sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O carro

Uma das minhas séries preferidas na televisão é "Os Anos Incríveis". Eu sempre me impressionei como as histórias são as mesmas em todos cantos. Eu, que nasci lá em Vila Velha - ES, na beira da praia, vivi coisas idênticas a que viveram o personagem Kevin Arnold e sua trupe, em algum subúrbio no estado de Indiana - EUA. Eu me lembro de um episódio quando o avô do Kevin deu seu velho carro de presente pra ele com o seguinte dito: "Um homem não é um homem sem um carro". E olha, o velho tinha razão.

Eu me dei conta disso quando comecei a fazer bailes com a banda "Sertão 2000", quatro vezes por semana em 1994. Eu esperando o dia amanhecer pra pegar o ônibus e ir pra casa, depois de ter tocado das 11:00 às 4:00h, carregando guitarra, pedaleira, mala... Olha, que cimento! Eu juntei dinheiro que nem um louco e um ano depois consegui comprar meu primeiro carro, uma Belina do meu amigo Joni Grapeia. Depois foi um fusquinha Bordeux que capotou e quase me levou antecipadamente pra outra vida, dois Gols e um Uno Mille que foi do meu pai e que por fim acabou financiando minha vinda pros EUA.

Aqui carreguei minha cota de cimento, ficando 6 meses sem carro, o que foi até divertido nos dois primeiros meses, até o frio chegar, mas depois disso deixou de ser. Aqui não é possível viver sem carro, não só por causa do frio e de ser tudo longe, mas principalmente porque transporte público, com exceção de cidades como Chicago e New York, não existe.

Depois da novela do meu Social Security que só saiu em janeiro, consegui enfim tirar minha carteira de motorista, depois de ter que ir ao Driver Service (Detran) umas 5 vezes. Você acredita que a vaca que me aplicou o teste me reprovou??!! Fala sério mano, eu dirijo tem 15 anos. Mas a minha tese é que foi o motivo foi preconceito. Ela falou pra mim: "Por favor entre no carro e lfsjkdkfsl o vidro". Eu falei, "o que?". Ela repetiu: "Por favor entre no carro e ksjkjdkgjsk o vidro". Eu continuei sem entender. Pro pessoal mais avoado, tipo geminianos, a conversa toda foi em inglês viu! Bom, ai ela disse, "olha, eu vou repetir pela última vez, está claro??!!" "Yes, yes madam". Ah bixo, a mesma coisa! Eu então fingi que entendi entrei no carro e abri o vidro....e ... ufa... era pra fazer isso mesmo :) No fim ela me reprovou porque eu parei umas vezes em cima de uma faixa que tem aqui. Então tá!

A driver's licence aqui é tipo uma carteira de identidade. Quando você entra num bar tem que mostrar pra provar que tem mais de 21, mesmo se for um velhinho! E o dia que o cara do bar estava olhando minha carteira de motorista brasileira de cabeça pra baixo! Vai ser burro assim na China, ops, nos EUA! Bom, agora não preciso mais passar por isso.

Com isso finalmente comprei meu carro. É um Nissan Altima 98 com tudo automático que você pensar, apesar de metade dos botões não funcionar! O carro, por exemplo, não tranca! hahaha mas aqui não dá nada não. Ele está com 108 mil milhas o que pro ano não é muito, principalmente aqui, onde os carros são muito rodados. Paguei U$2250.00 A título de comparação no Brasil um carro desses 95, segundo a tabela FIPE custaria cerca de US6770.00 (dólar a R$2,30).

Dirigir aqui é muito tranquilo. Na cidade é preciso tomar muito cuidado porque tem polícia por todo canto e qualquer bobeada os caras te param. Por outro lado não tem radar. Mas nas estradas tem muitos carros de polícia à paisana e eles tem um radar portátil. Conheço várias pessoas que já tomaram multa. É complicado, porque o limite nas estradas é 65 milhas/hora (105km/h). Bom eu geralmente ando a 70-75 :)

Tem algumas coisas que são bem diferentes. Você pode, por exemplo, avançar o sinal vermelho se for converter à direita. Mesmo sabendo disso, sempre me dá aquela sensação de estar fazendo algo errado. Outra coisa, você normalmente pode parar no meio da pista pra converter à esquerda, depois que os carros passarem. É meio esquisito mas funciona, principalmente porque os motoristas são muito educados. Então todo mundo espera bonitinho sua vez pra passar e o melhor de tudo, não tem pressão. Cara, na estrada é uma maravilha. Aqui não tem aqueles maníacos que ficam colando na traseira, dando farol alto, pedindo passagem desesperadamente. Eu não vi ninguém fazendo isso nas estradas e principalmente aqui em DeKalb. Realmente posso dizer que dirigir aqui é uma experiência bem pouco estressante, se comparado ao Brasil e muito mais barato também. Os pedágios mais caros que vi custam U$1.60 e a gasolina custa (agora) menos de U$2.00 o galão, o que segundo minhas contas, considerando 1 dólar = R$2,30, dá R$1,20 por litro!


Já tem até GPS!


Tira a foto logo que ta -5C rapá!


Neve também suja!



sábado, 14 de fevereiro de 2009

Valentine's Day

Hoje celebra-se aqui nos EUA, e em muitos outros países o Valentine´s Day, o nosso Dia dos Namorados. Me recordo das ocasiões em que tive que passar a data sozinho, e fatalmente sempre bate uma tristesazinha. Esta, no entanto, vai ser a primeira vez que vou passar o Dia dos Namorados sozinho, tendo uma namorada. Não é legal ser mulher de músico nessas ocasiões, já que é uma em data que nós quase sempre estamos trabalhando. Agora pior ainda é namorar um músico que mora em outro país. Nosso namoro começou com data pra acabar, porque começamos a namorar em março de 2007 e eu a essa altura já esperava uma resposta da bolsa aqui na NIU, que era pra ter saído em julho daquele ano, mas ela não saiu. A bolsa acabou saindo pra dezembro, mas muito em cima da hora, então resolvi adiar pra agosto, o que me deu tempo de gravar meu CD e a também aprofundar nosso relacionamento, além de organizar tudo que foi preciso antes de embarcar, e acreditem em mim, é muita coisa!

Algo que sempre tive em mente é não deixar de viver a vida baseado em expectativas futuras. Racionalmente seria mais sensato que a gente não deixasse a relação prosseguir. Se nós tivéssemos agido assim, certamente teríamos poupado muito sofrimento, mas também deixaríamos de viver os momentos maravilhosos que vivemos. Daniela foi a namorada com quem tive mais afinidade. O nosso amor paradoxalmente começou de um jeito que parecia não ter futuro, mas cá estamos firme e fortes. Foi uma coisa inevitável, parecia que já nos conhecíamos e que tínhamos que ficar juntos.

Nós homens costumamos fazer um comentário malicioso quando nos referimos a mulheres solteiras que tem filho. Me lembro como se fosse hoje o Babi falando da Dani: "Ela é muito inteligente, é filósofa. Mas vem com brinde!". Esse brinde se chama Isadora é a criaturinha mais doce que já conheci. Se pudesse escolher como seria um filho meu, seria como ela. Puxou a mãe em sua inteligência, doçura e gênio! No começo fiquei meio sem jeito. Imagina né, rapaz jovem, solteiro, livre, independente, bonito, de repente andando por aí com esposa e filha, hahaha! Mas me acostumei, tomei gosto pela coisa, e no fim tudo que mais queria agora era as duas aqui perto de mim. Sinto como se nós realmente fôssemos uma família.

Namoro à distância não é fácil. Envolve solidão, saudade, desconfiança, ciúme e incerteza. Muita gente diz que é impossível. Mas agora que vivo essa situação, conheci alguns casais que já passaram por isso e no fim ficaram juntos. Isso me ajuda muito a enfrentar a distância, saber que é possível. O que você vai fazer? Você encontra alguém que você ama e com quem você quer ficar junto. Simplesmente desistir?

Manter a decisão de vir pra cá não foi nada fácil. Não foi só a Daniela e a Isa que eu deixei prá trás, mas também um bom momento profissional e pessoal, uma vida estável e sinceramente tinha pouquíssimo desejo de mudança. Mas isso foi algo que batalhei por muitos anos e sempre quis, quase um sonho de menino. Foi uma decisão um tanto egoísta, eu admito. Eu precisei de quase um ano de terapia prá poder largar tudo que tinha e vir pra um cenário um tanto quanto incerto. Eu me sinto culpado muitas vezes por tê-las abandonado, mas é engraçado como ao mesmo tempo me sinto próximo delas. Eu e a Dani nos falamos com frequência e trocamos emails diariamente. A tecnologia hoje ajuda muito os casais distantes e faz a gente acreditar que é possível um relacionamento assim.

O apoio da Dani e da Isa foi fundamental. Não sei se teria conseguido sem elas, e ainda hoje, mesmo tão longe, preciso muito delas. A solidão e o vazio que sentimos estando num país estrangeiro às vezes não é fácil de encarar, e sem a ajuda dos entes queridos seria acho quase impossível. Meus últimos dias no Brasil foram ao mesmo tempo maravilhosos e angustiantes. Ficamos juntos o tempo todo e elas me acompanharam nas minhas últimas viagens à Vitória e ao Rio. Sorrisos e lágrimas se sucediam o tempo todo e tudo foi muito bonito, mas muito, muito triste também. Nossa despedida no aeroporto foi algo traumatizante e foi igualzinho àquelas cenas de filme onde todos choram, só que dessa vez foi de verdade. Nunca vou me esquecer da Isa agarrando minhas pernas e não deixando ir embora, nem das mensagens que eu e a Dani ficamos trocando no celular até que tive que desligá-lo pra sempre. Até nos últimos momentos ela ficou me consolando, enquanto, tenho certeza, muitas outras mulheres estariam me odiando. Olha não foi fácil.

Eu não sei como vai acabar nossa história. Sempre penso que uma a hora a Dani vai ficar de saco cheio de tudo isso e me mandar passear. Mas depois de tudo que passamos, nós temos que acabar juntos. Não me imagino sem elas. Se desistíssemos agora seria como nadar até o meio de rio e resolver voltar quando se está quase chegando à outra margem.

Amorzinho, obrigado por tudo que você tem feito por mim e por não ter me abandonado. Te amo.

Isadora atacando de cantora. Campinas, 29/06/2008


As duas no show de lançamento do meu cd no Santa Fé em 31/07/2008


Último dia em Campinas, 08/08/2008


Dani e minha mãe no show de lançamento no Jazz Café em Vitória - ES, 12/08/2008


Eu, Dani, minha irmã Simone, Papai e Nilde. Rio, 16/08/08


Último dia no Brasil. Rio, 17/08/08