quarta-feira, 18 de novembro de 2009

NIU Jazz Ensemble Tour - Don Braden




Semana passada, minto, retrasada, fiz minha primeira tour com a big band da NIU. Como já havia dito antes, fui "promovido" e agora toco na big band top aqui, a Jazz Ensemble. A NIU tem 3 big bands, a Jazz Ensemble, a Lab Band, que fiz parte ano passado e a All-University Jazz Band. Os músicos são teoricamente escolhidos por auditions e qualquer estudante pode participar, sem necessariamente ser music major. É muito comum alunos de outras áreas tocarem nessas big bands. Claro que em geral não são os músicos de maior calibre, mas vez outra aparece um farmacêutico ou engenheiro dando conta do recado.

Como também já havia dito em um post passado, as big bands fazem parte da cultura americana e toda high-school, e mesmo junior schools têm big bands. Muita gente que não tem a menor pretensão de ser músico profissional participa dessas bandas, como acontece também com grupos de teatro, times de futebol e outros esportes e assim por diante. Eu acho isso muito legal, porque isso gera um cultura de arte. São essas pessoas que no futuro e mesmo agora, vão consumir arte, prestigiando apresentações, comprando cd's e mais adiante incentivando os filhos a fazerem o mesmo.

A Jazz Ensemble faz um tour todo semestre letivo, sempre com algum convidado especial, em geral um grande nome do jazz. Esse semestre o convidado não foi nenhum nome muito conhecido, como foram, por exemplo, recentemente Benny Golson e Curtis Fuller, nomes importantes na história do jazz. Mas Don Braden é um grande saxofonista e arranjador, e foi inspirador tocar com um músico do naipe dele.

A tour basicamente se restringe a high schools, que foi onde Ron Carter fez história. Ah claro, o nosso diretor (ou maestro, regente, líder, coach???), Ron Carter (não confundir com o baixista homônimo!) é uma pessoa extraordinária. Ele fez fama nos anos 70/80 após fazer uma high school obscura (East St. Louis Lincoln High School) num bairro violento de maioria negra em St. Louis, MO ganhar por anos sucessivos os campeonatos de big bands nos EUA. O que ele fez de tão especial? Resgatou as origens negras do jazz. Trouxe de volta o swing e o blues. Nos anos 70, as big bands tocavam basicamente rock e funk, de certa forma esquecendo as suas origens. Prof. Ron Carter trouxe isso de volta.

Prof. Carter no entanto não é unimidade. Ele é extremamente autoritário, de certa forma grosso, para os padrões americanos e radical, focando sua música essencialmente na escola de Count Basie. Ele frequentemente humilha alunos que não alcançam suas expectativas e diz na cara dura pra eles, "You suck son!" (algo como você é uma bosta!) Mas mesmo eu, que tive meus desentendimentos com ele, após algumas besteiras que ele falou sobre música brasileira, sou um grande fã do Ron Carter. No que diz respeito ao jazz, ele realmente sabe do que está falando. Ele transforma radicalmente um big band em coisa de meia hora. Ele é extremamente específico e diz com detalhes para cada seção da banda (seção rítmica, trompetes, trombones e saxofones) o que eles tem de fazer pra melhorar e "swingar". Sim, Ron Carter faz até sua avó swingar. Ele tem autoridade sim, porque conhece cada partitura que rege de trás pra frente. Ele sabe o que quer ouvir da banda o como conseguir isso. Ele tem um senso de humor absurdo e eu rolo de rir com seus gestos, suas danças, suas piadas, suas mímicas, etc. Falem o que quiser, eu sou fã do homem. Ele é um dos melhores professores que eu já tive e eu aprendi muito com ele. Eu fiquei super empolgado quando passei na audition para o Jazz Ensemble porque eu sabia que com ele eu iria aprender alguma coisa.

Voltando à tour. O que basicamente fizemos foi visitar algumas high schools, dar clínicas para as big bands e fazer concertos à noite. Chegamos a ir pra estados vizinhos como Wisconsin e Iowa, mas realmente não vi nada além das high shcools. Diga-se de passagem, acho que não temos nada assim no Brasil. As high schools que visitamos são de alto nível, com teatros, puta equipamento de som, tudo muito lindo. Sim, coisa de primeiro mundo.

Na quinta (4/11) fizemos o já tradicional, concerto semestral da Jazz Ensemble no Duke Ellington Ballroom no Holmes Student Center. É um concerto importante. Todos os velhinhos de Dekalb comparecem. Assim como muitas personalidades e estudantes da NIU.

Mr. Don Braden é um músico extraordinário. Tive a impressão que ele estava melhor a cada noite. Eu, como parte da seção rítmica (além de baixo, bateria e piano) tocava com ele também nos seminários para as high schools. Foi um experiência e tanto.

Nosso último dia foi numa igreja no south side de Chicago, área negra da cidade. Duas big bands estavam presentes, uma 100% negra e outra quase 100% latina. Isso representa bem a questão de segregação da cidade, já que os alunos tem que frequentar a escola mais próxima de suas residências. Foi uma energia muito bacana. Nos ambientes de participação mais afro-americana, existe muita interação, aplausos, gritos, etc. Foi realmente bem emocionante.

Infelizmente eu talvez tenha que abrir mão da big band próximo semestre por conflitos de horário com a escola que dou aula (Oaklawn). Como vai ser meu último semestre aqui, talvez tenha que priorizar $$$ dessa vez. Mas ainda é algo a ser decidido. Bom, já falei demais. Grande abraço a todos!

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Nota de último minuto. Hoje foi confirmado que dentro de um mês receberei a visita da minha noiva Daniela. Chorei de emoção, de verdade. Não podia esperar presente de Natal melhor que esse. Tem coisas que o dinheiro realmente não compra. (Mas pra todas as outras tem Mastercard!).

Vizinhança em Lake Geneva, WI


Eu e Don Braden

Eu e prof. Carter

Galera no ônibus

2 comentários:

Edmilson disse...

Julio: aqui tá um calor infernal. Legal sua "excursão" com a Ensemble. Como seria bom se por aqui tivéssemos algo semelhante. No colégio (anos 60) eu tive aulas de música, mas era muito pobres - uma professora (esforçada) e um piano. A classe só cantava.
Notícia triste por aqui foi o
Santa Fé que fechou. Mas vem aí o Almanaque (com 3 sócios do Bons Tempos - Caco, Elder e Newtinho)que deve ser inaugurado ainda este ano e fica quase em frente ao Santa Fé.
Abs.
Edmilson.

Julio Caliman disse...

Grande Edmilson, bom receber noticias suas. Aqui a educação musical é bem valorizada mesmo, e quase todas as escolas tem, não só big bands, mas orquestras, wind ensembles e marching band, sem falar nos musicais que são realizados anualmente tbm. Fiquei sabendo do Santa e fiquei bem triste, ainda que fosse algo que já estávamos esperando. Fica ai um grande abraço!