sábado, 20 de março de 2010

Gigs em Chicago

Esse ano tem sido muito bom pra mim. Por que o guitarrista do grupo Bossa Três, Ed Gerber foi de férias por dois meses no Brasil, acabei tocando com o grupo por todo esse período, numa média de três vezes por semana. O Bossa Três é um grupo que já atua na região de Chicago há bastante tempo. Isso faz com que eles tenham gigs fixas e/ou regulares e um bom número de fiéis seguidores, brasileiros, hispânicos e americanos. Chicago tem relativamente poucos brasileiros, então quando se frequenta o "circuito brasileiro" vê-se sempre as mesmas caras, quase que nem numa cidade pequena. Os agregados não brasileiros tem um entusiasmo enorme pela cultura brasileira e tentam cantar as letras imitando as palavras e dançam com a maior empolgação mas sem o menor! É um barato de se ver.

Acabei tocando com eles o Reveillon e também o carnaval. Carnaval na neve é um troço que não orna direito.O carnaval aqui nos EUA só rola mesmo em New Orleans, o que eles chamam de Mardi Grass, que vem da tradição francesa. Aqui é um dia como qualquer outro e as poucas festas que rolam são só no sábado. Em Chicago só rolaram duas festas de carnaval, a que toquei a de um outro grupo conhecido aqui, chamado Chicago Samba. O lugar que tocamos não tem qualquer relação com o Brasil e vi gente no bar pedindo caipirinha sem os bartenders terem a menor idéia do que se tratava. Trataram a gente bem aquém do que estava acostumado nos carnavais do Brasil. Não deram comida ou bebida. Como se não bastasse, não nos deixaram entrar com bebida também. Eu estava num daqueles dias em que queria tomar todas, ainda mais que não ia ter que dirigir pra Dekalb, daí comprei uma garrafinha de whisky, mas o segurança frustrou meus planos. Em termos, porque daí deixei a garrafa na caixa de correio e depois no intervalo eu e meu amigo Jack Zara, o baixista da banda, voltamos a matamos a bixinha!!

Em comparação com o Brasil, eu diria que as gigs aqui são bem tranquilas. Primeiro não tem aquela puta zona que nem no Brasil, todo mundo chapado enchendo o saco (pelo menos nas gigs qeu EU fiz). Raramente toquei mais de 3 horas (no Brasil em geral são 4, mas às vezes mais). Muitas vezes toquei menos. Normalmente somos muito bem tratados. Os cachês não são ruins e ainda tem as tips (gorjeta), que algumas vezes quase dobraram meu cachê. Nas gigs solo que fiz ainda sempre vendo cd's. Eu sinto que mesmo tocando em bar ou restaurante, você é quaaase tratado que nem artista, tanto pelo "patrão" quanto pela audiência. Claro que não é sempre assim, mas na média eu diria que sim. A única coisa que me cansa nas gigs aqui é dirigir de volta pra DeKalb... Puta cimento!

Outra diferença é que os grupos são maiores, trio, quarteto, quinteto. Fiz poucas gigs solo. No Brasil o "tar" do violão e voz virou a regra na maioria dos lugares. O cara paga 100 cruzeiro, bota um mané tocando por 4, 5 horas e diz que tem "música ao vivo" e ainda enche o saco do cara pra ele "agitar"! Eu sei porque eu já passei muito por isso. Tá tudo errado. Bixo, eu não entendo porque os caras não encaram a músico como um "algo mais". Bota um grupo pra tocar dois sets de uma hora, sei lá, ou algo assim e tá ótimo. A música apresentada vai ser de uma qualidade melhor já que com um repertório menor dá pra ensaiar, fazer arranjo, etc. Os músicos vão tocar com muito mais energia e o público vai valorizar mais, porque vai ser aquilo ali e acabou. No Brasil o pensamento é "tem que tocar a noite toda senão o nego não vai querer pagar couvert". Eu já tive gerente me enchendo o saco pra voltar depois de 15 minutos de intervalo dizendo que tinha cliente reclamando que não ia pagar couvert. Me poupe!

A verdade é que músico quer ser artista. Uma coisa é ir lá tocar das 6 as 10h. Outra é ir lá fazer o "seu show" por 1 hora ou pouco mais e realmente preparar a tua apresentação. No fundo músico quer ser artista. Ninguém quer fazer nada só pelo $$$, senão a gente seria qualquer outra coisa, advogado, médico, sei lá, qualquer coisa, mas músico não!!!!!!

Terremoto no milharal

Muitos já receberam um email narrando minha primeira experiência com terremoto - se é que dá pra chamar isso de terremoto, depois do que aconteceu no Haiti e no Chile. Aqui não é uma região propícia a terremotos já que não repousa sobre nenhuma falha conhecida. Mas, vez ou outra a terra chacoalha, ainda que sem grandes estragos. Enfim, segue aí a narrativa que escrevi no dia seguinte.


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Nunca tinha ouvido falar de terremoto por essas bandas, mas ontem quando senti a casa chacoalhando por volta das 4 da manhã foi a primeira coisa que me passou pela cabeça. Na verdade, não, primeiro imaginei que alguém estivesse subindo no sotão, mas nem nas festas mais barulhentas que meus roommates já deram eu senti a cama balançando! Daí pensei, "bom, ou é terremoto ou é furacão".

Coincidentemente eu estava acordado. Tinha acabado de chegar de uma gig em Chicago, depois de dirigir por quase duas horas na pior nevasca do ano. O tremor foi coisa de 10 minutos depois que fui me deitar. Foi um tremor leve, de 3.8 que até onde sei não causou nenhum estrago. Eu comecei ouvindo um barulho como que atravessando a casa toda, depois senti minha cama tremendo e quando me leventei pra ver o que era vi que o abajour também estava chacoalhando. Foi bom ter a certeza de ver o abajour, porque eu não sendo, digamos assim, mais tão jovem, já tive diversas experiências onde meus sentidos me traíram, então sempre penso que é o caso e busco uma prova irrefutável! Bom, a prova irrefutável tive mesmo quando acordei no Daily Chronicle e no Chicago Tribune

Muita adrenalina pra um dia só!