quinta-feira, 27 de maio de 2010

O fim da jornada

Minha jornada pelos EUA coincidiu com minha jornada pela série Lost. Quando comecei a assistir Lost, já na terceira temporada, as coisas já se estavam se encaminhando para eu vir pra cá. Lost acabou neste domingo, quando falta pouco mais de um mês pra eu voltar pro Brasil.

Lost deu suas derrapadas e muita coisa ficou sem explicação, mas eu não tenho como negar que me emocionei muito no final, principalmente quando alguns dos personagens se reconheceram na "realidade alternativa" e rolaram curtos "flashbacks" sobre os acontecimentos da ilha. Eu sempre achei que o que fazia de Lost uma grande série não era a parte mística ou científica da série, mas a riqueza das personagens e suas interações.

Agora começo a me despedir dos EUA também. Eu sou muito sentimental e muito apegado a tudo. Pra mim qualquer coisa que envolva perda ou mudança é muito difícil e um dos motivos que me fez decidir por vir foi a necessidade de quebrar meus laços com Campinas e enfrentar meus medos. Não foi fácil, mas eu sentia que precisava fazê-lo, precisava me libertar da minha "necessidade de segurança", se é que isso faz algum sentido. Eu acho que apesar de todas as dificuldades que enfrentei, do custo financeiro e emocional, valeu a pena. Me sinto agora muito mais forte, maduro e pronto pro que quer que seja. Sempre me lembro do que minha amiga Camila diz, "o que não mata, fortalece".

Mas, claro, fico triste também. Cada lugar que eu vou ou cada pessoa que eu encontro eu penso, "caramba, essa pode ser a última vez que estou vendo isso/essa pessoa". Sim, pode ser. Mas ao mesmo tempo eu sinto que depois de ter vivido aqui, isso agora faz parte de mim e eu vou acabar voltando de um jeito ou de outro, mais cedo do que tarde.

Eu me sinto agora que nem o camarada casado que tem uma amante e não sabe com qual das duas vai ficar :) Eu já vislumbro no Brasil muitos aborrecimentos: telemarketing, trânsito, "jeitinho brasileiro", falta de educação, falta de civilidade, político corrupto, violência, etc. Mas também vejo tanta coisa boa: Daniela, Isadora, mãe, pai, irmão, irmãs, sobrinhos/a, amigos, português, piada, City bar, música brasileira, churrasco, picanha, sol, praia, chopp, espontaneidade, improviso, camaradagem, amor pela vida, etc...

Dos EUA vou sentir falta também de muita coisa: jazz de verdade (e aos montes!), jam session, profissionalismo, respeito às leis e ao cidadão, segurança, amigos (sim, fiz alguns!), lago Michigan, Michigan Avenue, big band, liquidação (DE VERDADE!!!), craiglist, pontualidade, organização, trânsito civilizado, coisa barata, carro cheio de botão (e barato!), neve, (só no primeiro mês) falar com a telefonista em trinta segundos, Guitar Center, Ebay, poder devolver qualquer coisa sem precisar dar nenhuma explicação, internet a jato, telefonia celular sem roaming e quase de graça, compra pela internet, sorvete de butter pecan, DVD lançamento na maquininha de 1 dólar, 158 tipos de cerveja, água quente na torneira, mexicano (kkk), loja e restaurante de mexicano, restaurantes e gente de todos os lugares, etc...

Mas não vou sentir falta de: 6 meses de inverno, comida ruim, fast food, carne ruim e cara, Natal só no dia 25 (e na neve), neve (depois de um mês), ano novo na neve, carnaval na neve, só 2 feriados por ano, multa de trânsito, polícia te seguindo depois de sair do bar, café ruim e no copo de papel, talher e prato de descartável em restaurante, TUDO descartável ou congelado, fake politeness, apertar mão de mulher (ao invés de 1-3 beijnhos), ambiente fechado o tempo todo, não poder beber em lugar nenhum, barbecue sem cerveja e picanha, racismo de preto com branco ESCANCARADO, racismo de branco com preto DISFARÇADO, total separação racial, mostrar ID pra entrar em bar, falar inglês, não entender piada, falar tudo duas vezes, ouvir (quase) tudo duas vezes, fingir que entendeu alguma coisa, perceber que o outro fingiu que entendeu, fahrenheit, milhas, pounds, inches e todas essas medidas idiotas que só se usam aqui, americano que acha que o EUA é o único (e o melhor) lugar do mundo (uns 95%), americano que acha que brasileiro fala espanhol (98%), americano que acha que o Brasil é cheio de "animais" (99%), americano (kkkk), moralismo hipócrita, político que diz que o livro preferido é a bíblia (90%), etc...

Mas por mais irônico que possa parecer eu já fui roubado aqui duas vezes! Sim!!! Sexta passada dormi em Chicago e estacionei meu carro na rua e abriram o carro e roubaram meu GPS (já comprei outro por $50!). Tudo bem que uma das portas do meu carro não tranca :) Bom, no Brasil eu não ia deixar um GPS num carro, ainda que ele trancasse! Também não ia deixar de consertar isso, certo?? O outro roubo foi na NIU. Tem uma sala cheia de armários onde muita gente deixa os amplificadores, destrancados em cima dos armários. Well, um fim de semana alguém entrou e levou três amplificadores, incluindo o meu. Nem esquentei tanto, paguei só $100. Fiquei mais puto quando vi que no Brasil tem gente vendendo por R$1000,00... É gozado, porque a gente "acha" que aqui isso não vai acontecer, a gente descuida e como se viu, dá no que dá. Roubo de bicicleta em Dekalb não é raro e em Chicago já ouvi várias histórias de roubos de também, inclusive de carro arrombado, bem ao estilo brasileiro!

Bom, tem muita coisa que quero escrever antes de voltar pro Brasil. Vamos ver se consigo fazer isso a tempo.