sábado, 24 de janeiro de 2009

Dekalb News 3 - Chicago, the windy city

8 de Setembro de 2008

Na minha primeira sexta-feira aqui nos EUA fui com o Pete em Chicago buscar a Catina no aeroporto. DeKalb fica a 60 milhas (100km) de Chicago e as estradas são ótimas e com pedágios bem mais baratos do que em São Paulo. A diferença é, que ao contrário do eu esperava, não existe no caminho aquele conglomerado urbano como há entre Campinas – São Paulo. Aqui só tem plantação de milho. Aliás aqui se come milho de todo jeito, até frito. E tem o tal do corn dog, que eu vi aqui na Corn Fest, mas não tive coragem de encarar, preocupado com o excesso de calorias.

Depois que pegamos a Catina, já no comecinho da noite, fomos em direção ao centro de Chicago. Estacionamos o carro (U$15,00) e fomos andando em direção a um bar onde estaria tocando o brasileiro Sérgio Pires, já há 17 anos em Chicago. Eu adoro viajar e sempre fico eufórico quando conheço novos lugares. Assim foi em Maceió, Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Manaus, Belo Horizonte, Brasília e até mesmo Londrina, cidade limpa e bonita. Mas nada se comparou ao que senti quando comecei a andar pela Hubbard St. Tive taquicardia!! A rua abarrotada de transeuntes, gente bonita e bem vestida jantando em mesas a beira da calcada, muitos turistas, prédio gigantescos e reluzentes, de tirar o fôlego mesmo. E o melhor de tudo, um clima leve, ninguém com medo, todo mundo feliz com o tempo primoroso no fim de semana, antes do inverno chegar. Eu definitivamente sou uma pessoa urbana. Gosto de gente, museu, prédio, cinema, música, praça, barzinho, etc; mas inseto eu não gosto não! Dos lugares que morei em Campinas, o meu preferido foi o último, ali na 14 de Dezembro esquina com a Sacramento, bem no coração da cidade!

Bom, mas voltando a Chicago. Ainda na Hubbard St, cruzamos pelo Andy’s, um jazz club e fui checar quem iria tocar. Ninguém menos que Melvin Rhine, um organista importante, e que gravou em 1959, um dos primeiros discos do Wes Montgomery, meu guitarrista de jazz favorito. Depois de darmos um pulo no bar onde estava o Sérgio, voltamos pro Andy’s correndo pra não perder o começo do show. A casa tava cheia e dividimos a mesa com uma família italiana. Pagamos U$15,00 de couvert, que aqui é sempre em cash e adiantado. O palco fica bem no centro do bar, que é bem grande pra um bar de jazz. Não sei precisar, mas deviam ter umas 200 pessoas por lá. Apesar do atendimento prosseguir normalmente, a música era a grande atração e o volume do som não permitia mesmo muita conversa. Mas quem precisa de palavras com um som desses rolando. O trio quebrou tudo e o velhinho, com 72 anos, mostrou que ainda está em plena forma. Conseguimos conversar um pouco com ele e até tiramos umas fotos.

Chicago é a terceira maior cidade dos EUA (depois de New York e Los Angeles) e fica à beira do Lago Michigan . É carinhosamente chamada de windy city, mas o vento, que logo vai começar a soprar lá do norte, não tem nada de carinhoso e eu já estou na contagem regressiva esperando por ele. Hoje aqui, que ainda é verão, teve máxima de 17C e a mínima deve girar em torno dos 8C (11C agora). Chicago também foi o destino da primeira migração do jazz, que nos anos 20 saiu de New Orleans e se dirigiu pra cá, antes de seguir definitivamente pra Nova Iorque. Mas a cidade ainda respira jazz e creio que todas as formas de artes. Na semana seguinte ao show do Melvin, aconteceu o 30th Chicago Jazz Festival (bem melhor que o Corn Fest de DeKalb), que entre outras atrações, contou com a presença de Sonny Rollins e Ornette Coleman, seguramente dois dos mais importantes músicos do gênero. Não pude ver o show deles, mas os que vi na sexta e sábado foram o suficiente. Dava gosto ver dezenas de milhares de pessoas reunidas pra ver boa música (e o povo escutava mesmo, ate as atrações mais esquisitas como algumas de jazz contemporâneo!). Famílias inteiras reunidas na grama, gente de todas as idades, velhos, crianças, etc. Foi um espetáculo. Foi bom ver Chicago a luz do dia também, e eu tenho que ser honesto, não sabia se prestava atenção na música ou na cidade.


Canja com Catina no bar que Sérgio Pires estava tocando


Ao lado do grande Melvin Rhine

Cena cotidiana no centro de Chicago

Pose na ponte


Centro de Chicago

Criançada brincando na água

30th Chicago Jazz Festival


À beira do lago Michigan


Entardecer em Chicago

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Obama e Lost na TV!

Essa semana duas coisas totalmente distintas me fizeram assistir televisão: a posse de Obama e a estréia da quinta temporada de Lost. Me lembro como se fosse hoje do dia em que Bruno Coppini virou pra mim, respondendo à minha pergunta se valia a pena assistir Lost: "Meu, assiste só o primeiro episódio, e veja o que acontece!" Pois aconteceu o que eu temia, que ele já previra, virei um adicto!

A essas alturas Lost já estava na terceira temporada. Eu em menos de três meses alcancei a série e comecei a fazer o download dos episódios (coisa feia...) num blog que os posta, já legendados, algumas horas depois de passar aqui nos EUA. Bom, agora não preciso mais disso, hehehe. Acabei de ver ao vivo a estréia da nova temporada, dessa vez sem legendas, e embora sempre perca uma palavra outra, ta valendo! Olha, eu realmente recomendo. A primeira temporada de Lost foi uma das melhores coisas que já vi na televisão, e embora a segunda e terceira tenham perdido um pouco a direção, a quarta retomou a energia da primeira e a quinta promete!

Mas agora vamos falar de coisa séria. Ontem Obama assumiu a presidência e muita gente se emocionou. Dois dos meus roommates foram a Washinghton D.C. assistir a posse e a comunidade afro-americana está realmente esfuziada com o acontecimento. Eu já dei minha opinião a respeito numa das news passadas (que será postada aqui mais adiante) então vou ser breve. A primeira coisa boa não tem a ver com a chegada do Obama, mas sim com a saída do lunático do Bush, talvez o pior presidente da história dos EUA. Não conheci ninguém que tenha gostado da sua administração.

Quanto a Obama, eu confesso ter uma expectativa muito positiva a respeito, mas independentemente do que vier acontecer, nada vai apagar o simbolismo dos EUA terem pela primeira vez na história um presidente negro. Isso é um feito notável, que muitos duvidavam que fosse acontecer tão cedo num país que há poucas décadas reservava os últimos acentos dos ônibus para as pessoas de cor.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Universidade "pública" e as fees

Essa segunda news também carece uma revisãozinha. Quando eu chamei atenção à presença de negros na universidade me faltou uma visão macro da coisa, porque depois eu comentei isso com alguns amigos aqui e eles me abriram os olhos pro fato de que a NIU é uma universidade pública e por isso bem barata, e é essa a razão da presença considerável de negros por aqui. Se você vai pra uma universidade privada e mais conceituada, a história é outra.

Aqui, as universidades públicas são pagas. Além das tuitions que é tipo a "mensalidade", que giram em torno de U$5000,00 por semestre, ainda tem as fees, que são as taxas. E dá-lhe fee! Você tem que pagar as fees do recreation center (academia), mesmo que não use. Se quiser armário tem pagar, pra estacionar no campus se você não tem autorização, tem pagar, a vacina que tive que tomar, paguei e por aí vai. Nos EUA tudo é dinheiro. Uma Unicamp da vida, com tudo de graça e comida subsidiada é um sonho pra eles aqui e quando eu conto ninguém acredita. Por outro lado, Unicamp é pra poucos. Já a educação fundamental aqui é bem diferente. Todas as crianças são OBRIGADAS a ir pra escola, que por sua vez é gratuita. O governo fornece o transporte também. Bom, me parece um sistema bem justo.

Dekalb News 2 - DeKalb City

29 de agosto de 2008

DeKalb é uma cidade bem pequena, com cerca de 40 mil habitantes. Só na universidade estudam cerca de 20.000 pessoas, mas acho que isso não conta no censo. Aqui foi inventado o arame farpado (kkkkk), nasceu a Cindy Crawford e tem a NIU e... só! As ruas são muito largas e as casas são enormes, todas sem muro e com os jardins bem cuidados. Tem esquilos por todo lado e se você não tomar cuidado é capaz de pisar em um deles. É um cenário muito, muito bonito, pelo menos enquanto a neve não chega. É incrível, eu nunca tinha percebido a poluição visual que são os muros...

Violência aqui é coisa rara, e quando alguém vai preso por porte de droga ou é assaltado, sai no jornal local. Aliás tem uma página de ocorrência policial em um dos jornais e as notícias são algo como “Jorge Fernadez preso por dirigir sem licença”; “Pablo Enriquez preso por agredir a mulher”. Claro, sempre os latinos... Sim, aqui tem bastante latino também, a maioria mexicano, embora nada comparado a Miami. A comida mexicana aqui é bem popular e existem vários restaurantes típicos, além de um mercadinho onde tomei picolé de tamarindo e uma padaria (a única?), de longe as melhores groceries do pedaço. Na universidade vê-se também um bom numero de asiáticos, especialmente indianos e muitos negros, digo, afro-americanos. Apesar do preconceito que existe no país, definitivamente os afro-americanos aqui dividem o espaço com os brancos, basta ver o grande número que tem na universidade, nos pubs e nos supermercados.

Apesar de pequena, a cidade tem um trânsito considerável e algumas megastores, como o Wall Mart. Bom, mas aqui todo mundo tem carro e eu já vi vários anúncios de carros por 1000 dólares e até menos. Transporte público praticamente não existe, exceto as linhas fornecidas pela própria universidade, que são extremamente pontuais, diga-se de passagem. Mas se você quiser ir pra outra cidade, mesmo Chicago, não é nada fácil.

A minha casa tem 7 quartos e três andares, além do basement (porão). Ali ficam a máquina de lavar e a secadora, que funcionam a base de moeda. O porão é usado pelos rapazes pra jogar beer pong, um jogo famoso aqui na NIU onde no fim todos acabam fatalmente bêbados. Ainda não joguei o trem, mas acabei bêbado mesmo assim! Ah,uma garrafa de Jack Daniels aqui custa só US$17,00! No terceiro andar fica o attic (sotão), que está funcionando como uma sala de estar. Os caras trouxeram uma TV gigante pra colocar lá e não sei como eles conseguiram, porque os degraus que levam ate lá são minúsculos. Na casa temos internet sem fio ultra rápida (10MB), TV a cabo em todos os quartos e ar condicionado e aquecimento central. É meio velha, como todas as casas por aqui, toda de madeira, e range bastante; mas pra mim foi uma sorte porque a maioria das casas tem carpete, o que não é nada bom o pra quem tem rinite alérgica.

Falando em bebida, se tem uma coisa que americano não faz de jeito nenhum é beber e dirigir. As punições aqui são severas e a polícia, que está em toda parte, e sem nada pra fazer, porque aqui (em DeKalb) não tem bandido mesmo, fiscaliza pra valer. Menor de 21 anos jamais pode estar em um lugar onde tem bebida, nem se ela estiver fechada! Se você estiver no carro, por exemplo, com uma cerveja fechada, e um menor estiver junto, você pode ter problemas com a polícia. Aliás dentro do carro também não pode ter ninguém bebendo. A polícia aqui usa aqueles chapéus grandes e ridículos, que nem no seriado Chips! Eu queria tirar uma foto com eles mas fiquei com medo de ir preso. Sei lá, esse povo é meio doido! Mas acabei conseguindo tirar uma meio escondido. Estou mandando uma com o esquilo também. Ele ta pequeninho mas da pra ver. Foram fotos tiradas com o celular, por isso a qualidade deixa a desejar.

Na Corn Fest (festa do milho kkkkk) que aconteceu aqui semana passada, a parte que vendia bebida era separada do resto da festa, e pra entrar tem que mostrar identidade. Aliás chega a ser gozado eu ter que mostrar identidade provar que tenho mais de 21, mas tenho mesmo, porque a lei é seguida de uma maneira quase cega. Fico até me sentindo jovem.

Augusta Ave. (não confundir com a homônima na capital paulista!)


Entrando na Augusta Ave.


Minha casa




Olha os "Chips" lá atrás. A Camila foi só um "pretexto". Agora sai da frente!


Olha a figura ai!



Olha o camarada fazendo pose!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fucking cold!

Às vezes eu fico realmente impressionado com a previsão do tempo. Eu nunca liguei muito pra isso, e achava que era mania de americano. Não acho mais, e quando o Chicago Tribune a primeira coisa que faço é olhar a previsão do tempo. Sim, hoje está sendo o dia mais frio dos últimos 12 anos. Isso foi previsto há cinco dias e... bingo, na mosca! Agora temos aqui nada menos que -29C. A máxima foi, sei lá, -24C. Pra sair de casa não basta vestir um mega casaco de frio. Tem que botar o cachecol no rosto e deixar quase nada a vista, a não ser os próprios olhos mesmo. É difícil até pra respirar. As aulas na NIU foram canceladas hoje a partir das 6pm. Dizem que depois de uma certa temperatura fica arriscado a respiração e a recomendação é que você fique em casa mesmo.

Ontem resolvi arriscar. Precisa passar lá no "Detran" e fazer um pitstop na biblioteca e falei, "ah, vou andando mesmo, é rapidinho". Estava tipo -17C, -18C e lá vou eu caminhando, tal qual um esquimó. Olha, sinceramente não recomendo. No fim andei bem mais do que estava calculando, talvez uma meia hora. Comecei a sentir meus olhos meio inchados, minha bochecha queimando e comecei a me sentir meio estranho, parecia que ia cair. O trem não é bonito não! Me lembro bem nos primeiros dias aqui, eu falando pras pessoas que nunca tinha visto neve, e todos dizendo, "você vai ver muuuita neve!" Outra frase que sempre ouvi, principalmente dos meus roommates é o tal do "fucking cold", "it's gonna be fucking cold, man". Pois...

Mas não se apavorem, porque isso é só na rua. Dentro de casa e nos lugares todos, você mal nota o frio. Ontem na jam session no Java, um café aqui em DeKalb, eu senti calor. É até engraçado, você dentro do lugar quentinho e tal, daí olha pra fora na rua o povo andando rápido, todo encolhido de frio, com aquela cara de desespero!!

Aproveitando pra uma divulgação rápida. Na revista Guitar Player desse mês (janeiro), saiu uma reportagem sobre o meu disco. Você encontra a revista em (quase) qualquer banca, então quem quiser, está ai!

Revista Guitar Player de janeiro

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Volta às aulas

Hoje começam as aulas na NIU. É o semestre chamado de "Spring", embora a primavera esteja bem longe e a previsão do tempo anuncia a próxima quinta como potencialmente o dia mais frio desde de 1996, com máxima de -15C, mínima de -25C, e sensação térmica que pode chegar a -35. Pra que isso minha gente??!! Quero minha mãe!!!

Eu achei que nao fosse sobreviver ao tédio e à solidão de passar todo o Winter Break sozinho aqui em Dekalb, mas não doeu tanto assim e digo até que passou rápido. Os meus roommates voltaram hoje e confesso que estava até gostando da casa vazia e silenciosa. Eu morava sozinho já fazia quatro anos no Brasil e eu lido relativamente bem com isso, já gosto de algumas atividades solitárias como praticar meu instrumento, assistir filmes e ler também. O problema é fazer isso SEMPRE.

Mas no fim eu não estava sozinho. Além dos esquilos, Patrick, o saxofonista e Will, o pianista que mora com Kevin e Cliff também estavam em Dekalb. Entre as nossas aventuras dekalbianas posso citar algumas saídas aos agitadíssimos bares do pedaço, uma ida ao cinema, a -20C, pra ver o lacrimejoso "Seven Pounds" (Sete Vidas?), algumas jam sessions em Chicago e até uma ida ao cassino de Elgin, que pra mim foi um tremendo programa de índio, que me perdoem a comparação os primeiros habitantes do nosso brasilzão. O troço é barulhento, com músicas vindas de 400 máquinas ao mesmo tempo, todas se misturando, colorido num nível de dar dor de cabeça, e bem deprimente, cheio de pessoas idosas, todas viciadas e solitárias; muito parecido com o que se vê em nossos bingos. Mas pra mim tá óootimo! To topando qualquer coisa pra dar uma escapada de Dekalb.

No geral, minha rotina estava mais chata que a dos camarada do Big Brother. Acordava, lia o Chicago Tribune de cabo a rabo, estudava guitarra, fazia almoço, estudava guitarra de novo até que ficava de saco cheio, me agasalhava todo e saia pra dar uma circulada, caso a temperatura estivesse acima de -10C. Minhas únicas opções eram dar uma andada no centro, passando pelas 6 lojas da cidade, tomando um café no "The House" e voltando pra casa. Vez ou outra fazia um pit stop na Biblioteca Pública, que acabou se tornando meu lugar preferido. Lá, é possível pegar emprestado (sem pagar nada) dvd's. O acervo não é nada extraordinário mas dá pro gasto. Eles têm até "Central do Brasil", que obviamente eu não peguei. Deus me livre, eu sozinho aqui assistindo filme brasileiro... ia desembestar a chorar!

Um belo dia precisei ir ao supermercado e descobri que até os ônibus que a NIU fornece estavam de férias. O único jeito foi ir de bicicleta. A temperatura devia estar entre 0 e 2C, o que dá pra encarar, e não estava ventando. Passei na Best Buy, comprei um dvd player por US$30,00, porque estava cansado de ver filmes sem legenda (sumiu o controle remoto do dvd aqui de casa) e fui pro Wall-Mart comprar o que desse pra enfiar na mochila que estava levando. Só pra lembrar, estava de bike. Bom, na hora de ir embora não coube tudo na mochila, daí vim com o dvd player num lado do guidão, uma sacola no outro e a mochila pesada nas costas. O problema é que dirigindo a bicicleta estava um tal Júlio Caliman... Mas não tinha como escapar, porque a neve tinha derretido, se transformado em gelo e estava mega escorregadio. Bom, a aventura acabou na primeira curva, é claro. Daí, volta eu andando quase meia hora, carregando além de tudo, a maldita da bicicleta. Nesses dias, dá vontade de pegar o avião e ir embora.

Mas ao contrário do que pode parecer eu venci essas "férias" sem grandes crises. O segredo é não entrar naquele nóia de pensar coisas do tipo "ai, se eu estivesse no Brasil, estaria na praia, com meus amigos, com minha namorada", etc... Procurei me concentrar nos meus estudos mesmo, sem pensar demais na vida. Afinal, tudo isso foi escolha minha, e já tinha uma boa consciência do que me esperava. Quando se embarca numa aventura como essa, é importante sempre ter em mente o objetivo que levou ali e NUNCA perder o foco.

313 Augusta Ave. Agora a casa tá assim!


Lincoln Highway, a avenida principal do centro

Parada pro café!


Bem agasalhado!

Biblioteca Pública de Dekalb

Dentro da biblioteca

sábado, 10 de janeiro de 2009

Da cor do pecado

É interessante reler essa primeira impressão da América passados mais de 4 meses. Hoje vejo algumas coisas com olhos um pouco diferentes. Eu sempre tive um problema que foi essa história de sempre dizer o que penso, dizer a verdade, mesmo quando não é apropriado ou requisitado. Eu não sei porque eu sou assim. Pode ser porque não talvez não tenha tido uma educação muita formal no que diz respeito a regras de etiqueta; pode ter sido um resquício da minha fase Mórmon, religião que frequentei na minha pré-adolescência. Essa religião dá muita ênfase ao pecado e suas terríveis consequências, e como se sabe a mentira é um pecado enorme. Bom, hoje não acredito mais em pecado, mas vai que esse medo do inferno ficou no meu subconsciente. Vai ver é uma coisa da minha personalidade mesmo. Mas eu tenho trabalhado nisso e acho que melhorei um pouco. Tenho tentando maneirar o meu impulso de dizer o que penso.

O fato é que, ser assim às vezes me leva crer que todas as pessoas também agem do mesmo jeito, o que obviamente não é verdade. Isso me faz um pouco ingênuo e meio lento pra receber impressões "reais" no meu relacionamento com os outros. O preconceito de preto contra branco existe sim. Não sinto isso sempre, nem acho que aconteça na maior parte das vezes, mas já senti-o, ainda que veladamente. Muitas vezes alguém é bem recebido ou tratado com cordialidade, mas somente por uma questão de educação, de boas maneiras, e como já disse aqui anteriormente, o povo americano é extremante polido e formal.

Quanto a ser fechado, isso é uma coisa muito particular de cada um. Mesmo no Brasil já se nota uma boa diferença do norte pro sul. Aqui também, já vi gente dizendo que o povo do sul é mais aberto. Tal qual o Brasil, a coisa parece acompanhar o clima. No geral, eu diria que os americanos não falam muito de sua vida pessoal, ou demoram um pouco mais pra se abrir. Isso é fato. Não é o caso do Pete, que é realmente um americano diferente. Com meus roommates eu não tive muitas conversas de cunho pessoal e sei muito pouco sobre a vida deles. As pessoas também dificilmente me fazem perguntas pessoais, embora isso algumas vezes isso aconteça.

A história do jazz é muito complicada. Essa coisa da cor permeia o jazz desde suas origens, e pouca gente questiona que o jazz é música de negros. Como o samba no Brasil. Existem jazzistas bons de todas as etnias, mas eu reconheço uma certa superioridade negra. No mínimo pode-se dizer que existe uma diferença. O clichê é dizer que o jazzista negro tem mais swing e o branco, por sua vez, um maior domínio técnico do instrumento. Verdade? Não sei. Aqui na escola, com exceção dos saxofonistas, os melhores músicos de cada instrumento são negros. Claro, pode ser só coincidência, mas eu duvido.

Uma pequena nota. O baixista Kevin Smith, o melhor aqui da NIU, está deixando DeKalb e regressando pra Atlanta, Georgia, sua terra natal. Segundo ele, fruto dos problemas ecônomicos que atingem o país. Uma pena...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Dekalb News 1

26 de agosto de 2008

Minha primeira impressão dos EUA foi de que talvez eu tivesse chegado ao país errado, porque eu só ouvia espanhol. Mas tudo bem, por que afinal eu estava em Miami! A segunda coisa que me chamou atenção foi uma fila de check in onde só havia negros, coisa impensável de se ver no Brasil, pais tão desigual.

De Miami segui pra Chicago, que tem um aeroporto gigantesco, o O'Hare. Paguei U$3,00 pra usar o carrinho para as malas, e mais U$3,00 por uma garrafa de água :( Telefone público nos EUA é algo complicado, e como se vê nos filmes, se usa moeda. Só tem quatro, 0,01; 0,05; 0,10; 0,25; no coins, no calls… Definitivamente eles deveriam aprender como se faz, com a nossa Cpqd que inventou os cartões de orelhão. Bom, mas aqui ninguém precisa disso, TODO MUNDO tem celular. Mas quando se é estrangeiro…

Eu precisava ligar pro Pete, um americano incrível que dirigiu quase 2hs de DeKalb ate Chicago pra me pegar no aeroporto. Tudo graças a Catina, minha amiga brasileira que arranjou tudo pra mim por aqui. Os americanos são fechados, etc, etc… MENTIRA! Pete não só me pegou no aeroporto, como me proporcionou uma conversa agradável, me levou pra tomar café no Starbucks, me levou pra comprar um colchão, e ainda no fim do dia me levou no supermercado pra fazer compras. Essa impressão não foi só o Pete que me passou, mas também o Patrick, um saxofonista sensacional que veio me pegar (sem nem me conhecer) e me levou pra uma jam com Kevin Smith, Cliff e Larry, respectivamente baixista, baterista e guitarrista, estudantes da pós aqui na Northern Illinois University (NIU). Detalhe, os três últimos são negros, e eu juro que eu esperava, se não preconceito, no mínimo uma certa resistência de jazzistas negros, afinal sou branco e estrangeiro. Mas isso não aconteceu, todos me receberam de braços abertos.

Meus roommates, 6 ao todo, embora bem mais jovens (na casa dos 20) e todos colegas entre si, oriundos da mesma cidade (Naperville), também tem sido bastante receptivos e pacientes com meu inglês trepidante, são educados e respeitam bastante o espaço alheio. Fazem dos seus quartos uma casa, trazendo tudo pra cá, quadros, móveis, sofá, tv, etc. O Hunter (não é apelido, é nome mesmo!) trouxe ate uma cabeça empalhada de um bicho que pra mim é um alce, mas ele falou que é antílope, caçado por seu pai. Sim, eu sei, é surreal.. but, just like the movies… Essa mudança se repete todo ano. No fim das aulas, em maio, eles voltam pra casa e levam tudo com eles. Muita gente quando termina o curso, vende tudo nas garage sales. Os caras põe tudo pra fora da casa e passam esperando por possíveis compradores. Hoje mesmo, comprei uma cadeira por 5 dólares. Também é comum ver coisas como colchões e sofás abandonado nas ruas. Mas sempre passa alguém e pega na seqüencia. Até televisão eu vi...

Eu e Pete O'Connell

Eu e Hunter

Mark, eu, Joe, Bryan, Adam, Ryan e Hunter

Hunter, Justin, eu e Adam.

Cliff e Patrick a esquerda, durante o Halloween.

Eu e Kevin Smith.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Reveillon na Nani

2009 começa meio nublado em Dekalb, mas ontem, apesar de frio (-10C), não nevou e tivemos um dia bonito, se é que dá pra falar assim. Não tinha muitas esperanças de ter um Réveillon memorável por essas bandas, mas graças a Eliane “Nani” Baumman e família, eu tive. Eliane e Chong são um casal muito amável que costuma acolher os brasileiros que aportam aqui em Dekalb. A Eliane é brasileira, mas o Chong é um chinês que fala um bom português. Conheci-os através da Catina e da Camila. Eles sempre nos convidam pros jantares e almoços que fazem, geralmente em alguma data especial e a Eliane sempre vem com aquele papo tipo “olha, vai ser uma coisinha bem simples” e no fim a gente come até dizer chega e ainda vem uns cinco tipos de sobremesas, incluindo um maravilhoso pudim de leite! Realmente faz a gente se sentir em casa, que é o que você mais quer quando está em um país estrangeiro. Ontem estávamos eu, Eliane e Chong, o Charles, irmão da Eliane, Isa, que é brasileira, com o noivo americano, Andy e Mara, uma brasileira que já está aqui há quase 30 anos.

A melhor coisa pra mim de estar entre brasileiros é que eu posso ser eu mesmo, falar minhas bobagens sem ter medo de ser agressive ou rude. Aqui o povo é polite demais e às vezes isso cansa minha beleza. Tudo que eu quero é ser eu mesmo. Claro, não saio por ai que nem um doido dizendo tudo que penso, especialmente entre pessoas que não conheço bem – se bem que dependendo do teor alcoólico digo uns 90%! – mas sinto que aqui o “politicamente correto” é o padrão e como eu disse, as pessoas são excessivamente polite, o que faz com a gente tenha que medir palavras e ações o tempo todo, especialmente pra mim que ainda não estou bem seguro quanto ao que é aceitável ou não por aqui.

Eu questiono muito isso. Não é porque você é muito educado, pedindo excuse me e please o tempo todo que te faz um doce de pessoa, da mesma maneira que não é simplesmente o fato de chamar alguém de senhor que te faz respeitar essa pessoa. Nesse ponto eu acho o Jô Soares um gentleman, já que ele é super respeitoso – quando quer – sem precisar chamar ninguém de senhor. Muitas outras coisas contam, como o olhar, o tom de voz, os gestos. Dia desses estava em pé conversando com alguém, mais ou menos no meio do caminho, e o povo passa pedindo excuse me, mas quase me empurrando, enquanto outros falavam num tom agressivo, quase gritando. Very polite... Isso me lembra um pouco aquelas discussões de político no plenário: "EXCELENTÍSSIMO DEPUTADO, O SENHOR É UM ILUSTRÍSSIMO FDP!!!"

Outra coisa que já fizeram aqui comigo mais de uma vez. Você está na casa de alguém, como convidado, e quando você chega, todo mundo é super educado, te cumprimenta, se apresenta, etc. Mas depois deixam você sentado duas horas sem ninguém puxar conversa, como se você não existisse. Outras vezes você chega em um grupo, com as pessoas conversando, e fica lá por horas e ninguém faz questão de te inserir na conversa. Mas claro, tudo bem polite.

Talvez isso seja por quase da maldita privacidade, tão valorizada aqui nos EUA. Pra não invadir a sua privacidade ninguém te pergunta nada e te deixam bem “à vontade”. Isso é bom? Sei lá, pra mim não é não. O meu roommate preferiu desligar o meu feijão, assustado com o barulho da panela de pressão, que ele não conhecia, ao invés de bater na porta do meu quarto e “atrapalhar” minha privacidade. Quase conseguiu estragar meu almoço, isso sim! Tudo tem seus pontos positivos e negativos. Às vezes penso que um pouco de politeness no Brasil também não faria mal a ninguém, mas honestamente, como brasileiro que sou, vou ter que puxar a sardinha pro nosso lado. Politeness é o escambau!

Iza, Mara, eu, Chong, Nani e Charles

Iza, Andy, Charles, Nani, eu e Mara

Eu e Chong. Repare no detalhe da pantufa! Coisas do frio...

Boas Vindas!!

O ano novo sempre chega com aquela história de fazer um balanço do que passou, decidir quais serão as resoluções pro ano que está chegando, etc. A minha primeira resolução pro novo ano é começar o meu blog. Tudo mundo tem o seu, eu também quero o meu! Confesso que dá uma preguiça danada, mas por enquanto, tempo é o que não me falta.

Venho escrevendo minhas “Dekalb News” desde agosto, e elas já contam dezoito agora. Vou tentar postá-las aqui, mas ainda não sei como vou organizar a bagunça. Também vou postar minhas primeiras narrativas, que começaram na minha primeira experiência “quase” internacional, a bordo do navio Costa Victoria.

Se não me falha a memória, isso começou com as narrativas bem-humoradas do meu ex-companheiro de república, Nilo Kim, que já viajou o Brasil inteiro e também fez muitas viagens internacionais. Na seqüência, meu outro companheiro de república e amigo de infância, Gustavo Roriz, começou a escrever suas próprias histórias, narrando suas viagens a diversas cidades brasileiras com o grupo campineiro “Bons Tempos”. Estes foram na verdade seus últimos dias no Brasil antes de se mudar pra Portugal em abril de 2004. Em terras portuguesas Roriz continuou mandando seus reports por algum tempo.

Acho que isso é uma tendência natural pra quem viaja, a gente sai do nosso meio e começa a enxergar as diferenças e inevitavelmente a fazer comparações. A minha outra amiga de infância, Lucia “Malla” Andréia, tem o seu blog, que está ali nos favoritos. Ela em termos de itinerários supera a nós todos com larga vantagem. Além disso, com sua cultura enciclopédica e consciência ecológica, somado ao suporte do seu marido André Sealle, biólogo e fotógrafo de renome internacional, foi citada recentemente pela revista Época numa lista dos blogs mais importantes de 2008.

Bom, esse é um pouco o background histórico desse novo blog que começa em 2009. Não sei como sua história vai se desenrolar. Ele me permite sair um pouco do formato “DeKalb News” e falar qualquer bobagem que me vier à mente! Daí seu título “VIAGENS DE UM MÚSICO”, com seu óbvio duplo sentido.

Eu desejo a todos um ótimo 2009, que apesar da crise econômica aporta com um grande diferencial, devido à chegada do novo presidente. Aqui nos EUA a eleição de Obama trouxe um pouco de esperança, principalmente pelo simbolismo de se eleger um negro pra presidência, o que nos EUA foi um grande passo, mesmo. O preconceito aqui existe, é grande e tem mão dupla. E encerro meu primeiro post parafraseando meu pai: Que 2009 seja melhor que 2008 e pior que 2010!