Dessa vez o Halloween não empolgou. Não sei se a culpa é da temperatura de 0C, bem abaixo do que fez ano passado, ou se sou eu que estou de saco cheio mesmo. A verdade é que Dekalb deprime a gente. Minhas amigas brasileiras já haviam me avisado. Mas mesmo os americanos dizem isso. Quem vem de outras partes dos Estados Unidos pra cá, também detesta. No começo é muito bonitinho ver esquilinhos, coelinhos, etc, mas depois a realidade aparece, nua e crua, e bem gelada!!!! Falando nisso, esse outubro foi o mais, ou um dos mais frios e chuvosos da história. O tempo bom aqui durou mais ou menos um mês depois que cheguei, e é só. Aqui já fez -3C na segunda semana de outubro, ou seja, pelo menos um mês antes do normal.
Eu e Alejandro tocamos hoje num restaurante de comida árabe novo que abriu aqui. Fomos praticamente de graça pra dar uma força pro dono, que é um grande músico, Omar, percussionista natural da Síria. Mas pra mim foi mais uma desculpa pra não ter que fazer nada que me lembrasse do Halloween, além de testar os novos equipamentos que comprei. Depois fomos no Stanley's. Eu, meio que ingenuamente, achei que lá seria um Halloween light, mas me enganei redondamente, porque eu e Alejandro eramos alguns dos únicos a não usar fantasia. Essa parte das fantasias é até bem divertido, mas meu mau-humor era grande o bastante pra não me fazer apreciar nem mesmo isso. No fundo fico irritado com um bando de estudantes bêbados, gente gritando, e pessoas "super legais", mas só quando estão bêbadas e com quem elas conhecem. Dekalb, definitivamente não é lugar pra alguém como eu, estrangeiro, mais de 30 anos.
Falando em pessoas super legais, ta aí algo que não posso dizer dos meus novos roommates. Prá mim não tem nada que me incomoda mais do que pessoas que são super legais entre si, mas cagam pra quem não faz parte da panela. Estes são meus roommates. Eu decidi ficar na mesma casa porquê o único problema que tive no outro ano foram as inúmeras festas, que aconteciam porquê todos eram amigos. Pensei eu, "bom, o outro grupo vai ser diferente, e isto foi uma coincidência". Pois, de novo, amiguinhos entre si alugaram todos os quartos de baixo (três ao todo). Ramon e a namorada Tera ficam em um, Lewis em um, e Jamie e Eric em outro. Ainda não descobri se o Eric mora aqui meio "escondido", mas presumo que sim. Quer dizer, meu landlord Ray Conley não sabe disso. Se soubesse, eles teriam que pagar uma taxa adicional. Mas não sei na verdade, porque nunca conversei com eles. Em cima, além de mim, moram Allison, uma antipática que faz parte da panela de baixo, Zacharias, que fica aqui só três vezes por semana e raramente vejo e Ann, que foi a única pessoa que conversei, mas com todo respeito, é uma crente caipira que nunca sai do quarto. Me sinto mal falando assim, porque ela é simpática, mas na verdade como todos outros, adota a postura "quanto menos contato, melhor". Ela passa pela casa praticamente correndo, e como os demais, faz sua comida no microondas e leva pra comer no quarto.
A panela debaixo não faz festas com tanta frequência, mas ficam acordados praticamente todos os dias até 4 da manhã, abrindo e fechando portas e falando alto. Quase sempre tem um ou mais amigos bêbados que dormem aqui no sotão. Acordam 2h da tarde e passam o dia jogando vídeo-game e fumando maconha. Não tenho nada a ver com isso, mas fico pensando que tipo de educação eles tem aqui que exige tão pouco deles. O que me deixa puto nisso tudo é a falta de respeito com os demais. Eles fazem a zona que querem, a hora que querem, nunca lavam a louça, convidam milhões de pessoas pra dormir aqui, e não fazem a menor questão de ser simpáticos. Hoje por exemplo acordei desci pra tomar café. Eric, Lewis e Allison estavam conversando na cozinha, e assim que cheguei eles imediatamente sairam e foram pra quarto do Eric (na verdade do Jamie) e trancaram a porta.
Quando a coisa chega nesse nível eu sempre me pergunto o que eu posso ter feito. Eu fiz um esforço pra me comunicar no começo, puxei assunto, etc, mas nunca consegui, salvo raras exceções, mais do que respostas monossilábicas. O Ramon foi o único que fez algum esforço pra ser legal, mas não durou muito. A Allison e Jamie praticamente viram a cara quando estou por perto, às vezes também a Tera. O Eric, talvez pela condição de "agregado" já puxou assunto algumas vezes, e o Lewis ao menos é um gordinho simpático, e sorri pra mim. As vezes acho incrível que a essa altura da minha vida - convenhamos, não sou mais nenhuma criança - esse tipo de coisa ainda me incomoda. Mas me incomoda, e muito. Eu penso que se você mora com alguém, algum tipo de interação é fundamental. A indiferença que sinto nesse país não vem só deles, mas de muitas outras pessoas, como por exemplo o saxofonista da big band que senta bem do meu lado e não diz nem oi. Mas já acostumei, já que ensaiamos 4x por semana. Eu sei que não é pessoal. Tento começar a agir como eles, vou lá, faço minhas coisas, tento não olhar pra ninguém, e converso só quando é imprescindível e fico na minha. Prá mim isso vai muito contra minha natureza, mas preciso aprender a jogar as regras do jogo.
Não quero ser injusto também. Conheci pessoas que tem sido muito legais comigo. Patrick Terbrack é um grande amigo e também Jack Zara, um grande baixista casado com uma brasileira e que tem me dado uma super força. Vou falar mais deles em posts futuros.
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Notícias rápidas. Esse ano começou promissor pra mim. Na minha volta pra cá, logo na primeira semana me comunicaram que faria parte da Liberace, que é o principal combo (banda até 7 membros) da NIU. Isso me dá um status de faculty (professor), já que agora sou oficialmente grad assistant, algo como monitor no Brasil. Sou encarregado do Latin Jazz Ensemble além de ser "obrigado" a tocar onde quer que a Liberace tenha que tocar. Em resumo tenho que "trabalhar" 10h/semana pra universidade, em troca de algum $$$ + a tuition (que já tinha). Mas o mais legal é que toco com os melhores músicos da universidade e somos bastante respeitados por aqui. Além disso fui promovido de big band e agora toco na Jazz Ensemble, a big band top aqui da NIU. Eu acabei fazendo uma boa audition, e também a verdade é que a universidade está carente de guitarristas, o que fez com que eu não tivesse nenhum concorrente de peso. Semana que vem a Jazz Ensemble vai estar em tour com um special guest, Don Braden. Vamos viajar por algumas cidades e fazer o já tradicional concerto semestral no Duke Ellington Ballroom. Vamos ver se escrevo um pouco sobre isso.
Minhas atividades na Oaklawn Academy retornaram faz duas semanas. Tem sido um pouco mais difícil conciliar por causa dos horários da big band, mas estou dando meus pulos. Fora isso tenho feito umas gigs em Chicago com o Luciano e com o Marcão (Marcos Oliveira). Aparentemente consegui minha primeira gig fixa às quintas feiras num pequeno café, o Café Ciao. Não sei se vai vingar porque o lugar é bem pequeno e o movimento não tem sido lá essas coisas... Let's see.
Bom, por hoje só pessoal. Tentarei ser mais assíduo por aqui, vamos ver se consigo. Desculpem meu humor, sei que não está dos melhores. Saudades de vocês, dos amigos, da namorada (agora noiva), de picanha, do calor (humano e climático), da mamãe e de português (o idioma). Take care,
Júlio
Eu e Alejandro tocamos hoje num restaurante de comida árabe novo que abriu aqui. Fomos praticamente de graça pra dar uma força pro dono, que é um grande músico, Omar, percussionista natural da Síria. Mas pra mim foi mais uma desculpa pra não ter que fazer nada que me lembrasse do Halloween, além de testar os novos equipamentos que comprei. Depois fomos no Stanley's. Eu, meio que ingenuamente, achei que lá seria um Halloween light, mas me enganei redondamente, porque eu e Alejandro eramos alguns dos únicos a não usar fantasia. Essa parte das fantasias é até bem divertido, mas meu mau-humor era grande o bastante pra não me fazer apreciar nem mesmo isso. No fundo fico irritado com um bando de estudantes bêbados, gente gritando, e pessoas "super legais", mas só quando estão bêbadas e com quem elas conhecem. Dekalb, definitivamente não é lugar pra alguém como eu, estrangeiro, mais de 30 anos.
Falando em pessoas super legais, ta aí algo que não posso dizer dos meus novos roommates. Prá mim não tem nada que me incomoda mais do que pessoas que são super legais entre si, mas cagam pra quem não faz parte da panela. Estes são meus roommates. Eu decidi ficar na mesma casa porquê o único problema que tive no outro ano foram as inúmeras festas, que aconteciam porquê todos eram amigos. Pensei eu, "bom, o outro grupo vai ser diferente, e isto foi uma coincidência". Pois, de novo, amiguinhos entre si alugaram todos os quartos de baixo (três ao todo). Ramon e a namorada Tera ficam em um, Lewis em um, e Jamie e Eric em outro. Ainda não descobri se o Eric mora aqui meio "escondido", mas presumo que sim. Quer dizer, meu landlord Ray Conley não sabe disso. Se soubesse, eles teriam que pagar uma taxa adicional. Mas não sei na verdade, porque nunca conversei com eles. Em cima, além de mim, moram Allison, uma antipática que faz parte da panela de baixo, Zacharias, que fica aqui só três vezes por semana e raramente vejo e Ann, que foi a única pessoa que conversei, mas com todo respeito, é uma crente caipira que nunca sai do quarto. Me sinto mal falando assim, porque ela é simpática, mas na verdade como todos outros, adota a postura "quanto menos contato, melhor". Ela passa pela casa praticamente correndo, e como os demais, faz sua comida no microondas e leva pra comer no quarto.
A panela debaixo não faz festas com tanta frequência, mas ficam acordados praticamente todos os dias até 4 da manhã, abrindo e fechando portas e falando alto. Quase sempre tem um ou mais amigos bêbados que dormem aqui no sotão. Acordam 2h da tarde e passam o dia jogando vídeo-game e fumando maconha. Não tenho nada a ver com isso, mas fico pensando que tipo de educação eles tem aqui que exige tão pouco deles. O que me deixa puto nisso tudo é a falta de respeito com os demais. Eles fazem a zona que querem, a hora que querem, nunca lavam a louça, convidam milhões de pessoas pra dormir aqui, e não fazem a menor questão de ser simpáticos. Hoje por exemplo acordei desci pra tomar café. Eric, Lewis e Allison estavam conversando na cozinha, e assim que cheguei eles imediatamente sairam e foram pra quarto do Eric (na verdade do Jamie) e trancaram a porta.
Quando a coisa chega nesse nível eu sempre me pergunto o que eu posso ter feito. Eu fiz um esforço pra me comunicar no começo, puxei assunto, etc, mas nunca consegui, salvo raras exceções, mais do que respostas monossilábicas. O Ramon foi o único que fez algum esforço pra ser legal, mas não durou muito. A Allison e Jamie praticamente viram a cara quando estou por perto, às vezes também a Tera. O Eric, talvez pela condição de "agregado" já puxou assunto algumas vezes, e o Lewis ao menos é um gordinho simpático, e sorri pra mim. As vezes acho incrível que a essa altura da minha vida - convenhamos, não sou mais nenhuma criança - esse tipo de coisa ainda me incomoda. Mas me incomoda, e muito. Eu penso que se você mora com alguém, algum tipo de interação é fundamental. A indiferença que sinto nesse país não vem só deles, mas de muitas outras pessoas, como por exemplo o saxofonista da big band que senta bem do meu lado e não diz nem oi. Mas já acostumei, já que ensaiamos 4x por semana. Eu sei que não é pessoal. Tento começar a agir como eles, vou lá, faço minhas coisas, tento não olhar pra ninguém, e converso só quando é imprescindível e fico na minha. Prá mim isso vai muito contra minha natureza, mas preciso aprender a jogar as regras do jogo.
Não quero ser injusto também. Conheci pessoas que tem sido muito legais comigo. Patrick Terbrack é um grande amigo e também Jack Zara, um grande baixista casado com uma brasileira e que tem me dado uma super força. Vou falar mais deles em posts futuros.
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Notícias rápidas. Esse ano começou promissor pra mim. Na minha volta pra cá, logo na primeira semana me comunicaram que faria parte da Liberace, que é o principal combo (banda até 7 membros) da NIU. Isso me dá um status de faculty (professor), já que agora sou oficialmente grad assistant, algo como monitor no Brasil. Sou encarregado do Latin Jazz Ensemble além de ser "obrigado" a tocar onde quer que a Liberace tenha que tocar. Em resumo tenho que "trabalhar" 10h/semana pra universidade, em troca de algum $$$ + a tuition (que já tinha). Mas o mais legal é que toco com os melhores músicos da universidade e somos bastante respeitados por aqui. Além disso fui promovido de big band e agora toco na Jazz Ensemble, a big band top aqui da NIU. Eu acabei fazendo uma boa audition, e também a verdade é que a universidade está carente de guitarristas, o que fez com que eu não tivesse nenhum concorrente de peso. Semana que vem a Jazz Ensemble vai estar em tour com um special guest, Don Braden. Vamos viajar por algumas cidades e fazer o já tradicional concerto semestral no Duke Ellington Ballroom. Vamos ver se escrevo um pouco sobre isso.
Minhas atividades na Oaklawn Academy retornaram faz duas semanas. Tem sido um pouco mais difícil conciliar por causa dos horários da big band, mas estou dando meus pulos. Fora isso tenho feito umas gigs em Chicago com o Luciano e com o Marcão (Marcos Oliveira). Aparentemente consegui minha primeira gig fixa às quintas feiras num pequeno café, o Café Ciao. Não sei se vai vingar porque o lugar é bem pequeno e o movimento não tem sido lá essas coisas... Let's see.
Bom, por hoje só pessoal. Tentarei ser mais assíduo por aqui, vamos ver se consigo. Desculpem meu humor, sei que não está dos melhores. Saudades de vocês, dos amigos, da namorada (agora noiva), de picanha, do calor (humano e climático), da mamãe e de português (o idioma). Take care,
Júlio
2 comentários:
Pô... tô sem muito o que dizer...
...força aí! Paciência... e se pá, abandona a república e procura um canto só teu...
Abraço!
PS. Parabéns pelo noivado!
Hehe, valeu! Meu contrato aqui me deixa um pouco amarrado... Mas sou um cara forte! rs abs!
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