domingo, 4 de julho de 2010

Adeus Chicago!



Essa é última vez que escrevo uma Dekalb News, pelo menos com esse nome. Estou no vôo de Chicago para Charlotte, onde pego minha conexão para o Brasil. Vou com o coração partido por deixar um pais que tanto me deu, amigos, uma vida tranqüila, mas ao mesmo vou para o Brasil ficar perto da minha família, de outros amigos e começar minha própria família.

O dia ontem foi longo. Comecei a fazer as malas as 11 da manhã e terminei as 4:30 da matina. Ao longo do dia tive que ir ao Wall-Mart duas vezes malas adicionais, fui na Ax-in-hand comprar minha Fender Telecaster e ainda achei um tempinho pra comprar os últimos presentes pra família. Quando comecei a arrumação estava desanimador; tinha tanta coisa espalhada que nem sabia por onde começar. Fiquei horas só pra decidir o que ia jogar fora ou não, separando papéis, documentos, notas fiscais, etc. O saldo final: 4 malas grandes lotadas até o osso + 5 guitarras e violões + uma mochila.

Pela US Airways, eu posso trazer até 9 volumes adicionais, além dos dois permitidos, e o peso máximo é 32kg. O Brasil é o único pais do mundo que permite isso tudo. No resto do mundo o limite é 23kg. Não tenho a menor idéia da razão pra isso, mas não vou reclamar. Vai ver foi erro de tipografia!

Chegando no aeroporto fui pesar as malas pra ter certeza que estavam dentro do peso, porque senão teria que pagar 2x pra cada uma. Resultado, TODAS acima do peso. Não muito, mas eles são rigorosos com isso. A saída foi usar uma mochila grande que tinha dado pro Patrick e tirar um pouco de cada mala pra aliviar o peso. Bom, eu devo entrar pro Guiness com 5 malas, 4 guitarras despachadas e U$600 em taxas adicionais...

Meus últimos meses nos EUA foram extraordinários. Trabalhei a beça, conheci e convivi com pessoas incríveis. Eu não tenho palavras pra agradecer o quanto as pessoas me ajudaram por aqui e como demonstram estar sentindo a minha saída e tudo mais. Brasileiros como Luciano, Nani, Marcao e Diego. Americanos como Patrick, Pastor Dan, Aaron Fuller, Jack Zara, Nathan Brown."Hispânicos" como Alejandro e Rodrigo, além de tantas outras pessoas. Eu enfrentei muita indiferença aqui no começo, mas no meu último semestre devo dizer que foi bem o oposto.

Eu sou muito grato a tudo o que esse país me proporcionou. Aprendizado, tanto na música como na vida. A oportunidade de conhecer a vida no primeiro mundo, me fazendo valorizar muitas coisas em meu país, mas também abominar outras. Eu me sinto muito diferente hoje. A gente muda, não tem jeito. Eu estou voltando pro Brasil mais forte, mais maduro, mais focado, com certeza do que quero e do que não quero.


Jack Zara


Felipe Fraga, Dill Costa e Marcos Oliveira: Bossa Três


Diego Menezes


Alejandro Fernandez e Rodrigo Villanueva


Rick e Pastor Dan: parece a Seita dos Carecas!


Almoço de despedida com Joel Jupp e família e outros músicos da Igreja Batista de Sycamore


Amirah e Patrick Terbrack. Downtown ao fundo


Nani e Chong no dia da minha formatura


Liberace durante a gravação do CD (Ross, Brian, Sean, Nathan, Júlio e Xavier)


Harvey Lockheart

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O fim da jornada

Minha jornada pelos EUA coincidiu com minha jornada pela série Lost. Quando comecei a assistir Lost, já na terceira temporada, as coisas já se estavam se encaminhando para eu vir pra cá. Lost acabou neste domingo, quando falta pouco mais de um mês pra eu voltar pro Brasil.

Lost deu suas derrapadas e muita coisa ficou sem explicação, mas eu não tenho como negar que me emocionei muito no final, principalmente quando alguns dos personagens se reconheceram na "realidade alternativa" e rolaram curtos "flashbacks" sobre os acontecimentos da ilha. Eu sempre achei que o que fazia de Lost uma grande série não era a parte mística ou científica da série, mas a riqueza das personagens e suas interações.

Agora começo a me despedir dos EUA também. Eu sou muito sentimental e muito apegado a tudo. Pra mim qualquer coisa que envolva perda ou mudança é muito difícil e um dos motivos que me fez decidir por vir foi a necessidade de quebrar meus laços com Campinas e enfrentar meus medos. Não foi fácil, mas eu sentia que precisava fazê-lo, precisava me libertar da minha "necessidade de segurança", se é que isso faz algum sentido. Eu acho que apesar de todas as dificuldades que enfrentei, do custo financeiro e emocional, valeu a pena. Me sinto agora muito mais forte, maduro e pronto pro que quer que seja. Sempre me lembro do que minha amiga Camila diz, "o que não mata, fortalece".

Mas, claro, fico triste também. Cada lugar que eu vou ou cada pessoa que eu encontro eu penso, "caramba, essa pode ser a última vez que estou vendo isso/essa pessoa". Sim, pode ser. Mas ao mesmo tempo eu sinto que depois de ter vivido aqui, isso agora faz parte de mim e eu vou acabar voltando de um jeito ou de outro, mais cedo do que tarde.

Eu me sinto agora que nem o camarada casado que tem uma amante e não sabe com qual das duas vai ficar :) Eu já vislumbro no Brasil muitos aborrecimentos: telemarketing, trânsito, "jeitinho brasileiro", falta de educação, falta de civilidade, político corrupto, violência, etc. Mas também vejo tanta coisa boa: Daniela, Isadora, mãe, pai, irmão, irmãs, sobrinhos/a, amigos, português, piada, City bar, música brasileira, churrasco, picanha, sol, praia, chopp, espontaneidade, improviso, camaradagem, amor pela vida, etc...

Dos EUA vou sentir falta também de muita coisa: jazz de verdade (e aos montes!), jam session, profissionalismo, respeito às leis e ao cidadão, segurança, amigos (sim, fiz alguns!), lago Michigan, Michigan Avenue, big band, liquidação (DE VERDADE!!!), craiglist, pontualidade, organização, trânsito civilizado, coisa barata, carro cheio de botão (e barato!), neve, (só no primeiro mês) falar com a telefonista em trinta segundos, Guitar Center, Ebay, poder devolver qualquer coisa sem precisar dar nenhuma explicação, internet a jato, telefonia celular sem roaming e quase de graça, compra pela internet, sorvete de butter pecan, DVD lançamento na maquininha de 1 dólar, 158 tipos de cerveja, água quente na torneira, mexicano (kkk), loja e restaurante de mexicano, restaurantes e gente de todos os lugares, etc...

Mas não vou sentir falta de: 6 meses de inverno, comida ruim, fast food, carne ruim e cara, Natal só no dia 25 (e na neve), neve (depois de um mês), ano novo na neve, carnaval na neve, só 2 feriados por ano, multa de trânsito, polícia te seguindo depois de sair do bar, café ruim e no copo de papel, talher e prato de descartável em restaurante, TUDO descartável ou congelado, fake politeness, apertar mão de mulher (ao invés de 1-3 beijnhos), ambiente fechado o tempo todo, não poder beber em lugar nenhum, barbecue sem cerveja e picanha, racismo de preto com branco ESCANCARADO, racismo de branco com preto DISFARÇADO, total separação racial, mostrar ID pra entrar em bar, falar inglês, não entender piada, falar tudo duas vezes, ouvir (quase) tudo duas vezes, fingir que entendeu alguma coisa, perceber que o outro fingiu que entendeu, fahrenheit, milhas, pounds, inches e todas essas medidas idiotas que só se usam aqui, americano que acha que o EUA é o único (e o melhor) lugar do mundo (uns 95%), americano que acha que brasileiro fala espanhol (98%), americano que acha que o Brasil é cheio de "animais" (99%), americano (kkkk), moralismo hipócrita, político que diz que o livro preferido é a bíblia (90%), etc...

Mas por mais irônico que possa parecer eu já fui roubado aqui duas vezes! Sim!!! Sexta passada dormi em Chicago e estacionei meu carro na rua e abriram o carro e roubaram meu GPS (já comprei outro por $50!). Tudo bem que uma das portas do meu carro não tranca :) Bom, no Brasil eu não ia deixar um GPS num carro, ainda que ele trancasse! Também não ia deixar de consertar isso, certo?? O outro roubo foi na NIU. Tem uma sala cheia de armários onde muita gente deixa os amplificadores, destrancados em cima dos armários. Well, um fim de semana alguém entrou e levou três amplificadores, incluindo o meu. Nem esquentei tanto, paguei só $100. Fiquei mais puto quando vi que no Brasil tem gente vendendo por R$1000,00... É gozado, porque a gente "acha" que aqui isso não vai acontecer, a gente descuida e como se viu, dá no que dá. Roubo de bicicleta em Dekalb não é raro e em Chicago já ouvi várias histórias de roubos de também, inclusive de carro arrombado, bem ao estilo brasileiro!

Bom, tem muita coisa que quero escrever antes de voltar pro Brasil. Vamos ver se consigo fazer isso a tempo.

sábado, 20 de março de 2010

Gigs em Chicago

Esse ano tem sido muito bom pra mim. Por que o guitarrista do grupo Bossa Três, Ed Gerber foi de férias por dois meses no Brasil, acabei tocando com o grupo por todo esse período, numa média de três vezes por semana. O Bossa Três é um grupo que já atua na região de Chicago há bastante tempo. Isso faz com que eles tenham gigs fixas e/ou regulares e um bom número de fiéis seguidores, brasileiros, hispânicos e americanos. Chicago tem relativamente poucos brasileiros, então quando se frequenta o "circuito brasileiro" vê-se sempre as mesmas caras, quase que nem numa cidade pequena. Os agregados não brasileiros tem um entusiasmo enorme pela cultura brasileira e tentam cantar as letras imitando as palavras e dançam com a maior empolgação mas sem o menor! É um barato de se ver.

Acabei tocando com eles o Reveillon e também o carnaval. Carnaval na neve é um troço que não orna direito.O carnaval aqui nos EUA só rola mesmo em New Orleans, o que eles chamam de Mardi Grass, que vem da tradição francesa. Aqui é um dia como qualquer outro e as poucas festas que rolam são só no sábado. Em Chicago só rolaram duas festas de carnaval, a que toquei a de um outro grupo conhecido aqui, chamado Chicago Samba. O lugar que tocamos não tem qualquer relação com o Brasil e vi gente no bar pedindo caipirinha sem os bartenders terem a menor idéia do que se tratava. Trataram a gente bem aquém do que estava acostumado nos carnavais do Brasil. Não deram comida ou bebida. Como se não bastasse, não nos deixaram entrar com bebida também. Eu estava num daqueles dias em que queria tomar todas, ainda mais que não ia ter que dirigir pra Dekalb, daí comprei uma garrafinha de whisky, mas o segurança frustrou meus planos. Em termos, porque daí deixei a garrafa na caixa de correio e depois no intervalo eu e meu amigo Jack Zara, o baixista da banda, voltamos a matamos a bixinha!!

Em comparação com o Brasil, eu diria que as gigs aqui são bem tranquilas. Primeiro não tem aquela puta zona que nem no Brasil, todo mundo chapado enchendo o saco (pelo menos nas gigs qeu EU fiz). Raramente toquei mais de 3 horas (no Brasil em geral são 4, mas às vezes mais). Muitas vezes toquei menos. Normalmente somos muito bem tratados. Os cachês não são ruins e ainda tem as tips (gorjeta), que algumas vezes quase dobraram meu cachê. Nas gigs solo que fiz ainda sempre vendo cd's. Eu sinto que mesmo tocando em bar ou restaurante, você é quaaase tratado que nem artista, tanto pelo "patrão" quanto pela audiência. Claro que não é sempre assim, mas na média eu diria que sim. A única coisa que me cansa nas gigs aqui é dirigir de volta pra DeKalb... Puta cimento!

Outra diferença é que os grupos são maiores, trio, quarteto, quinteto. Fiz poucas gigs solo. No Brasil o "tar" do violão e voz virou a regra na maioria dos lugares. O cara paga 100 cruzeiro, bota um mané tocando por 4, 5 horas e diz que tem "música ao vivo" e ainda enche o saco do cara pra ele "agitar"! Eu sei porque eu já passei muito por isso. Tá tudo errado. Bixo, eu não entendo porque os caras não encaram a músico como um "algo mais". Bota um grupo pra tocar dois sets de uma hora, sei lá, ou algo assim e tá ótimo. A música apresentada vai ser de uma qualidade melhor já que com um repertório menor dá pra ensaiar, fazer arranjo, etc. Os músicos vão tocar com muito mais energia e o público vai valorizar mais, porque vai ser aquilo ali e acabou. No Brasil o pensamento é "tem que tocar a noite toda senão o nego não vai querer pagar couvert". Eu já tive gerente me enchendo o saco pra voltar depois de 15 minutos de intervalo dizendo que tinha cliente reclamando que não ia pagar couvert. Me poupe!

A verdade é que músico quer ser artista. Uma coisa é ir lá tocar das 6 as 10h. Outra é ir lá fazer o "seu show" por 1 hora ou pouco mais e realmente preparar a tua apresentação. No fundo músico quer ser artista. Ninguém quer fazer nada só pelo $$$, senão a gente seria qualquer outra coisa, advogado, médico, sei lá, qualquer coisa, mas músico não!!!!!!

Terremoto no milharal

Muitos já receberam um email narrando minha primeira experiência com terremoto - se é que dá pra chamar isso de terremoto, depois do que aconteceu no Haiti e no Chile. Aqui não é uma região propícia a terremotos já que não repousa sobre nenhuma falha conhecida. Mas, vez ou outra a terra chacoalha, ainda que sem grandes estragos. Enfim, segue aí a narrativa que escrevi no dia seguinte.


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Nunca tinha ouvido falar de terremoto por essas bandas, mas ontem quando senti a casa chacoalhando por volta das 4 da manhã foi a primeira coisa que me passou pela cabeça. Na verdade, não, primeiro imaginei que alguém estivesse subindo no sotão, mas nem nas festas mais barulhentas que meus roommates já deram eu senti a cama balançando! Daí pensei, "bom, ou é terremoto ou é furacão".

Coincidentemente eu estava acordado. Tinha acabado de chegar de uma gig em Chicago, depois de dirigir por quase duas horas na pior nevasca do ano. O tremor foi coisa de 10 minutos depois que fui me deitar. Foi um tremor leve, de 3.8 que até onde sei não causou nenhum estrago. Eu comecei ouvindo um barulho como que atravessando a casa toda, depois senti minha cama tremendo e quando me leventei pra ver o que era vi que o abajour também estava chacoalhando. Foi bom ter a certeza de ver o abajour, porque eu não sendo, digamos assim, mais tão jovem, já tive diversas experiências onde meus sentidos me traíram, então sempre penso que é o caso e busco uma prova irrefutável! Bom, a prova irrefutável tive mesmo quando acordei no Daily Chronicle e no Chicago Tribune

Muita adrenalina pra um dia só!