domingo, 1 de novembro de 2015

Dekalb News 10 - Halloween

Esse texto foi escrito e enviado a um grupo de emails em 9/11/2008. A única coisa que mudei foram os acentos que na época não usava por causa do pc. As fotos também são da época.






Bar decorado



Casas decoradas na rua que morava






Em diversos países, principalmente aqueles de origem anglo-saxônica, comemora-se no dia 31 de outubro o Halloween. Eu sempre achei (e continuo achando) que Halloween não tem nada a ver com o Brasil nem com nossa cultura, que está muito mais pra Saci do que pra Freddy Krueger, mas aqui nos EUA eu gostei de ver a coisa toda rolando. Apesar do esforço das escolas de inglês em levar a festa pro Brasil, me parece que ela nunca vai chegar a ser uma sombra do que é por aqui, já que até onde pude perceber aqui a festa tem uma tradição forte e possui raízes históricas, como eu supunha. Uma pesquisa rápida no Wikipédia me informou que a comemoração do Halloween chegou em solo americano através dos colonos irlandeses, e que por sua vez carregam essa tradição desde os seus ancestrais celtas há muitos séculos.

O Halloween me lembrou um pouco o nosso carnaval, com pessoas fantasiadas, festa em todo canto e libido no ar. As preparações já começaram há mais de um mês, com quase todas as lojas e supermercados vendendo artefatos pra festa, de fantasias, cartões, brinquedos para as crianças a decorações de todo o tipo. Isso inclui teias de aranha de mentira (com aranhas de plástico no meio), abajures em forma de abóbora e de morcegos e os pacotes cheios de doces pra oferecer pra crianças que batem às portas pedindo por "trick or treat" (doces ou travessuras!).

Eu vi – ou fiquei sabendo de – muitas atividades que aconteceram em função do Halloween, a maior parte dirigida às crianças, que fazem uma farra danada. Coisas como disputa de fantasias, prêmio pra melhor abóbora e perseguições com susto no meio do milharal. Essa coisa da abóbora é um barato. Você vai lá compra uma – tem de diversos tamanhos – e trabalha a dita cuja até ela virar a assombração que você quiser. O Alejandro me convidou pra ir com a Sarah participar da brincadeira, mas acabou não dando pra ir. A Sarah é uma americana muito gente boa, extremamente crítica da política e da cultura americanas, graças em parte a ter vivido um ano na Indonésia. Ela conta que só depois que chegou lá conseguiu ter uma clareza maior do que acontece fora do país e pensou assim "meu Deus, o que nós estamos fazendo com o mundo"; palavras dela.

O lance do milharal é assim: parece que tem tipo um labirinto no meio dele e a criançada fica tentando achar saída, enquanto os marmanjos ficam fantasiados assustando a garotada. Eu fiquei empolgado com o tal do trick-or-treat, por aqui em Dekalb a criançada pode andar nas ruas sem medo. O pessoal aqui em casa até comprou vários pacotes com doces pra dar pras crianças, mas eu não estava por aqui quando elas passaram. Eu vi um grupinho delas fantasiadas andando na rua, mas fiquei com medo de tirar fotos e ser preso por pedofilia. Quanto às fantasias, ai já é generalizado, todo mundo participa. Mesmo estando numa semana com uma "homesick" danada eu acabei cedendo e comprei uma máscara pra não dizer que não me fantasiei.

Como já disse, estava rolando festa em todo lugar, inclusive na república dos músicos onde estive na minha primeira semana, na minha primeira jam session. Lá rolou o Halloween do jazz (em português é jass!!!), onde a maior parte da galera não entrou no espírito da fantasia e tava mais afim de fazer um som mesmo. Tinha bastante "afro-americanos" na festa, mas já comecei a perceber que uma boa parte deles não dá muito papo pra branco não.  Então eu e Alejandro resolvemos ir pro Starbusters, o bar onde se concentrou a maior parte da galera. No caminho vi muita gente fantasiada andando pelas ruas, grupos grandes. Me lembrou aquele filme "A Volta dos mortos-vivos", quando sai aquela defuntada toda do cemitério e rola tipo uma dança, meio humor negro (será que é isso? Faz muito tempo que vi o filme...). O Starbusters estava lotado e não deixaram a gente entrar. Demos uma passada no Fattie's mas a festa lá estava meio fraca. Tirei umas fotos mesmo assim e voltamos pra ver a galera saindo do outro bar e curtir as fantasias. Aliás tirei algumas fotos da rua, do povo passando. Um barato!

Por alguma razão que Freud deve explicar, no Halloween, mais da metade das mulheres se fantasiam de puta, e parece que uma boa parte age como tal nos clubs e nas festas, levantando a blusa, etc, mas confesso que não vi nada assim. Aliás a questão da sexualidade é uma coisa engraçada nesse país. Eu reparei que as pessoas, começando pelos meus roommates, nunca falam de sexo ou de relacionamentos em geral, o que achei bem estranho, dado a idade média de 20 anos. Aqui, raramente se faz um comentário sobre uma mulher e as pessoas são realmente muito reservadas com tudo que diz respeito a sua vida privada (mulheres brasileiras, sinto decepcioná-las, mas olha, ai no Brasa, homem só fala disso!!). Também a gente não vê casal se beijando ou se abraçando. Você nunca sabe se um casal é amigo ou namorado. Aqui a coisa do assédio e da pedofilia é uma paranóia; pais acompanhando aulas individuais dos filhos e reuniões sempre a portas abertas. Mais de uma vez eu ouvi a expressão "zona de segurança", que é como se fosse uma redoma em volta das pessoas, a qual você não deve ultrapassar. Catina sempre conta sobre do dia em que ela estava na piscina com a sobrinha dela de 4 anos quando veio um policial mandando a menina pôr a parte de cima do biquíni (ela estava sem) ou senão teria que sair da piscina.

Mas tem uma história engraçada. No meu primeiro dia aqui fui à casa do Pete e estava lá quando entrou uma amiga dele na casa. Eu, ainda com os costumes brasileiros arraigados levantei e fui em direção a ela com o intuito de cumprimentá-la mas ela saiu pra trás, quase correndo, com os braços esticados falando, "ei, o que que você quer, para, para!!". Foi a primeira vez que eu ouvi a expressão "zona de segurança". Mas curiosamente, no Halloween todas as mulheres querem virar puta – e os homens querem estar por perto.



Jam session da pesada! Alguns dos melhores músicos que conheci estão na foto, incluindo Patrick Terbrach (branco à esquerda) e Willerm Dellisfort (no piano).



Eu e Alejandro


Pessoas nas ruas I


Pessoas nas ruas II


Pessoas no Fattie's



Fantasia original!



Não é o que você está pensando!! Apenas pedi pra tirar uma foto com essas simpáticas moças que estavam na rua.

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