domingo, 1 de novembro de 2015

Dekalb News 10 - Halloween

Esse texto foi escrito e enviado a um grupo de emails em 9/11/2008. A única coisa que mudei foram os acentos que na época não usava por causa do pc. As fotos também são da época.






Bar decorado



Casas decoradas na rua que morava






Em diversos países, principalmente aqueles de origem anglo-saxônica, comemora-se no dia 31 de outubro o Halloween. Eu sempre achei (e continuo achando) que Halloween não tem nada a ver com o Brasil nem com nossa cultura, que está muito mais pra Saci do que pra Freddy Krueger, mas aqui nos EUA eu gostei de ver a coisa toda rolando. Apesar do esforço das escolas de inglês em levar a festa pro Brasil, me parece que ela nunca vai chegar a ser uma sombra do que é por aqui, já que até onde pude perceber aqui a festa tem uma tradição forte e possui raízes históricas, como eu supunha. Uma pesquisa rápida no Wikipédia me informou que a comemoração do Halloween chegou em solo americano através dos colonos irlandeses, e que por sua vez carregam essa tradição desde os seus ancestrais celtas há muitos séculos.

O Halloween me lembrou um pouco o nosso carnaval, com pessoas fantasiadas, festa em todo canto e libido no ar. As preparações já começaram há mais de um mês, com quase todas as lojas e supermercados vendendo artefatos pra festa, de fantasias, cartões, brinquedos para as crianças a decorações de todo o tipo. Isso inclui teias de aranha de mentira (com aranhas de plástico no meio), abajures em forma de abóbora e de morcegos e os pacotes cheios de doces pra oferecer pra crianças que batem às portas pedindo por "trick or treat" (doces ou travessuras!).

Eu vi – ou fiquei sabendo de – muitas atividades que aconteceram em função do Halloween, a maior parte dirigida às crianças, que fazem uma farra danada. Coisas como disputa de fantasias, prêmio pra melhor abóbora e perseguições com susto no meio do milharal. Essa coisa da abóbora é um barato. Você vai lá compra uma – tem de diversos tamanhos – e trabalha a dita cuja até ela virar a assombração que você quiser. O Alejandro me convidou pra ir com a Sarah participar da brincadeira, mas acabou não dando pra ir. A Sarah é uma americana muito gente boa, extremamente crítica da política e da cultura americanas, graças em parte a ter vivido um ano na Indonésia. Ela conta que só depois que chegou lá conseguiu ter uma clareza maior do que acontece fora do país e pensou assim "meu Deus, o que nós estamos fazendo com o mundo"; palavras dela.

O lance do milharal é assim: parece que tem tipo um labirinto no meio dele e a criançada fica tentando achar saída, enquanto os marmanjos ficam fantasiados assustando a garotada. Eu fiquei empolgado com o tal do trick-or-treat, por aqui em Dekalb a criançada pode andar nas ruas sem medo. O pessoal aqui em casa até comprou vários pacotes com doces pra dar pras crianças, mas eu não estava por aqui quando elas passaram. Eu vi um grupinho delas fantasiadas andando na rua, mas fiquei com medo de tirar fotos e ser preso por pedofilia. Quanto às fantasias, ai já é generalizado, todo mundo participa. Mesmo estando numa semana com uma "homesick" danada eu acabei cedendo e comprei uma máscara pra não dizer que não me fantasiei.

Como já disse, estava rolando festa em todo lugar, inclusive na república dos músicos onde estive na minha primeira semana, na minha primeira jam session. Lá rolou o Halloween do jazz (em português é jass!!!), onde a maior parte da galera não entrou no espírito da fantasia e tava mais afim de fazer um som mesmo. Tinha bastante "afro-americanos" na festa, mas já comecei a perceber que uma boa parte deles não dá muito papo pra branco não.  Então eu e Alejandro resolvemos ir pro Starbusters, o bar onde se concentrou a maior parte da galera. No caminho vi muita gente fantasiada andando pelas ruas, grupos grandes. Me lembrou aquele filme "A Volta dos mortos-vivos", quando sai aquela defuntada toda do cemitério e rola tipo uma dança, meio humor negro (será que é isso? Faz muito tempo que vi o filme...). O Starbusters estava lotado e não deixaram a gente entrar. Demos uma passada no Fattie's mas a festa lá estava meio fraca. Tirei umas fotos mesmo assim e voltamos pra ver a galera saindo do outro bar e curtir as fantasias. Aliás tirei algumas fotos da rua, do povo passando. Um barato!

Por alguma razão que Freud deve explicar, no Halloween, mais da metade das mulheres se fantasiam de puta, e parece que uma boa parte age como tal nos clubs e nas festas, levantando a blusa, etc, mas confesso que não vi nada assim. Aliás a questão da sexualidade é uma coisa engraçada nesse país. Eu reparei que as pessoas, começando pelos meus roommates, nunca falam de sexo ou de relacionamentos em geral, o que achei bem estranho, dado a idade média de 20 anos. Aqui, raramente se faz um comentário sobre uma mulher e as pessoas são realmente muito reservadas com tudo que diz respeito a sua vida privada (mulheres brasileiras, sinto decepcioná-las, mas olha, ai no Brasa, homem só fala disso!!). Também a gente não vê casal se beijando ou se abraçando. Você nunca sabe se um casal é amigo ou namorado. Aqui a coisa do assédio e da pedofilia é uma paranóia; pais acompanhando aulas individuais dos filhos e reuniões sempre a portas abertas. Mais de uma vez eu ouvi a expressão "zona de segurança", que é como se fosse uma redoma em volta das pessoas, a qual você não deve ultrapassar. Catina sempre conta sobre do dia em que ela estava na piscina com a sobrinha dela de 4 anos quando veio um policial mandando a menina pôr a parte de cima do biquíni (ela estava sem) ou senão teria que sair da piscina.

Mas tem uma história engraçada. No meu primeiro dia aqui fui à casa do Pete e estava lá quando entrou uma amiga dele na casa. Eu, ainda com os costumes brasileiros arraigados levantei e fui em direção a ela com o intuito de cumprimentá-la mas ela saiu pra trás, quase correndo, com os braços esticados falando, "ei, o que que você quer, para, para!!". Foi a primeira vez que eu ouvi a expressão "zona de segurança". Mas curiosamente, no Halloween todas as mulheres querem virar puta – e os homens querem estar por perto.



Jam session da pesada! Alguns dos melhores músicos que conheci estão na foto, incluindo Patrick Terbrach (branco à esquerda) e Willerm Dellisfort (no piano).



Eu e Alejandro


Pessoas nas ruas I


Pessoas nas ruas II


Pessoas no Fattie's



Fantasia original!



Não é o que você está pensando!! Apenas pedi pra tirar uma foto com essas simpáticas moças que estavam na rua.

domingo, 4 de julho de 2010

Adeus Chicago!



Essa é última vez que escrevo uma Dekalb News, pelo menos com esse nome. Estou no vôo de Chicago para Charlotte, onde pego minha conexão para o Brasil. Vou com o coração partido por deixar um pais que tanto me deu, amigos, uma vida tranqüila, mas ao mesmo vou para o Brasil ficar perto da minha família, de outros amigos e começar minha própria família.

O dia ontem foi longo. Comecei a fazer as malas as 11 da manhã e terminei as 4:30 da matina. Ao longo do dia tive que ir ao Wall-Mart duas vezes malas adicionais, fui na Ax-in-hand comprar minha Fender Telecaster e ainda achei um tempinho pra comprar os últimos presentes pra família. Quando comecei a arrumação estava desanimador; tinha tanta coisa espalhada que nem sabia por onde começar. Fiquei horas só pra decidir o que ia jogar fora ou não, separando papéis, documentos, notas fiscais, etc. O saldo final: 4 malas grandes lotadas até o osso + 5 guitarras e violões + uma mochila.

Pela US Airways, eu posso trazer até 9 volumes adicionais, além dos dois permitidos, e o peso máximo é 32kg. O Brasil é o único pais do mundo que permite isso tudo. No resto do mundo o limite é 23kg. Não tenho a menor idéia da razão pra isso, mas não vou reclamar. Vai ver foi erro de tipografia!

Chegando no aeroporto fui pesar as malas pra ter certeza que estavam dentro do peso, porque senão teria que pagar 2x pra cada uma. Resultado, TODAS acima do peso. Não muito, mas eles são rigorosos com isso. A saída foi usar uma mochila grande que tinha dado pro Patrick e tirar um pouco de cada mala pra aliviar o peso. Bom, eu devo entrar pro Guiness com 5 malas, 4 guitarras despachadas e U$600 em taxas adicionais...

Meus últimos meses nos EUA foram extraordinários. Trabalhei a beça, conheci e convivi com pessoas incríveis. Eu não tenho palavras pra agradecer o quanto as pessoas me ajudaram por aqui e como demonstram estar sentindo a minha saída e tudo mais. Brasileiros como Luciano, Nani, Marcao e Diego. Americanos como Patrick, Pastor Dan, Aaron Fuller, Jack Zara, Nathan Brown."Hispânicos" como Alejandro e Rodrigo, além de tantas outras pessoas. Eu enfrentei muita indiferença aqui no começo, mas no meu último semestre devo dizer que foi bem o oposto.

Eu sou muito grato a tudo o que esse país me proporcionou. Aprendizado, tanto na música como na vida. A oportunidade de conhecer a vida no primeiro mundo, me fazendo valorizar muitas coisas em meu país, mas também abominar outras. Eu me sinto muito diferente hoje. A gente muda, não tem jeito. Eu estou voltando pro Brasil mais forte, mais maduro, mais focado, com certeza do que quero e do que não quero.


Jack Zara


Felipe Fraga, Dill Costa e Marcos Oliveira: Bossa Três


Diego Menezes


Alejandro Fernandez e Rodrigo Villanueva


Rick e Pastor Dan: parece a Seita dos Carecas!


Almoço de despedida com Joel Jupp e família e outros músicos da Igreja Batista de Sycamore


Amirah e Patrick Terbrack. Downtown ao fundo


Nani e Chong no dia da minha formatura


Liberace durante a gravação do CD (Ross, Brian, Sean, Nathan, Júlio e Xavier)


Harvey Lockheart

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O fim da jornada

Minha jornada pelos EUA coincidiu com minha jornada pela série Lost. Quando comecei a assistir Lost, já na terceira temporada, as coisas já se estavam se encaminhando para eu vir pra cá. Lost acabou neste domingo, quando falta pouco mais de um mês pra eu voltar pro Brasil.

Lost deu suas derrapadas e muita coisa ficou sem explicação, mas eu não tenho como negar que me emocionei muito no final, principalmente quando alguns dos personagens se reconheceram na "realidade alternativa" e rolaram curtos "flashbacks" sobre os acontecimentos da ilha. Eu sempre achei que o que fazia de Lost uma grande série não era a parte mística ou científica da série, mas a riqueza das personagens e suas interações.

Agora começo a me despedir dos EUA também. Eu sou muito sentimental e muito apegado a tudo. Pra mim qualquer coisa que envolva perda ou mudança é muito difícil e um dos motivos que me fez decidir por vir foi a necessidade de quebrar meus laços com Campinas e enfrentar meus medos. Não foi fácil, mas eu sentia que precisava fazê-lo, precisava me libertar da minha "necessidade de segurança", se é que isso faz algum sentido. Eu acho que apesar de todas as dificuldades que enfrentei, do custo financeiro e emocional, valeu a pena. Me sinto agora muito mais forte, maduro e pronto pro que quer que seja. Sempre me lembro do que minha amiga Camila diz, "o que não mata, fortalece".

Mas, claro, fico triste também. Cada lugar que eu vou ou cada pessoa que eu encontro eu penso, "caramba, essa pode ser a última vez que estou vendo isso/essa pessoa". Sim, pode ser. Mas ao mesmo tempo eu sinto que depois de ter vivido aqui, isso agora faz parte de mim e eu vou acabar voltando de um jeito ou de outro, mais cedo do que tarde.

Eu me sinto agora que nem o camarada casado que tem uma amante e não sabe com qual das duas vai ficar :) Eu já vislumbro no Brasil muitos aborrecimentos: telemarketing, trânsito, "jeitinho brasileiro", falta de educação, falta de civilidade, político corrupto, violência, etc. Mas também vejo tanta coisa boa: Daniela, Isadora, mãe, pai, irmão, irmãs, sobrinhos/a, amigos, português, piada, City bar, música brasileira, churrasco, picanha, sol, praia, chopp, espontaneidade, improviso, camaradagem, amor pela vida, etc...

Dos EUA vou sentir falta também de muita coisa: jazz de verdade (e aos montes!), jam session, profissionalismo, respeito às leis e ao cidadão, segurança, amigos (sim, fiz alguns!), lago Michigan, Michigan Avenue, big band, liquidação (DE VERDADE!!!), craiglist, pontualidade, organização, trânsito civilizado, coisa barata, carro cheio de botão (e barato!), neve, (só no primeiro mês) falar com a telefonista em trinta segundos, Guitar Center, Ebay, poder devolver qualquer coisa sem precisar dar nenhuma explicação, internet a jato, telefonia celular sem roaming e quase de graça, compra pela internet, sorvete de butter pecan, DVD lançamento na maquininha de 1 dólar, 158 tipos de cerveja, água quente na torneira, mexicano (kkk), loja e restaurante de mexicano, restaurantes e gente de todos os lugares, etc...

Mas não vou sentir falta de: 6 meses de inverno, comida ruim, fast food, carne ruim e cara, Natal só no dia 25 (e na neve), neve (depois de um mês), ano novo na neve, carnaval na neve, só 2 feriados por ano, multa de trânsito, polícia te seguindo depois de sair do bar, café ruim e no copo de papel, talher e prato de descartável em restaurante, TUDO descartável ou congelado, fake politeness, apertar mão de mulher (ao invés de 1-3 beijnhos), ambiente fechado o tempo todo, não poder beber em lugar nenhum, barbecue sem cerveja e picanha, racismo de preto com branco ESCANCARADO, racismo de branco com preto DISFARÇADO, total separação racial, mostrar ID pra entrar em bar, falar inglês, não entender piada, falar tudo duas vezes, ouvir (quase) tudo duas vezes, fingir que entendeu alguma coisa, perceber que o outro fingiu que entendeu, fahrenheit, milhas, pounds, inches e todas essas medidas idiotas que só se usam aqui, americano que acha que o EUA é o único (e o melhor) lugar do mundo (uns 95%), americano que acha que brasileiro fala espanhol (98%), americano que acha que o Brasil é cheio de "animais" (99%), americano (kkkk), moralismo hipócrita, político que diz que o livro preferido é a bíblia (90%), etc...

Mas por mais irônico que possa parecer eu já fui roubado aqui duas vezes! Sim!!! Sexta passada dormi em Chicago e estacionei meu carro na rua e abriram o carro e roubaram meu GPS (já comprei outro por $50!). Tudo bem que uma das portas do meu carro não tranca :) Bom, no Brasil eu não ia deixar um GPS num carro, ainda que ele trancasse! Também não ia deixar de consertar isso, certo?? O outro roubo foi na NIU. Tem uma sala cheia de armários onde muita gente deixa os amplificadores, destrancados em cima dos armários. Well, um fim de semana alguém entrou e levou três amplificadores, incluindo o meu. Nem esquentei tanto, paguei só $100. Fiquei mais puto quando vi que no Brasil tem gente vendendo por R$1000,00... É gozado, porque a gente "acha" que aqui isso não vai acontecer, a gente descuida e como se viu, dá no que dá. Roubo de bicicleta em Dekalb não é raro e em Chicago já ouvi várias histórias de roubos de também, inclusive de carro arrombado, bem ao estilo brasileiro!

Bom, tem muita coisa que quero escrever antes de voltar pro Brasil. Vamos ver se consigo fazer isso a tempo.

sábado, 20 de março de 2010

Gigs em Chicago

Esse ano tem sido muito bom pra mim. Por que o guitarrista do grupo Bossa Três, Ed Gerber foi de férias por dois meses no Brasil, acabei tocando com o grupo por todo esse período, numa média de três vezes por semana. O Bossa Três é um grupo que já atua na região de Chicago há bastante tempo. Isso faz com que eles tenham gigs fixas e/ou regulares e um bom número de fiéis seguidores, brasileiros, hispânicos e americanos. Chicago tem relativamente poucos brasileiros, então quando se frequenta o "circuito brasileiro" vê-se sempre as mesmas caras, quase que nem numa cidade pequena. Os agregados não brasileiros tem um entusiasmo enorme pela cultura brasileira e tentam cantar as letras imitando as palavras e dançam com a maior empolgação mas sem o menor! É um barato de se ver.

Acabei tocando com eles o Reveillon e também o carnaval. Carnaval na neve é um troço que não orna direito.O carnaval aqui nos EUA só rola mesmo em New Orleans, o que eles chamam de Mardi Grass, que vem da tradição francesa. Aqui é um dia como qualquer outro e as poucas festas que rolam são só no sábado. Em Chicago só rolaram duas festas de carnaval, a que toquei a de um outro grupo conhecido aqui, chamado Chicago Samba. O lugar que tocamos não tem qualquer relação com o Brasil e vi gente no bar pedindo caipirinha sem os bartenders terem a menor idéia do que se tratava. Trataram a gente bem aquém do que estava acostumado nos carnavais do Brasil. Não deram comida ou bebida. Como se não bastasse, não nos deixaram entrar com bebida também. Eu estava num daqueles dias em que queria tomar todas, ainda mais que não ia ter que dirigir pra Dekalb, daí comprei uma garrafinha de whisky, mas o segurança frustrou meus planos. Em termos, porque daí deixei a garrafa na caixa de correio e depois no intervalo eu e meu amigo Jack Zara, o baixista da banda, voltamos a matamos a bixinha!!

Em comparação com o Brasil, eu diria que as gigs aqui são bem tranquilas. Primeiro não tem aquela puta zona que nem no Brasil, todo mundo chapado enchendo o saco (pelo menos nas gigs qeu EU fiz). Raramente toquei mais de 3 horas (no Brasil em geral são 4, mas às vezes mais). Muitas vezes toquei menos. Normalmente somos muito bem tratados. Os cachês não são ruins e ainda tem as tips (gorjeta), que algumas vezes quase dobraram meu cachê. Nas gigs solo que fiz ainda sempre vendo cd's. Eu sinto que mesmo tocando em bar ou restaurante, você é quaaase tratado que nem artista, tanto pelo "patrão" quanto pela audiência. Claro que não é sempre assim, mas na média eu diria que sim. A única coisa que me cansa nas gigs aqui é dirigir de volta pra DeKalb... Puta cimento!

Outra diferença é que os grupos são maiores, trio, quarteto, quinteto. Fiz poucas gigs solo. No Brasil o "tar" do violão e voz virou a regra na maioria dos lugares. O cara paga 100 cruzeiro, bota um mané tocando por 4, 5 horas e diz que tem "música ao vivo" e ainda enche o saco do cara pra ele "agitar"! Eu sei porque eu já passei muito por isso. Tá tudo errado. Bixo, eu não entendo porque os caras não encaram a músico como um "algo mais". Bota um grupo pra tocar dois sets de uma hora, sei lá, ou algo assim e tá ótimo. A música apresentada vai ser de uma qualidade melhor já que com um repertório menor dá pra ensaiar, fazer arranjo, etc. Os músicos vão tocar com muito mais energia e o público vai valorizar mais, porque vai ser aquilo ali e acabou. No Brasil o pensamento é "tem que tocar a noite toda senão o nego não vai querer pagar couvert". Eu já tive gerente me enchendo o saco pra voltar depois de 15 minutos de intervalo dizendo que tinha cliente reclamando que não ia pagar couvert. Me poupe!

A verdade é que músico quer ser artista. Uma coisa é ir lá tocar das 6 as 10h. Outra é ir lá fazer o "seu show" por 1 hora ou pouco mais e realmente preparar a tua apresentação. No fundo músico quer ser artista. Ninguém quer fazer nada só pelo $$$, senão a gente seria qualquer outra coisa, advogado, médico, sei lá, qualquer coisa, mas músico não!!!!!!

Terremoto no milharal

Muitos já receberam um email narrando minha primeira experiência com terremoto - se é que dá pra chamar isso de terremoto, depois do que aconteceu no Haiti e no Chile. Aqui não é uma região propícia a terremotos já que não repousa sobre nenhuma falha conhecida. Mas, vez ou outra a terra chacoalha, ainda que sem grandes estragos. Enfim, segue aí a narrativa que escrevi no dia seguinte.


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Nunca tinha ouvido falar de terremoto por essas bandas, mas ontem quando senti a casa chacoalhando por volta das 4 da manhã foi a primeira coisa que me passou pela cabeça. Na verdade, não, primeiro imaginei que alguém estivesse subindo no sotão, mas nem nas festas mais barulhentas que meus roommates já deram eu senti a cama balançando! Daí pensei, "bom, ou é terremoto ou é furacão".

Coincidentemente eu estava acordado. Tinha acabado de chegar de uma gig em Chicago, depois de dirigir por quase duas horas na pior nevasca do ano. O tremor foi coisa de 10 minutos depois que fui me deitar. Foi um tremor leve, de 3.8 que até onde sei não causou nenhum estrago. Eu comecei ouvindo um barulho como que atravessando a casa toda, depois senti minha cama tremendo e quando me leventei pra ver o que era vi que o abajour também estava chacoalhando. Foi bom ter a certeza de ver o abajour, porque eu não sendo, digamos assim, mais tão jovem, já tive diversas experiências onde meus sentidos me traíram, então sempre penso que é o caso e busco uma prova irrefutável! Bom, a prova irrefutável tive mesmo quando acordei no Daily Chronicle e no Chicago Tribune

Muita adrenalina pra um dia só!


domingo, 20 de dezembro de 2009

Férias enfim!!!

Uma semana depois de todo mundo, os músicos da Jazz Ensemble finalmente tiveram suas férias! A "culpa" foi da turnê tardia que fizemos essa semana. A JE foi selecionada pra tocar na Midwest Clinic, um dos maiores congressos em educação musical relacionada a bandas e grupos musicais de universidades e escolas. Nesse meio o professor Carter é semideus, então pra ele foi realmente um "big deal".

Pra mim essa turnê teve altos e baixos. Na terça, quando fomos fazer uma clínica e tocar numa big band, eu estava bem doente. Eu havia tomado a vacina contra a gripe suína no dia anterior e tive uma reação colateral muito forte. Fiquei enjoadíssimo o dia todo, com dor de barriga, febre e dor no corpo. No fim, me perguntei se a gripe suína seria pior do que o estava passando. Duvido. Quando chegamos de volta ainda tive que andar uns quarteirões até minha casa e realmente não recomendo caminhar por aí com febre a uma temperatura de -15C.

Quarta também foi dia de "baixos". Achei o congresso todo uma chatice e não entendi bem por que estava ali, já que só tocaríamos na quinta. A parte boa foi que ficamos hospedados num ótimo hotel em Chicago, o Hyatt, bem no centro da cidade. Foi um plus muito bem vindo ganhar essa hospedagem, coisa que não seria provável, já que Dekalb não fica muito longe. A idéia por trás foi justamente nos disponibilizar um acesso full time ao evento. Na quarta nós tocamos no Jazz Showcase, que é uma das casas de jazz mais importantes em Chicago. De novo um "baixo". Ron Carter interpretou mal algo que eu disse e o clima ficou bem pesado. Quando se toca na ferida dele, ou melhor quando ele sente a sua autoridade desafiada, sai de baixo... Como eu disse, fui mal interpretado, mas com ele é melhor ficar quieto pra não piorar as coisas. Isso fez com eu tocasse a segunda parte sem o menor entusiasmo.

O "alto" foi a Big Band da "Warren Township High School" que abriu pra gente. A big band, que também foi selecionada pra tocar no congresso, quebrou tudo. Dinâmica, swing, linguagem, tudo perfeito. Dois dos saxofonistas são muito bons e um deles botou o Jazz Showcase abaixo. O moleque é impressionante e todo mundo saiu falando que ele toca melhor que os saxofonistas da JE. Chegamos no hotel quase meia-noite e ainda saímos andando pelas ruas da cidade pra achar algo pra comer. Achamos um lugar ainda aberto na Wabash Ave. que nos serviu comida ótima e relativamente barata pra Chicago (em torno de U$10.oo). Não, não é perigoso andar pelas ruas do centro de Chicago de madrugada.

Quinta foi nosso grande dia no congresso. Fomos lá de manhã pra assistir a um outro show e eu tive que voltar pra comprar uma camisa branca, já que não fui avisado que esse seria o uniforme pro show. Fiquei meio puto, mas no fim foi ótimo porque acabei passeando mais uma vez pelo centro de Chicago e descobri um restaurante maravilhoso chamado Italian Village. Eu vi o nome de longe e algo me disse que tinha que almoçar lá. Chegando lá um cartaz dizia "o primeiro restaurante italiano de Chicago". O lugar, uma espécie de cantina, tem de fato um glamour incrível e passa a sensação de tradição mesmo. Tinha fila de espera mas consegui um lugar espremido no balcão. O garçom, um velhinho muito simpático, que, suponho eu, trabalha lá já há muitos anos, chamava vários clientes pelo nome. Pedi uma lasanha e sem resistir ao astral do lugar, acabei tomando uma taça de vinho.

Mas o dever me chamava e corri pra pegar o fretado de volta para o McCormick Center. Tudo lá foi extremamente organizado e o som estava perfeito. O salão que devia ter lugar pra umas 1.000 pessoas ou mais, estava lotado e tivemos a honra de ter como ouvinte, bem na primeira fila, Ellis Marsalis, grande músico e educador, além de portador de um DNA privilegiado, que gerou quatro extraordinários músicos, entre eles Branford e Winton Marsalis. Fizemos talvez o nosso melhor show. A banda fez juz a fama "swingar forte", mesmo sem ter uma grande seção de saxofones. O clima ruim do dia anterior se dissipou por completo e no fim fomos embora com a sensação de que todo o nosso esforço não tinha sido em vão.

A JE ficaria em Chicago até o dia seguinte mas eu precisei voltar mais cedo por causa das minhas aulas em Oaklawn. Não foi sem tristeza que vim embora. O tempo em Chicago estava até bom e não vi neve em lugar nenhum. Em Dekalb - já vazia por causa das férias - a neve acumula e o cenário que encontraria aqui não me animava a voltar.

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Escrevo meu último post do ano em quarto novo. Allison se mudou e eu vim pro quarto dela, que é um pouco maior e tem vista pra rua. De lambuja ainda fiquei com alguns móveis dela e agora tenho um quarto bem mais aconchegante. Jamie, Erik, Ramon e Tera também se mudaram. Coincidentemente o único que ficou da panela foi o Lewis, que ao menos sorri pra mim. Confesso que estou aliviado. De uma maneira geral, esse inverno não chegou pra mim sombrio como o ano passado. Agora minha vida aqui é bem diferente. Tenho carro, estou trabalhando, tocando e dando aula e aos poucos começo a ter meus amigos também.

Agora vou fechar pra balanço. Daqui algumas horas minha noiva Daniela está chegando por aqui. As saudades são muitas pra matar. Tem muitas coisas e lugares que quero mostrar pra ela.

Agradeço a todos que vem acompanhado minhas histórias. É bom ter os amigos por perto, ainda que de maneira virtual. Desejo a todos um ótimo Natal e um excelente 2010!



Com o grande Ellis Marsalis depois do show

sábado, 12 de dezembro de 2009

Multas ao sabor da Brahma!!!




To aqui em Dekalb, acredite se quiser, saboreando uma Brahma. Já tomei umas par delas enquanto conversava com meu velho amigo de infância, Rafaelo Galvão, que também mora nos EUA. Não nos vemos há muitos anos e ficamos muito tempo sem nos falar, mas como costuma ser com verdadeiros amigos, parece que foi semana passada que nos vimos.

Quanto à Brahma, estou um dia numa liquor store a procura de uma cerveja diferente - e uma coisa legal aqui é que a variedade de cervejas é enorme e algumas lojas mesmo tem as cervejas agrupadas por países - bom, mas de repente me deparo com um 6-pack da Brahma! Foi uma surpresa porque nunca tinha visto cerveja brasileira aqui. Acabei não comprando no dia, mas hoje me deu saudades do Brasil e vontade de beber e mesmo achando que as 6 long necks da Brahma não valem U$7.99, acabei comprando assim mesmo.

O que me motivou a escrever foi a multa que quase tomei. Pela vigésima sétima vez fui parado pela polícia (pull over, como se diz aqui), que como já disse uma vez, não tem muito o que fazer por aqui, então acaba enchendo o saco da gente. Eles chegam muito educados pra gente "boa noite senhor, você sabe porque estou te parando?". Não sabia, quer dizer, achei que era por causa do celular, o que é permitido em algumas cidades mas em outras não (tinha ido tocar num subúrbio de Chicago), mas foi porque "o senhor estava a 66 milhas/hora, é o limite e 55". Cara, juro por Deus, tinha um monte de neguinho dirigindo mais rápido que eu. Bom, ai joguei aquela conversinha, "olha senhor, eu sou músico, estava trabalhando, não conheço bem essa região, achei que o limite fosse 65, etc. Ai ele disse: você é músico? estuda na NIU? sim. Toca na Jazz Ensemble com Ron Carter? Sim! Dai ele disse: "Eu também fui pra NIU, e tocava bateria na Jazz Ensemble". O quê????!!! Bom, o final da história você já sabe, conversa vai, conversa vem, e por algum milagre do destino me livrei de mais uma multa. Olha, outra dessas só daqui a 100 anos.

Aqui nos EUA tem uma coisa interessante para os bebuns que é a seguinte, você só pode ser parado pela polícia se tiver cometido alguma infração. Eles não podem escolher aleatoriamente como fazem no Brasil. Claro que qualquer coisa é motivo. O sinal dePARE aqui é pare mesmo, 100%, não vale aquela migueladinha que a gente dá no Brasil. Eu já fui seguido por polícia várias vezes, geralmente saindo de bar (mas nem sempre) eles te seguem esperando você dar um vacilo pra que eles possam te parar e fazer o bafômetro. Todos os policiais aqui tem um computador de bordo no carro, onde eles podem acessar as informações dos carros e bafômetro, pra pegar estudante bêbado. Não que nem em Campinas, tipo 2 bafômetros pra cidade inteira!

Eu estou falando de multa porque disso eu entendo tá!!!! Minha primeira multa aqui foi, claro, em Dekalb, por excesso de velocidade, ($75.00). 40 milhas (64km) onde o limite era 30 (58km). Em carro com câmbio automático, numa pista que o trânsito está andando, 30 não é nada e 40 chega fácil, fácil. O guarda foi tão educado que quase falei "obrigado moço!".

A segunda foi em Chicago "furando o sinal vermelho" (U$100.00). Aqui você pode furar o sinal vermelho pra converter à direita, EXCETO quando tem uma placa dizendo que ali não pode! Puta sacanagem, 1:30h da manhã, vindo embora de Chicago, quem é que vê placa gente??? Mas o pior estava por vir. Estou eu vindo cansando do Wisconsin, onde dou aula, tendo que dirigir quase 1:30h pra chegar em casa, brasileiro como sou, nunca dei muita atenção para os aviso de WORK ZONE, FINES DOUBLE IN WORK ZONE, $375 MINIMUM. Pois, me f*$#&¨@*(&#. Na work zone, que é o trecho em obras, o limite é 45 milhas por hora (72km), quando o normal é 65 (105). Não teve choro nem vela. O camarada, checou meu histórico em alguns minutos, apreendeu minha carta e me mandou pro juiz. Sim, o idiota aqui foi pra corte.

A corte foi marcada, ironia do destino, para o mesmo dia da minha viagem ao Brasil, em junho. Consegui antecipá-la para dois dias antes. Fala sério, euzinho da silva aqui indo pro tribunal???? O paisinho lazarento! Bom, lá você imagina né, um monte de mexicano e um povo super esquisito. Tem até intérprete pra espanhol! Antes de me dirigir ao juíz o promotor me chamou e disse: "olha, nós vamos te oferecer 'court supervision' + $675 de multa". Quanto????? 675?? Tá louco??? O mínimo não é $375??? "É meu jovem, mas o máximo é 1000!!"

Seguindo o conselho do advogado da NIU, pedi o adiamento pra quando eu voltasse do Brasil. Mas não teve escapatória. Chegando aqui de volta, apelei para a sensibilidade feminina de uma juíza que estava lá e de lambuja levei $100 de desconto, tendo ainda que pagar $575. Mas tudo bem, porque eles parcelam em 10x sem juros. Tá óooootimo. E tudo mês lá vai um chequinho de $50 para o Detran de Rockfork. Oh raiva!!! Jurei pra mim mesmo que nunca mais tomaria multas aqui nesse país maldito. Mas minha promessa foi quebrada em uma semana...

Dia desses fui pra Chicago fazer uma gigizinha de $65.00. Faz as contas: 15 de gás e pedágio + 10 de cerveja + 10 de rang0 + 100 de multa = -70. Pô, ser músico dá prejuízo! Essa multa é engraçada, vocês podem vê-la no vídeo da prefeitura de Chicago. Bom, eu nem sei se posso divulgar isso mas aí vai, entre no site:

http://egov.cityofchicago.org/revenue/

Clique no quadrado vermelho à direita que diz "View your red-light violation video".

Depois que entrar lá preencha:

Citation number: 7002187011
License plate number: A550183

O tonto aqui é o terceiro carro que passa, logo atrás de uma camionete. Dá até pra ver o flash da foto.

Aprendi que nesse país a lei é pra valer. Por mais que tenha ficado puto com as multas que tomei e acho de certa forma há um certo exagero e mesmo um "indústria de multas" também, por outro também noto como são menos frequentes aqui os acidentes de trânsito. Nas minhas idas ao Wisconsin, nunca vi um acidente grave sequer. Parece que a lei acaba surtindo efeito. Percebo claramente isso nos meus amigos aqui que realmente evitam a todo custo dirigir e beber. Aqui DUI (driving under influence) é coisa muito sério mesmo, e ninguém quer isso no currículo.

Peace!




A garrafa é mais engraçadinha