina!



Aerogeradores para energia eólica no começo da viagem. Nunca tinha visto ao vivo :)


Parece aqueles imagens da bíblia. Fiquei esperando pra ver se via algum anjo!!


Chegando em Springfield


Centro da cidade


A mansão do governador


Cadê o governador? Não vem falar comigo não?


Olha o trio aí


Saindo de Springfield