domingo, 20 de dezembro de 2009

Férias enfim!!!

Uma semana depois de todo mundo, os músicos da Jazz Ensemble finalmente tiveram suas férias! A "culpa" foi da turnê tardia que fizemos essa semana. A JE foi selecionada pra tocar na Midwest Clinic, um dos maiores congressos em educação musical relacionada a bandas e grupos musicais de universidades e escolas. Nesse meio o professor Carter é semideus, então pra ele foi realmente um "big deal".

Pra mim essa turnê teve altos e baixos. Na terça, quando fomos fazer uma clínica e tocar numa big band, eu estava bem doente. Eu havia tomado a vacina contra a gripe suína no dia anterior e tive uma reação colateral muito forte. Fiquei enjoadíssimo o dia todo, com dor de barriga, febre e dor no corpo. No fim, me perguntei se a gripe suína seria pior do que o estava passando. Duvido. Quando chegamos de volta ainda tive que andar uns quarteirões até minha casa e realmente não recomendo caminhar por aí com febre a uma temperatura de -15C.

Quarta também foi dia de "baixos". Achei o congresso todo uma chatice e não entendi bem por que estava ali, já que só tocaríamos na quinta. A parte boa foi que ficamos hospedados num ótimo hotel em Chicago, o Hyatt, bem no centro da cidade. Foi um plus muito bem vindo ganhar essa hospedagem, coisa que não seria provável, já que Dekalb não fica muito longe. A idéia por trás foi justamente nos disponibilizar um acesso full time ao evento. Na quarta nós tocamos no Jazz Showcase, que é uma das casas de jazz mais importantes em Chicago. De novo um "baixo". Ron Carter interpretou mal algo que eu disse e o clima ficou bem pesado. Quando se toca na ferida dele, ou melhor quando ele sente a sua autoridade desafiada, sai de baixo... Como eu disse, fui mal interpretado, mas com ele é melhor ficar quieto pra não piorar as coisas. Isso fez com eu tocasse a segunda parte sem o menor entusiasmo.

O "alto" foi a Big Band da "Warren Township High School" que abriu pra gente. A big band, que também foi selecionada pra tocar no congresso, quebrou tudo. Dinâmica, swing, linguagem, tudo perfeito. Dois dos saxofonistas são muito bons e um deles botou o Jazz Showcase abaixo. O moleque é impressionante e todo mundo saiu falando que ele toca melhor que os saxofonistas da JE. Chegamos no hotel quase meia-noite e ainda saímos andando pelas ruas da cidade pra achar algo pra comer. Achamos um lugar ainda aberto na Wabash Ave. que nos serviu comida ótima e relativamente barata pra Chicago (em torno de U$10.oo). Não, não é perigoso andar pelas ruas do centro de Chicago de madrugada.

Quinta foi nosso grande dia no congresso. Fomos lá de manhã pra assistir a um outro show e eu tive que voltar pra comprar uma camisa branca, já que não fui avisado que esse seria o uniforme pro show. Fiquei meio puto, mas no fim foi ótimo porque acabei passeando mais uma vez pelo centro de Chicago e descobri um restaurante maravilhoso chamado Italian Village. Eu vi o nome de longe e algo me disse que tinha que almoçar lá. Chegando lá um cartaz dizia "o primeiro restaurante italiano de Chicago". O lugar, uma espécie de cantina, tem de fato um glamour incrível e passa a sensação de tradição mesmo. Tinha fila de espera mas consegui um lugar espremido no balcão. O garçom, um velhinho muito simpático, que, suponho eu, trabalha lá já há muitos anos, chamava vários clientes pelo nome. Pedi uma lasanha e sem resistir ao astral do lugar, acabei tomando uma taça de vinho.

Mas o dever me chamava e corri pra pegar o fretado de volta para o McCormick Center. Tudo lá foi extremamente organizado e o som estava perfeito. O salão que devia ter lugar pra umas 1.000 pessoas ou mais, estava lotado e tivemos a honra de ter como ouvinte, bem na primeira fila, Ellis Marsalis, grande músico e educador, além de portador de um DNA privilegiado, que gerou quatro extraordinários músicos, entre eles Branford e Winton Marsalis. Fizemos talvez o nosso melhor show. A banda fez juz a fama "swingar forte", mesmo sem ter uma grande seção de saxofones. O clima ruim do dia anterior se dissipou por completo e no fim fomos embora com a sensação de que todo o nosso esforço não tinha sido em vão.

A JE ficaria em Chicago até o dia seguinte mas eu precisei voltar mais cedo por causa das minhas aulas em Oaklawn. Não foi sem tristeza que vim embora. O tempo em Chicago estava até bom e não vi neve em lugar nenhum. Em Dekalb - já vazia por causa das férias - a neve acumula e o cenário que encontraria aqui não me animava a voltar.

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Escrevo meu último post do ano em quarto novo. Allison se mudou e eu vim pro quarto dela, que é um pouco maior e tem vista pra rua. De lambuja ainda fiquei com alguns móveis dela e agora tenho um quarto bem mais aconchegante. Jamie, Erik, Ramon e Tera também se mudaram. Coincidentemente o único que ficou da panela foi o Lewis, que ao menos sorri pra mim. Confesso que estou aliviado. De uma maneira geral, esse inverno não chegou pra mim sombrio como o ano passado. Agora minha vida aqui é bem diferente. Tenho carro, estou trabalhando, tocando e dando aula e aos poucos começo a ter meus amigos também.

Agora vou fechar pra balanço. Daqui algumas horas minha noiva Daniela está chegando por aqui. As saudades são muitas pra matar. Tem muitas coisas e lugares que quero mostrar pra ela.

Agradeço a todos que vem acompanhado minhas histórias. É bom ter os amigos por perto, ainda que de maneira virtual. Desejo a todos um ótimo Natal e um excelente 2010!



Com o grande Ellis Marsalis depois do show

sábado, 12 de dezembro de 2009

Multas ao sabor da Brahma!!!




To aqui em Dekalb, acredite se quiser, saboreando uma Brahma. Já tomei umas par delas enquanto conversava com meu velho amigo de infância, Rafaelo Galvão, que também mora nos EUA. Não nos vemos há muitos anos e ficamos muito tempo sem nos falar, mas como costuma ser com verdadeiros amigos, parece que foi semana passada que nos vimos.

Quanto à Brahma, estou um dia numa liquor store a procura de uma cerveja diferente - e uma coisa legal aqui é que a variedade de cervejas é enorme e algumas lojas mesmo tem as cervejas agrupadas por países - bom, mas de repente me deparo com um 6-pack da Brahma! Foi uma surpresa porque nunca tinha visto cerveja brasileira aqui. Acabei não comprando no dia, mas hoje me deu saudades do Brasil e vontade de beber e mesmo achando que as 6 long necks da Brahma não valem U$7.99, acabei comprando assim mesmo.

O que me motivou a escrever foi a multa que quase tomei. Pela vigésima sétima vez fui parado pela polícia (pull over, como se diz aqui), que como já disse uma vez, não tem muito o que fazer por aqui, então acaba enchendo o saco da gente. Eles chegam muito educados pra gente "boa noite senhor, você sabe porque estou te parando?". Não sabia, quer dizer, achei que era por causa do celular, o que é permitido em algumas cidades mas em outras não (tinha ido tocar num subúrbio de Chicago), mas foi porque "o senhor estava a 66 milhas/hora, é o limite e 55". Cara, juro por Deus, tinha um monte de neguinho dirigindo mais rápido que eu. Bom, ai joguei aquela conversinha, "olha senhor, eu sou músico, estava trabalhando, não conheço bem essa região, achei que o limite fosse 65, etc. Ai ele disse: você é músico? estuda na NIU? sim. Toca na Jazz Ensemble com Ron Carter? Sim! Dai ele disse: "Eu também fui pra NIU, e tocava bateria na Jazz Ensemble". O quê????!!! Bom, o final da história você já sabe, conversa vai, conversa vem, e por algum milagre do destino me livrei de mais uma multa. Olha, outra dessas só daqui a 100 anos.

Aqui nos EUA tem uma coisa interessante para os bebuns que é a seguinte, você só pode ser parado pela polícia se tiver cometido alguma infração. Eles não podem escolher aleatoriamente como fazem no Brasil. Claro que qualquer coisa é motivo. O sinal dePARE aqui é pare mesmo, 100%, não vale aquela migueladinha que a gente dá no Brasil. Eu já fui seguido por polícia várias vezes, geralmente saindo de bar (mas nem sempre) eles te seguem esperando você dar um vacilo pra que eles possam te parar e fazer o bafômetro. Todos os policiais aqui tem um computador de bordo no carro, onde eles podem acessar as informações dos carros e bafômetro, pra pegar estudante bêbado. Não que nem em Campinas, tipo 2 bafômetros pra cidade inteira!

Eu estou falando de multa porque disso eu entendo tá!!!! Minha primeira multa aqui foi, claro, em Dekalb, por excesso de velocidade, ($75.00). 40 milhas (64km) onde o limite era 30 (58km). Em carro com câmbio automático, numa pista que o trânsito está andando, 30 não é nada e 40 chega fácil, fácil. O guarda foi tão educado que quase falei "obrigado moço!".

A segunda foi em Chicago "furando o sinal vermelho" (U$100.00). Aqui você pode furar o sinal vermelho pra converter à direita, EXCETO quando tem uma placa dizendo que ali não pode! Puta sacanagem, 1:30h da manhã, vindo embora de Chicago, quem é que vê placa gente??? Mas o pior estava por vir. Estou eu vindo cansando do Wisconsin, onde dou aula, tendo que dirigir quase 1:30h pra chegar em casa, brasileiro como sou, nunca dei muita atenção para os aviso de WORK ZONE, FINES DOUBLE IN WORK ZONE, $375 MINIMUM. Pois, me f*$#&¨@*(&#. Na work zone, que é o trecho em obras, o limite é 45 milhas por hora (72km), quando o normal é 65 (105). Não teve choro nem vela. O camarada, checou meu histórico em alguns minutos, apreendeu minha carta e me mandou pro juiz. Sim, o idiota aqui foi pra corte.

A corte foi marcada, ironia do destino, para o mesmo dia da minha viagem ao Brasil, em junho. Consegui antecipá-la para dois dias antes. Fala sério, euzinho da silva aqui indo pro tribunal???? O paisinho lazarento! Bom, lá você imagina né, um monte de mexicano e um povo super esquisito. Tem até intérprete pra espanhol! Antes de me dirigir ao juíz o promotor me chamou e disse: "olha, nós vamos te oferecer 'court supervision' + $675 de multa". Quanto????? 675?? Tá louco??? O mínimo não é $375??? "É meu jovem, mas o máximo é 1000!!"

Seguindo o conselho do advogado da NIU, pedi o adiamento pra quando eu voltasse do Brasil. Mas não teve escapatória. Chegando aqui de volta, apelei para a sensibilidade feminina de uma juíza que estava lá e de lambuja levei $100 de desconto, tendo ainda que pagar $575. Mas tudo bem, porque eles parcelam em 10x sem juros. Tá óooootimo. E tudo mês lá vai um chequinho de $50 para o Detran de Rockfork. Oh raiva!!! Jurei pra mim mesmo que nunca mais tomaria multas aqui nesse país maldito. Mas minha promessa foi quebrada em uma semana...

Dia desses fui pra Chicago fazer uma gigizinha de $65.00. Faz as contas: 15 de gás e pedágio + 10 de cerveja + 10 de rang0 + 100 de multa = -70. Pô, ser músico dá prejuízo! Essa multa é engraçada, vocês podem vê-la no vídeo da prefeitura de Chicago. Bom, eu nem sei se posso divulgar isso mas aí vai, entre no site:

http://egov.cityofchicago.org/revenue/

Clique no quadrado vermelho à direita que diz "View your red-light violation video".

Depois que entrar lá preencha:

Citation number: 7002187011
License plate number: A550183

O tonto aqui é o terceiro carro que passa, logo atrás de uma camionete. Dá até pra ver o flash da foto.

Aprendi que nesse país a lei é pra valer. Por mais que tenha ficado puto com as multas que tomei e acho de certa forma há um certo exagero e mesmo um "indústria de multas" também, por outro também noto como são menos frequentes aqui os acidentes de trânsito. Nas minhas idas ao Wisconsin, nunca vi um acidente grave sequer. Parece que a lei acaba surtindo efeito. Percebo claramente isso nos meus amigos aqui que realmente evitam a todo custo dirigir e beber. Aqui DUI (driving under influence) é coisa muito sério mesmo, e ninguém quer isso no currículo.

Peace!




A garrafa é mais engraçadinha

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Liberace na mansão do governador




A Liberace é o principal combo da NIU. Os integrantes são em geral os melhores músicos da universidade e recebem uma assistantship da fundação Liberace, que até hoje não descobri o que é. Eu estava na expectativa se faria parte do grupo ou não porque professor Carter já havia me dito que a fundação havia cortado boa parte dos fundos devido a essa crise na economia, e que ainda não tinham a verba para me colocar no grupo. Mas na primeira semana de aula, ele cruzou comigo no corredor da universidade e disse que havia conseguiu a verba pra eu fazer parte do grupo.

O único remanescente da formação anterior é o trombonista Shawn Bell, uma espécie de braço direito de Carter. Ele é o tipo de cara que tem tudo pra ser chato, todo certinho, daqueles que nunca atrasam, tira 10 em todas as matérias e SEMPRE faz o que lhe é atribuído da melhor maneira possível e dentro do prazo. Mas Shawn não tem nada de chato, é super gente fina e ainda toca muito, além de ser um grande arranjador.

Dois músicos vieram da Michigan State University, que tem um programa de jazz conceituadíssimo, o baixista Nathan Brown e o trompetista e pianista Ross Margitza. Nate tem um som de baixo gigantesco que faz jus ao seu professor na MSU, o renomado Rodney Whitaker. Ele é o tipo de figura que só aqui nos EUA mesmo: sem malícia nenhuma, leva ao tudo ao pé da letra, leva meia hora pra falar qualquer coisa e fala tudo nos mínimos detalhes. Um adolescentezão. É como eu achei que seria o Shawn!! Eu cheguei mesmo a duvidar do seu QI, mas nas horas em que fomos conversando na nossa viagem pra Springfield, Nate se revelou bastante inteligente e informado.

Ross é um daqueles caras que a gente fica pensando, "só pode ser um gênio". Ele tem 21 um anos mas parece bem mais velho, fisicamente falando e também devido à sua maturidade, musical e pessoal. Quando ele chegou aqui e pegou no trumpete na primeira canja tudo mundo ficou de boca aberta com a sua musicalidade e seus solos belíssimos, cheios de melodia, blues e swing. Como se não bastasse, na segunda música ele sentou no piano e repetiu o feito. Difícil acreditar.

O grupo fecha com o saxofonista Brian Fritz, o único estudante de graduação do grupo e o baterista que veio da Carolina do Sul, Xavier Breaker. Xavier, que aqui se pronuncia Ex-Zeivier (afff..), é o único afro-americano do grupo e outro que deixa todo mundo de boca aberta. O menino, que é também um doce de pessoa, esbanja musicalidade e pela primeira vez na vida eu consegui ouvir num solo de bateria não só melodia, mas também harmonia! Eu sei que parece absurdo, mas é exatamente o que eu ouço quando ele toca.

A Liberace tem entre as suas atribuições dois ensaios semanais de duas horas supervisionados pelo professor Carter e a administração dos demais combos da universidade, lecionando e organizando tudo. Além disso participamos de muitos eventos aqui na universidade, acompanhando os artistas visitantes e tocando aqui e ali. Boa parte das gigs são pagas, como foi essa última, uma performance na mansão do governador de Illinois em Springfield, 3 horas sul de Dekalb.

Como eles queriam um trio, fomos só eu Nathan e Xavier. Em eventos desse tipo a universidade cede uma van (sem motorista!) e cobre as despesas da viagem. Além de disso recebemos um ótimo cachê (meu melhor até agora!). Não entendi muito bem o que foi o evento, mas foi tipo um cocktail oferecido pela NIU para alguns de seus colaboradores. E não, o governador não estava lá! Que desfeita!! Aliás o governador atual, Pat Quinn assumiu após o impeachment do anterior, Rod Blagojevich, que é a cara do Nista, da banda Som Especial!! Na época do escândalo, mais ou menos há um ano atrás, aparecia a foto do bendito todo dia no jornal, e cada dia que passava eu achava os dois ainda mais parecidos!! O Nista, manda uma foto ai vai!

Springfield, pelo pouco que consegui ver, parece um brinco de cidade. Tudo bonitinho, organizado, limpinho, etc. Não sei como é para os americanos, mas pra mim é um troço tão diferente do que se tem no Brasil que não deixo de ficar meio deslumbrado. Acho que eles sentem o mesmo quando se deparam com a "bagunça" despojada da América Latina!



Aerogeradores para energia eólica no começo da viagem. Nunca tinha visto ao vivo :)


Parece aqueles imagens da bíblia. Fiquei esperando pra ver se via algum anjo!!


Chegando em Springfield


Centro da cidade


A mansão do governador


Cadê o governador? Não vem falar comigo não?


Olha o trio aí


Saindo de Springfield

sábado, 21 de novembro de 2009

Os sonhos não envelhecem


Diz o velho cliché que na América todos os são possíveis. No que diz respeito às coisas materiais, isso é bem próximo da verdade e hoje realizei um sonho antigo e comprei minha primeira Fender Stratocaster americana. Não sei quando foi que começou a minha obsessão por esse instrumento, mas talvez tenha sido quando comecei a mergulhar na música de Stevie Ray Vaughan e a transcrever seus solos. Mas não sei não, talvez tenha sido bem antes.

Ontem fui a uma Guitar Center, que é uma cadeia de lojas de instrumentos muito grande aqui nos EUA. A primeira vez que entrei numa loja dessas eu tive tremedeira. Tem de tudo e aos montes. Tem sala climatizada para os violões e todas as marcas imagináveis. Instrumentos que no Brasil são "incompráveis" de tão caros, ficam ali expostos para serem testados sem nenhum stress. Não faz muito tempo me dei conta que a Guitar Center também trabalha com instrumentos usados e costuma ter ofertas irrecusáveis. Os preços de equipamentos novos nas lojas aqui são meio que tabelados. Sempre pesquiso em sites como Musician's Friends, Zzounds, Music 123, Sweetwater e American Musical Center mas normalmente não há muita diferença de uma pra outra. Já com usados a história é outra, mas normalmente aí só funciona indo pessoalmente. Na Guitar Center o melhor de tudo é que as ofertas aparecem no site. Foi numa dessas que consegui comprar a minha mesa amplificada Peavey pra minhas gigs de violão e voz por U$80. No Brasil não custaria menos de R$1000,00. Ontem fui lá na loja de Rockford, a 45 min de Dekalb, pra comprar um Cry Baby Wah-Wah por U$17 e um Equalizer Boss por U$37. Cheguei lá, vi a Fender dos meus sonhos por U$740. Muito pouco por um sonho.

No Brasil quase comprei uma Fender Highway usada por R$3000,00. É a mais barata das made in USA. Aqui custa, nova, U$700,00. É um instrumento ok, mas seria só um quebra galho de um sonho. Aqui eu posso e quero mais! Pelo menos a American Standard vai! Custava $1000,00 quando cheguei, depois subiu pra U$1200,00. Quem disse que não tem inflação?? Mas a American Deluxe, um modelo acima da AS, já era querer demais. Nova custa uns $1500-1600,00. Comprei com 10% de desconto, por menos de U$700,00, com as taxas U$720,00. Ela é 2007, mas não tem um risco sequer. Nem dá pra acreditar que foi usada. Eu fiquei uma meia hora tocando na guitarra e sai da loja com taquicardia, de verdade. "Essa guitarra tem de ser minha", pensei. Bom, poder eu não podia, né... Tava guardando dinheiro pra poder pagar pequeno empréstimo que precisei fazer com meu pai, mas agora papai vai ter que esperar um pouquinho (desculpa pai!!!!!).

Essas coisas no Brasil são de matar de raiva mesmo. É inacreditável o preço das coisas aí. Ou será que o inacreditável é o preço das coisas aqui?! No Brasil tudo é muito difícil no que diz respeito às coisas materiais. Tudo custa muito caro e tem que ser parcelado em trocentas vezes. Quando alguém aqui vai imaginar que após 20 anos de música não consegui comprar minha Fender?? Aqui neguinho nem vai entender. O que, seu sonho? Uma Fender?? A questão econômica é evidentemente uma das grandes diferenças entre os dois países e faz muito tempo quero fazer um post sobre isso. Era pra ter sido esse, mas acabei falando demais da minha nova guitarra! Quem sabe o próximo.

Então vai lá, só pra fazer neguinho passar raiva: outras aquisições recentes incluem um amp Fender Deluxe 112 por U$150. Comprei só pra "quebrar um galho", antes de comprar o meu valvulado (meu landlord Ray Conley me ofereceu o Fender Twin dele, novinho, por U$600). Placa de som M-Audio Fast Track nova, U$60. Também só um quebra galho antes de comprar uma melhor. Não resisti ao preço. No Mercado Livre, sem nota, custa R$300,00. Um monte de pedais pra guitarra. Novos, Boss Distortion DS-1, U$30 e Super Overdrive SD-1, U$40. No Brasil custam mais de R$200,00. Usados Boss Digital Delay e Chorus, e compressor MXR. O camarada vendeu os 3 por U$120. Melhor nem saber quando teria custado no Brasil. (só o Delay sai usado no ML no mínimo por R$300). Laptot Acer com bag, mouse e multifuncional Canon, tudo por U$400. E por aí vai...

Galera, isso tudo aí não pra ficar contando vantagem não, até porque paguei um preço alto pra estar aqui. É que fico indignado mesmo com a situação do nosso país e fico me perguntado se tem de ser assim. Tem?

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Mas vamos deixar a indignação pra lá porque este é um post sobre sonhos e tem mais um sonho vai se realizar. Vai ser meu presente de Natal e vai chegar dia 21, daqui exatamente um mês. Minha noiva Daniela vai vir me visitar!!!! Eu já estava até conformado em passar por mais um inverno sombrio e solitário aqui, uma vez que sabia que não poderia bancar uma viagem pro Brasil agora, devido ao preço da passagem, que vai às alturas nessa época do ano. Uma conjunção de fatores permitiu que ela viesse pra cá e quando a notícia se confirmou, não consegui segurar as lágrimas. Foi uma emoção muito grande. Sempre quis poder dividir com ela as coisas que gosto aqui, os lugares que vou, os passeios que faço, os restaurantes, os amigos, etc. Agora tudo isso vai ser possível. Obrigado meu amor, te amo.

Ps: haha, acabei de ver que já tinha falado disso no post anterior!! Bom, agora vão ficar os dois!!



Meus brinquedinhos!


Eu e minha nova paixão!



Minha mesinha de U$80

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

NIU Jazz Ensemble Tour - Don Braden




Semana passada, minto, retrasada, fiz minha primeira tour com a big band da NIU. Como já havia dito antes, fui "promovido" e agora toco na big band top aqui, a Jazz Ensemble. A NIU tem 3 big bands, a Jazz Ensemble, a Lab Band, que fiz parte ano passado e a All-University Jazz Band. Os músicos são teoricamente escolhidos por auditions e qualquer estudante pode participar, sem necessariamente ser music major. É muito comum alunos de outras áreas tocarem nessas big bands. Claro que em geral não são os músicos de maior calibre, mas vez outra aparece um farmacêutico ou engenheiro dando conta do recado.

Como também já havia dito em um post passado, as big bands fazem parte da cultura americana e toda high-school, e mesmo junior schools têm big bands. Muita gente que não tem a menor pretensão de ser músico profissional participa dessas bandas, como acontece também com grupos de teatro, times de futebol e outros esportes e assim por diante. Eu acho isso muito legal, porque isso gera um cultura de arte. São essas pessoas que no futuro e mesmo agora, vão consumir arte, prestigiando apresentações, comprando cd's e mais adiante incentivando os filhos a fazerem o mesmo.

A Jazz Ensemble faz um tour todo semestre letivo, sempre com algum convidado especial, em geral um grande nome do jazz. Esse semestre o convidado não foi nenhum nome muito conhecido, como foram, por exemplo, recentemente Benny Golson e Curtis Fuller, nomes importantes na história do jazz. Mas Don Braden é um grande saxofonista e arranjador, e foi inspirador tocar com um músico do naipe dele.

A tour basicamente se restringe a high schools, que foi onde Ron Carter fez história. Ah claro, o nosso diretor (ou maestro, regente, líder, coach???), Ron Carter (não confundir com o baixista homônimo!) é uma pessoa extraordinária. Ele fez fama nos anos 70/80 após fazer uma high school obscura (East St. Louis Lincoln High School) num bairro violento de maioria negra em St. Louis, MO ganhar por anos sucessivos os campeonatos de big bands nos EUA. O que ele fez de tão especial? Resgatou as origens negras do jazz. Trouxe de volta o swing e o blues. Nos anos 70, as big bands tocavam basicamente rock e funk, de certa forma esquecendo as suas origens. Prof. Ron Carter trouxe isso de volta.

Prof. Carter no entanto não é unimidade. Ele é extremamente autoritário, de certa forma grosso, para os padrões americanos e radical, focando sua música essencialmente na escola de Count Basie. Ele frequentemente humilha alunos que não alcançam suas expectativas e diz na cara dura pra eles, "You suck son!" (algo como você é uma bosta!) Mas mesmo eu, que tive meus desentendimentos com ele, após algumas besteiras que ele falou sobre música brasileira, sou um grande fã do Ron Carter. No que diz respeito ao jazz, ele realmente sabe do que está falando. Ele transforma radicalmente um big band em coisa de meia hora. Ele é extremamente específico e diz com detalhes para cada seção da banda (seção rítmica, trompetes, trombones e saxofones) o que eles tem de fazer pra melhorar e "swingar". Sim, Ron Carter faz até sua avó swingar. Ele tem autoridade sim, porque conhece cada partitura que rege de trás pra frente. Ele sabe o que quer ouvir da banda o como conseguir isso. Ele tem um senso de humor absurdo e eu rolo de rir com seus gestos, suas danças, suas piadas, suas mímicas, etc. Falem o que quiser, eu sou fã do homem. Ele é um dos melhores professores que eu já tive e eu aprendi muito com ele. Eu fiquei super empolgado quando passei na audition para o Jazz Ensemble porque eu sabia que com ele eu iria aprender alguma coisa.

Voltando à tour. O que basicamente fizemos foi visitar algumas high schools, dar clínicas para as big bands e fazer concertos à noite. Chegamos a ir pra estados vizinhos como Wisconsin e Iowa, mas realmente não vi nada além das high shcools. Diga-se de passagem, acho que não temos nada assim no Brasil. As high schools que visitamos são de alto nível, com teatros, puta equipamento de som, tudo muito lindo. Sim, coisa de primeiro mundo.

Na quinta (4/11) fizemos o já tradicional, concerto semestral da Jazz Ensemble no Duke Ellington Ballroom no Holmes Student Center. É um concerto importante. Todos os velhinhos de Dekalb comparecem. Assim como muitas personalidades e estudantes da NIU.

Mr. Don Braden é um músico extraordinário. Tive a impressão que ele estava melhor a cada noite. Eu, como parte da seção rítmica (além de baixo, bateria e piano) tocava com ele também nos seminários para as high schools. Foi um experiência e tanto.

Nosso último dia foi numa igreja no south side de Chicago, área negra da cidade. Duas big bands estavam presentes, uma 100% negra e outra quase 100% latina. Isso representa bem a questão de segregação da cidade, já que os alunos tem que frequentar a escola mais próxima de suas residências. Foi uma energia muito bacana. Nos ambientes de participação mais afro-americana, existe muita interação, aplausos, gritos, etc. Foi realmente bem emocionante.

Infelizmente eu talvez tenha que abrir mão da big band próximo semestre por conflitos de horário com a escola que dou aula (Oaklawn). Como vai ser meu último semestre aqui, talvez tenha que priorizar $$$ dessa vez. Mas ainda é algo a ser decidido. Bom, já falei demais. Grande abraço a todos!

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Nota de último minuto. Hoje foi confirmado que dentro de um mês receberei a visita da minha noiva Daniela. Chorei de emoção, de verdade. Não podia esperar presente de Natal melhor que esse. Tem coisas que o dinheiro realmente não compra. (Mas pra todas as outras tem Mastercard!).

Vizinhança em Lake Geneva, WI


Eu e Don Braden

Eu e prof. Carter

Galera no ônibus

domingo, 1 de novembro de 2009

Halloween II - A missão

Dessa vez o Halloween não empolgou. Não sei se a culpa é da temperatura de 0C, bem abaixo do que fez ano passado, ou se sou eu que estou de saco cheio mesmo. A verdade é que Dekalb deprime a gente. Minhas amigas brasileiras já haviam me avisado. Mas mesmo os americanos dizem isso. Quem vem de outras partes dos Estados Unidos pra cá, também detesta. No começo é muito bonitinho ver esquilinhos, coelinhos, etc, mas depois a realidade aparece, nua e crua, e bem gelada!!!! Falando nisso, esse outubro foi o mais, ou um dos mais frios e chuvosos da história. O tempo bom aqui durou mais ou menos um mês depois que cheguei, e é só. Aqui já fez -3C na segunda semana de outubro, ou seja, pelo menos um mês antes do normal.

Eu e Alejandro tocamos hoje num restaurante de comida árabe novo que abriu aqui. Fomos praticamente de graça pra dar uma força pro dono, que é um grande músico, Omar, percussionista natural da Síria. Mas pra mim foi mais uma desculpa pra não ter que fazer nada que me lembrasse do Halloween, além de testar os novos equipamentos que comprei. Depois fomos no Stanley's. Eu, meio que ingenuamente, achei que lá seria um Halloween light, mas me enganei redondamente, porque eu e Alejandro eramos alguns dos únicos a não usar fantasia. Essa parte das fantasias é até bem divertido, mas meu mau-humor era grande o bastante pra não me fazer apreciar nem mesmo isso. No fundo fico irritado com um bando de estudantes bêbados, gente gritando, e pessoas "super legais", mas só quando estão bêbadas e com quem elas conhecem. Dekalb, definitivamente não é lugar pra alguém como eu, estrangeiro, mais de 30 anos.

Falando em pessoas super legais, ta aí algo que não posso dizer dos meus novos roommates. Prá mim não tem nada que me incomoda mais do que pessoas que são super legais entre si, mas cagam pra quem não faz parte da panela. Estes são meus roommates. Eu decidi ficar na mesma casa porquê o único problema que tive no outro ano foram as inúmeras festas, que aconteciam porquê todos eram amigos. Pensei eu, "bom, o outro grupo vai ser diferente, e isto foi uma coincidência". Pois, de novo, amiguinhos entre si alugaram todos os quartos de baixo (três ao todo). Ramon e a namorada Tera ficam em um, Lewis em um, e Jamie e Eric em outro. Ainda não descobri se o Eric mora aqui meio "escondido", mas presumo que sim. Quer dizer, meu landlord Ray Conley não sabe disso. Se soubesse, eles teriam que pagar uma taxa adicional. Mas não sei na verdade, porque nunca conversei com eles. Em cima, além de mim, moram Allison, uma antipática que faz parte da panela de baixo, Zacharias, que fica aqui só três vezes por semana e raramente vejo e Ann, que foi a única pessoa que conversei, mas com todo respeito, é uma crente caipira que nunca sai do quarto. Me sinto mal falando assim, porque ela é simpática, mas na verdade como todos outros, adota a postura "quanto menos contato, melhor". Ela passa pela casa praticamente correndo, e como os demais, faz sua comida no microondas e leva pra comer no quarto.

A panela debaixo não faz festas com tanta frequência, mas ficam acordados praticamente todos os dias até 4 da manhã, abrindo e fechando portas e falando alto. Quase sempre tem um ou mais amigos bêbados que dormem aqui no sotão. Acordam 2h da tarde e passam o dia jogando vídeo-game e fumando maconha. Não tenho nada a ver com isso, mas fico pensando que tipo de educação eles tem aqui que exige tão pouco deles. O que me deixa puto nisso tudo é a falta de respeito com os demais. Eles fazem a zona que querem, a hora que querem, nunca lavam a louça, convidam milhões de pessoas pra dormir aqui, e não fazem a menor questão de ser simpáticos. Hoje por exemplo acordei desci pra tomar café. Eric, Lewis e Allison estavam conversando na cozinha, e assim que cheguei eles imediatamente sairam e foram pra quarto do Eric (na verdade do Jamie) e trancaram a porta.

Quando a coisa chega nesse nível eu sempre me pergunto o que eu posso ter feito. Eu fiz um esforço pra me comunicar no começo, puxei assunto, etc, mas nunca consegui, salvo raras exceções, mais do que respostas monossilábicas. O Ramon foi o único que fez algum esforço pra ser legal, mas não durou muito. A Allison e Jamie praticamente viram a cara quando estou por perto, às vezes também a Tera. O Eric, talvez pela condição de "agregado" já puxou assunto algumas vezes, e o Lewis ao menos é um gordinho simpático, e sorri pra mim. As vezes acho incrível que a essa altura da minha vida - convenhamos, não sou mais nenhuma criança - esse tipo de coisa ainda me incomoda. Mas me incomoda, e muito. Eu penso que se você mora com alguém, algum tipo de interação é fundamental. A indiferença que sinto nesse país não vem só deles, mas de muitas outras pessoas, como por exemplo o saxofonista da big band que senta bem do meu lado e não diz nem oi. Mas já acostumei, já que ensaiamos 4x por semana. Eu sei que não é pessoal. Tento começar a agir como eles, vou lá, faço minhas coisas, tento não olhar pra ninguém, e converso só quando é imprescindível e fico na minha. Prá mim isso vai muito contra minha natureza, mas preciso aprender a jogar as regras do jogo.

Não quero ser injusto também. Conheci pessoas que tem sido muito legais comigo. Patrick Terbrack é um grande amigo e também Jack Zara, um grande baixista casado com uma brasileira e que tem me dado uma super força. Vou falar mais deles em posts futuros.

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Notícias rápidas. Esse ano começou promissor pra mim. Na minha volta pra cá, logo na primeira semana me comunicaram que faria parte da Liberace, que é o principal combo (banda até 7 membros) da NIU. Isso me dá um status de faculty (professor), já que agora sou oficialmente grad assistant, algo como monitor no Brasil. Sou encarregado do Latin Jazz Ensemble além de ser "obrigado" a tocar onde quer que a Liberace tenha que tocar. Em resumo tenho que "trabalhar" 10h/semana pra universidade, em troca de algum $$$ + a tuition (que já tinha). Mas o mais legal é que toco com os melhores músicos da universidade e somos bastante respeitados por aqui. Além disso fui promovido de big band e agora toco na Jazz Ensemble, a big band top aqui da NIU. Eu acabei fazendo uma boa audition, e também a verdade é que a universidade está carente de guitarristas, o que fez com que eu não tivesse nenhum concorrente de peso. Semana que vem a Jazz Ensemble vai estar em tour com um special guest, Don Braden. Vamos viajar por algumas cidades e fazer o já tradicional concerto semestral no Duke Ellington Ballroom. Vamos ver se escrevo um pouco sobre isso.

Minhas atividades na Oaklawn Academy retornaram faz duas semanas. Tem sido um pouco mais difícil conciliar por causa dos horários da big band, mas estou dando meus pulos. Fora isso tenho feito umas gigs em Chicago com o Luciano e com o Marcão (Marcos Oliveira). Aparentemente consegui minha primeira gig fixa às quintas feiras num pequeno café, o Café Ciao. Não sei se vai vingar porque o lugar é bem pequeno e o movimento não tem sido lá essas coisas... Let's see.

Bom, por hoje só pessoal. Tentarei ser mais assíduo por aqui, vamos ver se consigo. Desculpem meu humor, sei que não está dos melhores. Saudades de vocês, dos amigos, da namorada (agora noiva), de picanha, do calor (humano e climático), da mamãe e de português (o idioma). Take care,

Júlio

sábado, 3 de outubro de 2009

Olimpíadas 2016

Chatões e politizados que me perdoem, mas ver o vídeo de apresentação do Rio como candidato a sediar os jogos olímpicos de 2016 e sua subsequente vitória me levaram às lágrimas. Isso é coisa que só quem está em outro país entende. Tem gente que chora até se ouvir a música do Jornal Nacional. Muitas vezes acho esse patriotismo exagerado uma caretice e extremamente artificial, mas outras vezes o vivencio desse mesmo jeito... e choro...

Foi pra mim uma surpresa a eliminação de Chicago logo na primeira rodada. Os jornais daqui colocavam Chicago e Rio como os grandes favoritos. Pra mim isso sempre fez o maior sentido, já que a última olimpíada foi na Ásia (Pequim - China) e a próxima vai ser em Londres. Seria portanto natural que a seguinte fosse na América.

Já o favoritismo do Rio para mim era meio óbvio pelo fato de nunca ter havido um Olimpíada na América do Sul. Apesar de todos os problemas, acredito que o Rio está pronto pra isso. Os jogos Pan-americanos, que tiveram uma organização impecável e transcorreu sem maiores problemas me fez chegar a essa conclusão. Mas na minha torcida pelo Rio a razão falou muito pouco. Foi coisa do coração brasileiro mesmo.

Agora, acima de tudo, Chicago não merecia levar essa. Nos EUA, o que nós chamamos de AS Olímpiadas, pra eles é Summer Games. Mais uma competiçãozinha que alterna com os Winter Games, que pra nós sequer existe. A falta de paixão deles e a frieza traduzida em números, não os faz merecedores de sediar os jogos. Aqui a aprovação era só em torno de 50% (no Rio, 85%!) e vi diversos artigos no jornal dizendo que os jogos não seriam um bom negócio, daria prejuízo, ou que a cidade tinha coisas mais urgentes para tratar, incluindo a violência! Ah, que povo chato! O Obama tinha dito que "tinha coisas mais importantes pra fazer" mas acabou tendo de ir em função das críticas que recebeu. A frieza aqui é gritante. As pessoas guardam suas emoções (se é que as tem) e precisam depois ficar chapadas pra extravaza-las, ou então saem atirando mesmo...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Agenda

Bom, termino essa sessão de posts fazendo uma atualização da minha viagem. Na quarta chego no Rio e fico até domingo. Estarei com a Dani e com uma parte da minha família por lá, meu pai minhas irmãs e sobrinhos. Na segunda, eu e a Dani viajamos pra Campinas onde ficamos ate o dia 4/7, quando então embarcamos pra Vila Velha-ES, onde vou me encontrar com minha querida mãe.

Em Campinas estarei tocando dia 19/6 com meus amigos da MINHA BANDA (é minha viu??! hehe) Pac Men no Andarilho e no dia domingo, 21, estarei no Centro de Convivência participando do show de lançamento do disco "Identidade", do meu amigo Guigo Amaral.

É isso galera! Fui!!

Dekalb News, últimas semanas.

Quem está acompanhando o blog já sabe que minhas aulas acabaram há um mês. Eu fiquei por conta da Oaklawn Academy, que teve sua graduação nesse fim de semana. Eu fiquei muito emocionado, tenho que admitir. Eu selecionei alguns alunos pra tocarem na cerimônia de formatura e passei as duas últimas semanas preparando-os, ensaiando, etc. Eles se engajaram de verdade no projeto e a formatura em si levou muita gente as lágrimas. A energia que eu senti tocando com eles lá no palco foi incrível. Eles me surpreenderam também, porque eles fizeram bonito, mesmo sob pressão e sem nenhuma experiência.

Eu tive mais de 20 alunos em Oaklawn e não tive o menor problema com nenhum deles. Eu me afeiçoei muito por aqueles garotos e foi muito gratificante ver que todos fizeram questão de me apresentar aos pais que vieram de longe pra buscar os filhos de volta pra casa. Ano que vem, digo, semestre que vem, vai ser uma outra história, porque novos estudantes vão chegar, e todos os que estavam aqui já terão ido embora.

Também nesse período começaram enfim a pintar umas gigs em Chicago. A maioria delas foi por conta do Marcão, um percussionista carioca que está a 15 anos em Chicago e ftoca no grupo Bossa Três, muito popular por aqui. Tocamos algumas vezes num restaurante francês em South Barrington, um subúrbio de Chicago e também no Sinhá, um restaurante caseiro em Chicago que promove almoços temáticos com comida brasileira. A semana em que tocamos quatro vezes me fez lembrar meus bons tempos no Brasil. Tava quase esquecendo que era músico...

Depois de uns dias sozinho aqui na casa, dois novos roommates aportaram. Primeiro foi a Michelle e logo depois chegou o Joe. O Joe vi poucas vezes. A Michelle é muito simpática e tem astral ótimo. Um dia calhou de estarmos os três por aqui e ficamos um bom tempo tomando vinho e jogando conversa fora. Sei que tem mais uma rommate pra chegar, mas pelo jeito não vou conhece-la. Quando voltar pra cá no meio de agosto eles provavelmente já não vão estar mais aqui, já que o contrato deles é só pelo Summer. É muito comum aqui o pessoal estudar no Summer, num um intensivão que dura quased dois meses. Quase todos aproveitam também pra trabalhar. Já no Fall, a casa vai receber novos moradores, e aí, bom... Dekalb News 2009!


O diretor Javier Valenzuela com os alunos


Eu e a galera toda!


Minha "chefa", Melinda McLaughlin


Tive que virar baixista e ainda faço cara feia!


No palco!


Minha nova rommate Michelle


Meu rommate Joe e meu amigo Patrick comendo mosca!



segunda-feira, 8 de junho de 2009

Dekalb News, o fim da saga!

Estou aqui em Dekalb - onde finalmente o tempo anda muito agradável - curtindo minha última cerveja, uma Leinenkugels, fabricada em Milwaukee. A próxima provavelmente vai ser uma Skol ou com sorte uma Original! Amanhã as 3:40pm to embarcando num voo da Continental rumo ao Galeão. Quase dez meses se passaram desde que cheguei aqui. Alguns poucos acompanharam minhas histórias, e isso me deixa contente. Bom saber que não estou sozinho.

Sinto, no fim da primeira etapa da minha jornada que enfim estou mais em paz com tudo aqui. A adaptação não é fácil. Cultura diferente, clima diferente, comida diferente, etc. Pra mim teve um agravante, o fato de sair de uma situação profissional estável, no momento em que lançava meu primeiro disco, pra uma vida de estudante, tendo que começar do zero num país estranho onde não conhecia praticamente ninguém. Não foi fácil. Também não foi fácil deixar pra trás namorada, enteada, amigos, família. Mas não me arrependo. Sempre sonhei com isso, sair do país, viajar, estudar fora, conhecer uma nova realidade. Não teria sossegado se não tivesse passado por isso. Paguei um alto preço, financeiro e emocional. Mas vim de vontade própria, enfrentando minha própria realidade acomodada e minha personalidade de canceriano que detesta mudanças e perdas. Tinha que fazer isso. Tinha que enfrentar meus medos.

Hoje me sinto mais brasileiro que nunca. Sempre carreguei essa culpa de não ter raízes. Sepre me achei americanizado, com minha paixão por Beatles, jazz e música pop. Caramba, sou branco, classe média, capixaba... Choro, samba, frevo, forró, maracatu. Onde é que eu fico nesse bolo todo? Não nasci no morro, nem em Salvador, nem no Rio de Janeiro, nem em Recife. Mas que raios, eu tenho culpa??? Mas aqui na América, vi que não sou americano não. Eu hein, povo esquisito. Mas aprendi a admirar muitas coisas aqui. Ainda estou naquela fase de análises, pensando, comparando, tentando entender. Onde eu me encaixo, o que eu gosto na cultura americana, o que eu abomino, e o mesmo em relação ao meu país. Por tem coisa no Brasil que não dá pra engolir. Cansei dessa cultura de oba-oba, do jeitinho, da corrupção generalizada e só de pensar em dirigir já me dá arrepio. Mas que saudade da descontração, da espontaneidade, do abraço, da energia, da felicidade autêntica. É complicado por que tudo meio que se mistura.

Mas olha, o meu título foi só pra chamar a atenção. Vou continuar falando minhas bobagens, ainda que mais espaçadamente. Preciso também colocar as Dekalb News antigas. É que dá preguiça... Ainda tem coisas que quero falar com mais, como por exemplo o custo das coisas e o programa de jazz da NIU. Mas agora vai ser o contrário, porque não sei como vou enxergar o
Brasil agora, nem a mim mesmo na minha volta pra casa. Bom, vou dividir esse post em dois prá ficar mais fácil

sábado, 9 de maio de 2009

Fim das aulas

Sim, isso mesmo, comecinho de maio, acabaram as aulas. Acabou o "ano", como se diz no Brasil. Essa semana foi a última semana de aula com as suas respectivas finals. A cidade se esvazia agora. Meus roommates todos se foram, e de vez. Eu fui o único a renovar o contrato aqui. Coisa chocante: eles fizeram uma limpeza na casa, e jogaram muitas coisas fora. Pacotes de cereais quase cheios, temperos, comida, móveis, ventilador, etc. Lixo. Eu comentei com um deles, "se você soubesse quanta gente passa fome no Brasil vocês não fariam isso". Eu realmente fiquei chocado quando vi um pacote de sucrilhos, que por sinal era meu, praticamente intacto, no lixo. E um pacotão de cream cracker (também meu) ainda fechado... no lixo. O desperdício americano é assustador e eles não percebem. Eles lavam louça naquele esquema de ensaboar tudo com a torneira aberta. Outro dia um deles fez uma campanha pra ajudar Darfur (onde???). Mas a solidariedade, só a distância mesmo...

Mas não quero falar mal deles. Eu realmente gosto desses caras, principalmente o Hunter e o Adam. Também do Brian, com seu espírito prático, consertando e organizando tudo (porque toda república sempre tem um engenheiro??). O Hunter foi quem me convidou pro Thanksgiving, em Outubro. Parece o mais politizado da casa, claro estudante de de Ciências Políticas, se eu não me engano. Curioso sobre o Brasil, as vezes conversávamos longamente sobre meu país, respondendo às perguntas dele. Mas interessante foi um dia quando eu olhava os seus livros e ele pegou um e falou assim, "esse é meu livro favorito: 'The Alchemist', from Paulo Coelho". E ele nem sabia que o autor era brasileiro. Mundo pequeno... O Adam também é um cara nota 10. Viajado, passou um mês na Índia. Parece que é sempre assim, os americanos mais bacanas são aqueles que abriram um pouco a cabecinha pro que acontece no resto do mundo.

Os meus roommates sempre foram me prestigiar em meus concertos na NIU. Sempre achei esse gesto muito bacana da parte deles. Um dia paguei o maior mico, porque eles foram pra lá depois de tomar umas, e o Mark, que não mora aqui, mas é como se morasse, começou a gritar meu nome no teatro: Jiuleo, Jiuleo!! O Rodrigo, que estava regendo a big band, ficou olhando pra mim com uma cara meio sem entender o que estava acontecendo. Cimento!

Nos últimos tempos eu acabei me afastando um pouco, já meio de saco cheio das festas e bebedeira deles. Tô ficando velho pra tanta balada. Fatalmente acabei me estranhando com um e outro por causa da gritaria em cima da minha cabeça, nas festas no sotão, que fica bem em cima do meu quarto. Coisas de quem mora junto. Mas a coisa esse semestre foi demais, e por muito pouco não tive que acionar meu landlord, o que seria problemático, já que todos eles são amigos e faziam tudo junto. No último mês, não sei se porque eles se tocaram, ou se porque estavam atarefados com o "fim do ano", mas a coisa deu uma amenizada e foram poucas as noites que precisei colocar meus tampões de ouvido.

Com a mudança deles, me dei conta que quase tudo na casa era deles: talheres, cafeteira, televisões, boa parte da louça, etc. Fui lá na Salvation Army (Exército da Salvação) comprar uns garfo e faca, se não ia ter que comer com a mão!

Eu fico aqui até dia 10 de junho, quando viajo ao Brasil. Parece que três pessoas estão chegando pro Summer. No Fall a casa recebe 6 novos moradores e aí terei novas histórias pra contar.
Estou estranhando a casa assim vazia e silenciosa. Vou sentir falta dessa moçada...


Eu e Hunter


Em círculo, da esq. pra direita: Mark, eu, Joe, Brian, Adam, Ryan e Hunter


Do fundo pra frente: Hunter, eu Brian, Justin, Ryan, Adam e Mark

sábado, 25 de abril de 2009

Oaklawn Academy

No fim do ano Rodrigo Villanueva, o regente da Lab Band e meu amigo, como não, comentou comigo que uma escola onde ele lecionava estava a procura de professor de guitarra. Eu havia dito a ele que a minha situação financeira estava me preocupando, já que desde que eu cheguei ainda não tinha nenhum trabalho fixo e isso podia fazer com que eu retornasse de vez ao Brasil no fim do semestre. Ele me recomendou então e pediu que entrasse em contato com o diretor da escola. Na ocasião eu estava com a situação da carteira de motorista ainda pra resolver e ainda não tinha carro, o que tornaria pra mim impossível assumir o trabalho, já que fica em uma cidade bem longe. Bom, no fim deu tudo certo e em fevereiro consegui meu primeiro emprego de verdade aqui.

A Oaklawn Academy fica em Edgerton, no estado vizinho de Wisconsin. Sim, fica em outro estado... Eu tenho que dirigir 75 milhas (120km) e gasto 1:20h, 1:30h pra chegar lá. Dirigir aqui, como já falei em outro post é muito tranquilo. Ninguém te dá farol alto pedindo passagem nem cola na sua traseira. Eu dirijo cerca de 20 milhas numa estrada secundária com pouquíssimo trânsito e depois pego a I-90, que é uma estrada grande, interestadual. O trânsito é um pouco mais intenso, mas nada perto de chegar a ter engarrafamento. Então, boto uma músiquinha e vou me embora.

A escola é um tipo de internato que atende garotos de 13-15 anos em média. Os alunos são todos de origem hipânica, quase todos do México. Crianças ricas, é claro. O filho começa dar trabalho, ai o pai pega e fala: "Vai pro Wisconsin meu filho, ver o que é bom pra tosse!". A escola fica no meio do nada, na beira de um lago, num lugar muito bonito, mas que pros meninos deve ser bem parecido com uma prisão. Não sei, é dificil analisar. Por outro lado, imagino que as crianças ricas no México, com aquela de história de violência e tal, também não devam ter muita liberdade. Em Oaklawn, eu sinto uma energia boa e o diretor, que é mexicano, me passou uma impressão muito boa. Mas eles têm horário pra tudo, que é preenchido por atividades das mais diversas.

Eu vou pra lá duas vezes por semana, leciono aulas de meia hora pra grupos de três meninos, 18 ao todo. A princípio eu esperava que fosse ter problemas de comportamento, mas honestamente eu não posso falar um "a" dos rapazes. Eles tem sede de aprender e são extramente dóceis. A coisa de ser latino me ajudou muito. A cultura é muito parecida, o que me deixou muito à vontade e tranquilo. Nenhum de nós tem o inglês como língua mãe, e eu quando preciso arranho meu "portunhol". Eu sou muito bem remunerado, mas comprar o carro me deixou quase sem reservas e vai levar um bom tempo até me recompor de todas as despesas que tive até agora.

A jornada pra eles está chegando ao fim, já que eles vêm pra ficar aqui 6 meses ou um ano. Eu continuo até o fim de maio e vou participar da formatura, acompanhando os alunos selecionados pra tocar. Em agosto chega um novo grupo, mas as aulas de guitarra, que são extra-curriculares, voltam só lá pra fins de outubro. O que vou fazer nesse meio tempo, só Deus sabe.



Comecinho da viagem no meio do nada!


Vilarejo pertinho da escola


Entrando na escola


Portão principal


Oaklawn Academy



Foto com lago Koshkonong ao fundo


Foto com Oaklawn Academy ao fundo

domingo, 19 de abril de 2009

Crise

Infelizmente as coisas às vezes não são o que parecem. De fato, a eficiência americana é impressionante. Mas não foi pra resolver o problema do meu social security, o que tive de esperar até janeiro para conseguir (era pra sair em outubro). Apesar dessas conquistas iniciais, não aconteceu muita coisa depois. A gig do restaurante italiano (Filo Spinato) durou cerca de dois meses, até que eles resolveram cortar gastos e por fim fecharam de vez no mês passado. Fruto da crise, que agora enxergo com mais clareza. Depois disso, tocamos algumas vezes em outros restaurantes, um em Sycamore e outro em Elgin, ambos do mesmo dono, um italiano bonachão, mas também não teve continuidade. Agora, mais recentemente, com a ajuda de carro, tenho ido com mais frequência a Chicago e acabei conseguindo uma gig com os brasileiros por lá, mas os detalhes conto depois.

A crise se mostra na vida prática, com o comércio, principalmente o do automóveis e imóveis, andando meio devagar. Vejo também notícias constantes de fábricas e também lojas fechando as portas. Em Dekalb vi vários exemplos. Também notei inflação, com vários produtos aumentando os preços. Felizmente a gasolina voltou à casa dos $2,00. O imposto sobre serviços em DeKalb e em grande parte do Illinois também subiu, de 7, 7,5% pra 10%, em média, se não estou enganado. Também vi muitas pessoas contando que tiveram grandes perdas nas bolsas. Como aqui dinheiro em banco não rende absolutamente nada, tudo mundo aplica em ações, que por sua vez é um investimento mais arriscado. Muita gente que tinha dinheiro de aposentadoria aplicado em ações, está tendo que rever seus planos sobre parar de trabalhar. Bom, também estou programando uma news pra falar de dinheiro. Prometo que escrevo antes de voltar ao Brasil.

Quando aos caça-fantasmas, continuo querendo ligar lá pra ver se é verdade. Não, não é possível...

sábado, 18 de abril de 2009

DeKalb News 4 - Jobs and Ghost Hunters

14 de setembro de 2008

A impressão que eu tive na minha primeira semana aqui, é que na América as coisas andam rápido. No meu primeiro dia eu fui ao mercado fazer compras e depois, na hora de pagar, quando eu vi já estava tudo ensacado. Os saquinhos já ficam abertos numa espécie de maquininha que vai girando enquanto o caixa vai ensacando tudo. É realmente muito eficiente. Uma coisa que não tem aqui é essa historia de você facilitar o troco. Não dá tempo! Enquanto eu fico que nem um idiota catando moedinha, que aliás ate hoje me confundem, o caixa já me deu o troco e já esta atendo o próximo cliente. Às vezes ainda me esqueço e lá vou tentando diferenciar o quarter (0,25) do nickel (0.05)...

Agora, o melhor de tudo, o que demorou uma semana pra eu me dar conta, é essa eficiência não é a custa de stress. Eu comecei a perceber que (pelo menos aqui em DeKalb) eu não via pessoas stressadas. Não vejo correria no trânsito nem gente se atropelando nas ruas. Claro, provavelmente nas grandes cidades as coisas sejam diferentes. Mas me lembrei bem do meu amigo Gustavo, há alguns anos em Lisboa dizendo, “bixo, aqui a vida é muito mais tranqüila”.

E a tal da recessão atual nos EUA, eu não notei isso não. O povo aqui deve estar mal acostumado. Eu vejo sempre anúncio de emprego, dos mais variados, como entregar jornal, tirar leite de vaca, brincar com criança autista e até de dar aulas de música (vi vários, normalmente em cidades vizinhas). Claro, a maioria dos empregos desse tipo paga o salário mínimo daqui, que é cerca de U$8,00/hora. Mas trabalhando 8h/dia isso dá cerca U$1300,00 o que dá pra viver dignamente aqui (mas pelas pontas!). Eu consegui trabalho já na minha primeira semana. Fui convidado pra dar duas disciplinas pros freshmen (bixo, calouro) de guitarra. Isso aqui é comum e é chamado de TA (teaching assistant). Isso não estava nos planos e foi muito bem vindo. Mas que foi engraçado começar a dar aulas em inglês, antes mesmo de ter assistido uma aula sequer, foi. Outra coisa que também aconteceu na primeira semana, e essa eu já estava esperando, foi dar aulas no CSA, um programa da universidade voltado para a comunidade. Bom, ainda não está rolando nada , porque depende dos alunos se matricularem, mas já valeu porque vai me possibilitar tirar social security, que é como se fosse o CPF aqui.

Também já consegui um lugar pra tocar fixo todo sábado, graças à iniciativa do Alejandro, meu amigo colombiano. Hoje foi nossa segunda semana. É um trampo sossegado, um restaurante italiano onde somos muito bem tratados. Tocamos música brasileira e jazz. Acabo também cantando aquelas bossas meio manjadas, mas o povo fica deslumbrado com a música brasileira e isso é muito gratificante. Aliás é impressionante como pouca gente sabe tocar bem nossa música. O único que toca um pouco é o Juan, um baterista peruano de 22 anos que toca jazz que nem americano. Tem um professor aqui também, o Greg Bayer que é um entusiasta da música brasileira, fala português muito bem e fez um doutorado sobre o berimbau. Ele é responsável pelo combo de musica latina, do qual também faço parte. Aliás, falando em tocar, eu faço parte de uma das três big bands que tem aqui na universidade (NIU JAZZ LAB BAND)e fiquei sabendo, também na minha primeira semana aqui, que em dezembro faremos uma turnê de uma semana no México, passando pelas cidades de Xalapa, San Miguel de Allende e Queretaro. O regente da orquestra, Rodrigo Villanueva, é mexicano. Ele é o professor de bateria da NIU e me convidou pra formar um trio junto com Alejandro, pra tocar na cidade onde ele reside, Madison. Como eu disse, as coisas na América caminham rápido.

Gostaria de divulgar o blog do jornalista Edmilson Siqueira, do jornal Correio Popular. Ele tem publicado as minhas DeKalb New em seu blog, o que me deixa muito honrado.

Termino mandando mais algumas fotos do esquilo, que algumas pessoas não conseguiram ver no meu outro email (não garanto que é o mesmo!), e também uma de coelho. É, agora além de esquilos, tenho esbarrado em coelhos. Segue também uma foto de um anúncio que saiu no jornal daqui de caça-fantasma. Não gente, não é possível, só aqui pra ter um negocio desses...



Caça-fantasmas!!! Surreal!!

Coelhinho da páscoa que trazes pra mim?



Jazz Lab Band


UN Trio

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O carro

Uma das minhas séries preferidas na televisão é "Os Anos Incríveis". Eu sempre me impressionei como as histórias são as mesmas em todos cantos. Eu, que nasci lá em Vila Velha - ES, na beira da praia, vivi coisas idênticas a que viveram o personagem Kevin Arnold e sua trupe, em algum subúrbio no estado de Indiana - EUA. Eu me lembro de um episódio quando o avô do Kevin deu seu velho carro de presente pra ele com o seguinte dito: "Um homem não é um homem sem um carro". E olha, o velho tinha razão.

Eu me dei conta disso quando comecei a fazer bailes com a banda "Sertão 2000", quatro vezes por semana em 1994. Eu esperando o dia amanhecer pra pegar o ônibus e ir pra casa, depois de ter tocado das 11:00 às 4:00h, carregando guitarra, pedaleira, mala... Olha, que cimento! Eu juntei dinheiro que nem um louco e um ano depois consegui comprar meu primeiro carro, uma Belina do meu amigo Joni Grapeia. Depois foi um fusquinha Bordeux que capotou e quase me levou antecipadamente pra outra vida, dois Gols e um Uno Mille que foi do meu pai e que por fim acabou financiando minha vinda pros EUA.

Aqui carreguei minha cota de cimento, ficando 6 meses sem carro, o que foi até divertido nos dois primeiros meses, até o frio chegar, mas depois disso deixou de ser. Aqui não é possível viver sem carro, não só por causa do frio e de ser tudo longe, mas principalmente porque transporte público, com exceção de cidades como Chicago e New York, não existe.

Depois da novela do meu Social Security que só saiu em janeiro, consegui enfim tirar minha carteira de motorista, depois de ter que ir ao Driver Service (Detran) umas 5 vezes. Você acredita que a vaca que me aplicou o teste me reprovou??!! Fala sério mano, eu dirijo tem 15 anos. Mas a minha tese é que foi o motivo foi preconceito. Ela falou pra mim: "Por favor entre no carro e lfsjkdkfsl o vidro". Eu falei, "o que?". Ela repetiu: "Por favor entre no carro e ksjkjdkgjsk o vidro". Eu continuei sem entender. Pro pessoal mais avoado, tipo geminianos, a conversa toda foi em inglês viu! Bom, ai ela disse, "olha, eu vou repetir pela última vez, está claro??!!" "Yes, yes madam". Ah bixo, a mesma coisa! Eu então fingi que entendi entrei no carro e abri o vidro....e ... ufa... era pra fazer isso mesmo :) No fim ela me reprovou porque eu parei umas vezes em cima de uma faixa que tem aqui. Então tá!

A driver's licence aqui é tipo uma carteira de identidade. Quando você entra num bar tem que mostrar pra provar que tem mais de 21, mesmo se for um velhinho! E o dia que o cara do bar estava olhando minha carteira de motorista brasileira de cabeça pra baixo! Vai ser burro assim na China, ops, nos EUA! Bom, agora não preciso mais passar por isso.

Com isso finalmente comprei meu carro. É um Nissan Altima 98 com tudo automático que você pensar, apesar de metade dos botões não funcionar! O carro, por exemplo, não tranca! hahaha mas aqui não dá nada não. Ele está com 108 mil milhas o que pro ano não é muito, principalmente aqui, onde os carros são muito rodados. Paguei U$2250.00 A título de comparação no Brasil um carro desses 95, segundo a tabela FIPE custaria cerca de US6770.00 (dólar a R$2,30).

Dirigir aqui é muito tranquilo. Na cidade é preciso tomar muito cuidado porque tem polícia por todo canto e qualquer bobeada os caras te param. Por outro lado não tem radar. Mas nas estradas tem muitos carros de polícia à paisana e eles tem um radar portátil. Conheço várias pessoas que já tomaram multa. É complicado, porque o limite nas estradas é 65 milhas/hora (105km/h). Bom eu geralmente ando a 70-75 :)

Tem algumas coisas que são bem diferentes. Você pode, por exemplo, avançar o sinal vermelho se for converter à direita. Mesmo sabendo disso, sempre me dá aquela sensação de estar fazendo algo errado. Outra coisa, você normalmente pode parar no meio da pista pra converter à esquerda, depois que os carros passarem. É meio esquisito mas funciona, principalmente porque os motoristas são muito educados. Então todo mundo espera bonitinho sua vez pra passar e o melhor de tudo, não tem pressão. Cara, na estrada é uma maravilha. Aqui não tem aqueles maníacos que ficam colando na traseira, dando farol alto, pedindo passagem desesperadamente. Eu não vi ninguém fazendo isso nas estradas e principalmente aqui em DeKalb. Realmente posso dizer que dirigir aqui é uma experiência bem pouco estressante, se comparado ao Brasil e muito mais barato também. Os pedágios mais caros que vi custam U$1.60 e a gasolina custa (agora) menos de U$2.00 o galão, o que segundo minhas contas, considerando 1 dólar = R$2,30, dá R$1,20 por litro!


Já tem até GPS!


Tira a foto logo que ta -5C rapá!


Neve também suja!



sábado, 14 de fevereiro de 2009

Valentine's Day

Hoje celebra-se aqui nos EUA, e em muitos outros países o Valentine´s Day, o nosso Dia dos Namorados. Me recordo das ocasiões em que tive que passar a data sozinho, e fatalmente sempre bate uma tristesazinha. Esta, no entanto, vai ser a primeira vez que vou passar o Dia dos Namorados sozinho, tendo uma namorada. Não é legal ser mulher de músico nessas ocasiões, já que é uma em data que nós quase sempre estamos trabalhando. Agora pior ainda é namorar um músico que mora em outro país. Nosso namoro começou com data pra acabar, porque começamos a namorar em março de 2007 e eu a essa altura já esperava uma resposta da bolsa aqui na NIU, que era pra ter saído em julho daquele ano, mas ela não saiu. A bolsa acabou saindo pra dezembro, mas muito em cima da hora, então resolvi adiar pra agosto, o que me deu tempo de gravar meu CD e a também aprofundar nosso relacionamento, além de organizar tudo que foi preciso antes de embarcar, e acreditem em mim, é muita coisa!

Algo que sempre tive em mente é não deixar de viver a vida baseado em expectativas futuras. Racionalmente seria mais sensato que a gente não deixasse a relação prosseguir. Se nós tivéssemos agido assim, certamente teríamos poupado muito sofrimento, mas também deixaríamos de viver os momentos maravilhosos que vivemos. Daniela foi a namorada com quem tive mais afinidade. O nosso amor paradoxalmente começou de um jeito que parecia não ter futuro, mas cá estamos firme e fortes. Foi uma coisa inevitável, parecia que já nos conhecíamos e que tínhamos que ficar juntos.

Nós homens costumamos fazer um comentário malicioso quando nos referimos a mulheres solteiras que tem filho. Me lembro como se fosse hoje o Babi falando da Dani: "Ela é muito inteligente, é filósofa. Mas vem com brinde!". Esse brinde se chama Isadora é a criaturinha mais doce que já conheci. Se pudesse escolher como seria um filho meu, seria como ela. Puxou a mãe em sua inteligência, doçura e gênio! No começo fiquei meio sem jeito. Imagina né, rapaz jovem, solteiro, livre, independente, bonito, de repente andando por aí com esposa e filha, hahaha! Mas me acostumei, tomei gosto pela coisa, e no fim tudo que mais queria agora era as duas aqui perto de mim. Sinto como se nós realmente fôssemos uma família.

Namoro à distância não é fácil. Envolve solidão, saudade, desconfiança, ciúme e incerteza. Muita gente diz que é impossível. Mas agora que vivo essa situação, conheci alguns casais que já passaram por isso e no fim ficaram juntos. Isso me ajuda muito a enfrentar a distância, saber que é possível. O que você vai fazer? Você encontra alguém que você ama e com quem você quer ficar junto. Simplesmente desistir?

Manter a decisão de vir pra cá não foi nada fácil. Não foi só a Daniela e a Isa que eu deixei prá trás, mas também um bom momento profissional e pessoal, uma vida estável e sinceramente tinha pouquíssimo desejo de mudança. Mas isso foi algo que batalhei por muitos anos e sempre quis, quase um sonho de menino. Foi uma decisão um tanto egoísta, eu admito. Eu precisei de quase um ano de terapia prá poder largar tudo que tinha e vir pra um cenário um tanto quanto incerto. Eu me sinto culpado muitas vezes por tê-las abandonado, mas é engraçado como ao mesmo tempo me sinto próximo delas. Eu e a Dani nos falamos com frequência e trocamos emails diariamente. A tecnologia hoje ajuda muito os casais distantes e faz a gente acreditar que é possível um relacionamento assim.

O apoio da Dani e da Isa foi fundamental. Não sei se teria conseguido sem elas, e ainda hoje, mesmo tão longe, preciso muito delas. A solidão e o vazio que sentimos estando num país estrangeiro às vezes não é fácil de encarar, e sem a ajuda dos entes queridos seria acho quase impossível. Meus últimos dias no Brasil foram ao mesmo tempo maravilhosos e angustiantes. Ficamos juntos o tempo todo e elas me acompanharam nas minhas últimas viagens à Vitória e ao Rio. Sorrisos e lágrimas se sucediam o tempo todo e tudo foi muito bonito, mas muito, muito triste também. Nossa despedida no aeroporto foi algo traumatizante e foi igualzinho àquelas cenas de filme onde todos choram, só que dessa vez foi de verdade. Nunca vou me esquecer da Isa agarrando minhas pernas e não deixando ir embora, nem das mensagens que eu e a Dani ficamos trocando no celular até que tive que desligá-lo pra sempre. Até nos últimos momentos ela ficou me consolando, enquanto, tenho certeza, muitas outras mulheres estariam me odiando. Olha não foi fácil.

Eu não sei como vai acabar nossa história. Sempre penso que uma a hora a Dani vai ficar de saco cheio de tudo isso e me mandar passear. Mas depois de tudo que passamos, nós temos que acabar juntos. Não me imagino sem elas. Se desistíssemos agora seria como nadar até o meio de rio e resolver voltar quando se está quase chegando à outra margem.

Amorzinho, obrigado por tudo que você tem feito por mim e por não ter me abandonado. Te amo.

Isadora atacando de cantora. Campinas, 29/06/2008


As duas no show de lançamento do meu cd no Santa Fé em 31/07/2008


Último dia em Campinas, 08/08/2008


Dani e minha mãe no show de lançamento no Jazz Café em Vitória - ES, 12/08/2008


Eu, Dani, minha irmã Simone, Papai e Nilde. Rio, 16/08/08


Último dia no Brasil. Rio, 17/08/08